Rei Arthur, o renascer de um personagem lendário

Eu nunca esperei que eu pudesse gostar tanto deste Rei Arthur: A Lenda da Espada como acabei gostando.

Não é por nada não, afinal Guy Ritchie nunca me desapontou, mas desde as primeiras divulgações de trailers do filme eu não conseguia ver como seu estilo “londrino sujo” pudesse ornar em uma obra capa e espada repleta de criaturas fantásticas, com uma fotografia cinzenta, lutas de rua e um protagonista típico de suas outras películas, mas que não me remetia de jeito nenhum ao rei dos reis, de uma das mais famosas lendas.

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Por sorte, eu estava completamente enganado. Charlie Hunnam entrega um Arthur absurdamente carismático, criado em prostíbulo, esperto e encrenqueiro, que fala a língua das ruas, portanto desde sempre entende como ninguém seu próprio povo. E esse perfil, mais cuidadoso com o outro e intrinsecamente humilde (ainda que pilantra) e menos galã barato clichê, colabora pra gerar empatia no público imediatamente. O detalhe de relacionar seu gatilho com base em flashbacks mal resolvidos do passado super batido (o irmão que trai o rei em nome do poder), ajuda na escalada natural do personagem até sua inevitável ascensão, ainda que ela ocorra de um jeito completamente novo. Afinal, estamos falando de um filme de Guy Ritchie.

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Por isso mesmo, o que poderia ser estranho pra caramba, acabou funcionando muito acima da média. Além dos efeitos especiais realmente impressionantes (dos mamutes colossais as bolas de fogo) e de um elenco afiado com clima real de irmandade (de Djimon Hounsou a Kingsley Ben-Adir e Neil Maskell, em ótima química), temos aqui um autêntico “filme de roubo com capa e espada”, mas troque diamantes pela Excalibur e o conceito de roubo por uma recuperação por direito e o efeito funcional é exatamente o mesmo. Sem perder a personalidade, o diretor novamente imprime seu DNA numa obra improvável, com aquela sua edição cool e vertiginosa (o crescimento de Arthur é explicado e compreendido em poucos minutos, de maneira bastante divertida), trazendo frescor ao gênero fantástico, acompanhado de uma produção suntuosa, de cenários grandiosos, figurino poético entre uma baixa Londres do período da Revolução Industrial com o plebeu medieval típico, e uma trilha sonora absurdamente envolvente, cheia de batuques, violinos e acordeões, num inspiradíssimo trabalho de Daniel Pemberton, que contribui bastante para o ritmo do enredo.

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A vontade como sempre, Jude Law aqui faz jus ao seu vilão Vortigern, de viés trágico e shakespereano, responsável pelos melhores momentos de fantasia na trama, em seu envolvimento com forças obscuras dos lagos para chegar onde quer, ao mesmo tempo sendo responsável pela construção do herói e seu maior algoz: Arthur. As cenas de batalha impressionam, principalmente no mano a mano, incluindo aí o virtuoso clímax, que se nivela ao de Mulher-Maravilha (com figuração vilanesca semelhante inclusive), onde vemos todo o potencial da Excalibur numa pegada videogame que super combina com a proposta descolada do filme.

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Rei Arthur: A Lenda da Espada é um filmaço que me fez reascender a esperança no que Ritchie poderá fazer com o live-action de Aladdin da Disney. A Jornada do Herói está ali, agora embalada numa bela edição MTV, com um personagem lendário que torcemos para vencer. Recomendo.

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