Renfield – Dando o Sangue Pelo Chefe
O clássico no analista
Renfield (Nicholas Hoult) é o fiel servo do Conde Drácula (Nicolas Cage) há séculos, e suas tarefas incluem levar vítimas para que o vampiro se alimente. Em troca, Renfield recebe uma força sobrenatural e uma aparente vida eterna.
Quando Renfield e Drácula passam a viver nos Estados Unidos dos dias de hoje, o servo começa a se perguntar se essa é a vida que ele quer mesmo levar, questão que só aumenta depois que ele conhece a policial Rebecca Quincy (Awkwafina).
Renfield – Dando o Sangue Pelo Chefe usa os personagens de Drácula, de Bram Stoker, mas dá novas interpretações a eles.
A reabilitação de Renfield
É interessante que o filme escolha justamente Renfield, o servo de Drácula, como seu protagonista, uma vez que a maioria dos filmes prefere retratar figuras mais imponentes, como o próprio Drácula – que é o vampiro mais famoso da ficção e que delimitou boa parte da mitologia da criatura -, ou o famoso caçador de vampiros, Abraham Van Helsing. Renfield, na maioria das adaptações e no próprio livro de Stoker, é retratado como uma figura patética que obedece ao Drácula tão cegamente que acaba se tornando um vilão também.
Renfield – Dando o Sangue Pelo Chefe segue outro caminho. Não que o Renfield do filme seja uma figura tão impressionante assim, ele ainda é um personagem um tanto quanto miserável, mas ele não tem mais ares de vilão. No longa, Renfield já segue o Conde Drácula por todos os lugares há muito tempo, segundo ele mesmo diz, os dois são obrigados a se mudarem constantemente, e eles acabam nos Estados Unidos de 2023. Drácula, que recentemente foi atacado por um padre, está se recuperando e cabe a Renfield lhe trazer vítimas. O servo então, passa por uma crise de consciência.
Renfield não só não quer mais levar pessoas inocentes para Drácula – ele até tenta levar criminosos, mas Drácula não gosta do sangue deles -, como também passa a frequentar um grupo de ajuda para pessoas codependentes, no maior estilo “o vampiro no divã”. A trama não só recupera a figura de Renfield, antes tratado como um vilão maluco, como também traz essa trama atemporal para os dias de hoje.
Uma comédia de terror
Outro ponto interessante de Renfield – Dando o Sangue Pelo Chefe é que o filme é uma comédia de terror. É verdade que o longa tem bem pouco de terror, o gênero fica mais por conta do tema e da inspiração, que é um dos maiores romances da literatura gótica de todos os tempos. A comédia é o que reina aqui e é justamente o que é interessante.
Existem tantas interpretações de Drácula no cinema e na televisão, inclusive outras que pendem para a comédia, como acontece em Drácula, Morto mas Feliz, que é interessante assistir uma versão do personagem que seja completamente debochada.
O longa mesmo não se leva totalmente a sério, Renfield é um homem miserável, mas ele é um homem miserável que faz piada de si mesmo na narração em voz over. Já Drácula acredita que é a figura imponente de séculos atrás, mas ele é uma criatura meio decrépita. Rebecca, a policial que investiga os crimes na cidade, também tem trejeitos divertidos, ainda que seja uma idealista que deseja mudar a polícia. Até a máfia que domina a cidade é retratada com luzes cômicas, pois Teddy Lobo (Ben Schwartz), o herdeiro da família, é um trapalhão que não consegue realizar uma missão e que vive dando carteirada pela cidade.
Aspectos técnicos de Renfield – Dando o Sangue Pelo Chefe
Esta não é exatamente uma adaptação de Drácula, é mais uma modernização dos personagens de Stroker, mas a ideia nem é que esses personagens sejam sérios, a ideia é fazer piada com o clássico. Como é natural, já que a obra original foi publicada em 1897, muita coisa presente lá já não faz muito sentido e aqui a ideia é analisar a relação de Drácula com Renfield, seu servo, pelos padrões de hoje. O conceito rende boas risadas.
O longa aposta em cores fortes, as roupas são todas em tons bem espalhafatosos, que fazem contraste com as peles bem brancas de Renfield, que tecnicamente é uma pessoa que não morre, e Drácula, que é um vampiro. O filme é repleto de momentos engraçados, mesmo porque o tema por si só causa essa estranheza, que pode rapidamente virar comédia, como por exemplo, Renfield indo ao grupo de autoajuda para contar da sua relação tóxica com Drácula, ou ele engolindo insetos para ativar seus poderes. A graça é justamente esse choque entre o antigo mostrado no livro de Stroker, e o novo, que fica por conta do que vemos no filme.
Renfield – Dando o Sangue Pelo Chefe usa de alguns artifícios bem interessantes, como no começo quando Renfield conta rapidamente como ele virou o servo de Drácula e vemos cenas em preto e branco, com um Drácula caracterizado do jeito mais clássico possível e esses momentos parecem tirados diretamente de uma adaptação antiga de Drácula. Além disso, as atuações também são boas, e ajudam na comédia do filme, Nicholas Hoult e Awkwafina se saem muito bem e tem um bom timing para comédia, e Nicolas Cage está ótimo como Drácula, justamente porque parece disposto a fazer piada não só do personagem, mas também de si mesmo.
Renfield – Dando o Sangue Pelo Chefe é um filme que usa do terror para fazer comédia e se destaca porque, pelo menos, dá uma interpretação diferente e divertida de um clássico que já foi adaptado tantas vezes. O resultado é um filme que entretém e que arranca boas risadas do público e, ainda assim, mantém elementos da obra em que se inspira. Renfield chega aos cinemas no dia 27 de abril.