Sonhos Partidos, de M.O. Walsh
Sinopse: Baton Rouge, capital do estado da Louisiana, nos Estados Unidos, é uma cidade conhecida por seus churrascos no jardim, tardes quentes de verão, barris de cerveja gelada e muitos fãs de futebol americano. Mas no verão de 1989, quando Lindy Simpson, uma das garotas mais bonitas do bairro e estrela das pistas de corrida, é estuprada perto de casa, fica claro que os subúrbios bucólicos de Baton Rouge também têm um lado obscuro.
Para uma vizinhança tão pequena, os suspeitos do crime são muitos. Entre eles o narrador da história, um adolescente obcecado por Lindy que mora na casa em frente à da garota. E é por meio de suas lembranças que somos levados a entender como términos de relacionamentos, culpa e amor podem transformar a vida de maneiras irreversíveis.
Combinando o encantamento da infância com a história de um crime violento, em uma prosa perturbadoramente bela, M. O. Walsh analisa os momentos do passado que afetam de forma mais profunda a vida adulta. Uma estreia excepcional que combina suspense com reflexões filosóficas sobre memória, humanidade e verdade.
Fonte: Amazon
A primeira coisa que me chamou atenção em Sonhos Partidos foi que a sinopse falava sobre uma investigação. Como boa fã de suspenses e thriller, eu estou sempre a procura de livros que tenham um mistério que eu mesma possa (tentar) desvendar.
No caso desse livro, a investigação se foca em um estupro, onde a vitima, uma adolescente, não só não viu quem era seu agressor, como também tomou um banho assim que chegou em casa.
O narrador da história é o vizinho da garota que sofreu o estupro, que também é obcecado pela menina. E esse é um dos pontos mais interessantes do livro: a pessoa que está nos contando a história, o ponto de vista que nós estamos lendo é um dos suspeitos.
Durante a leitura, nós nunca temos certeza absoluta de que ele está falando a verdade ou simplesmente nos afastando cada vez mais dela.
A principal influência do autor é o livro As Virgens Suicidas, de Jeffrey Eugenides, e isso fica mais do que claro para quem já leu os dois livros, embora não seja nem um pouco incomodo. Os dois livros se passam em uma cidade pequena dos Estados Unidos, em um verão, onde um garoto idealiza uma (ou cinco, no caso de As Virgens Suicidas) garota bonita e popular.
Justamente pelo livro ser escrito do ponto de vista do vizinho e em primeira pessoa, o autor também aproveita o tema para falar sobre a vida, o amor, a amizade, e as relações das pessoas no geral. Essa é o outro ponto extremamente interessante do livro, em algum momento, você começa a se preocupar com cada personagem daquela cidadezinha.
Lindy, a garota que sofre o estupro, aparece no livro quase como uma Deusa, a garota bonita e popular que mora na casa ao lado, mas que nem olha para o narrador. A personagem dela quase não é desenvolvida, o que por um lado, pode ser um pouco ruim, porque seria ótimo de fato conhecer Lindy e saber como ela se sentiu naquele verão, mas também é uma idéia que faz todo o sentido, já que para o narrador, Lindy é uma garota inalcançável, que ele só admira a distancia.
Nós testemunhamos, não só esse garoto, mas também a cidade inteira, investigar e falar sobre o estupro a exaustão. A idéia do autor de deixar claro desde o começo que não existe nenhuma evidência física do estupro, já que Lindy tomou banho logo depois do ocorrido e que portanto, seria impossível desvendar o caso dessa maneira, deixa tudo mais misterioso e é uma ótima técnica para desenvolver a história.
Como eu disse no começo do texto, o que chamou a minha atenção quando eu li a sinopse foi a possível investigação, mas o que me fez gostar tanto desse livro foi a prosa do autor que é tão bonita que me fez chorar nos capítulos finais.
Sonhos Partidos é um livro delicado e bonito, que usa de uma tragédia, capaz de abalar uma cidade inteira para falar de amor, família e amizade.