Retrato de Uma Jovem em Chamas – Festival MixBrasil
Com algumas exceções extremamente nobres (por exemplo, o maravilhoso desenho animado Big Mouth), toda obra que trata sobre a sexualidade aborda o tema de forma sutil e delicada. O filme francês Retrato de Uma Jovem em Chamas ainda eleva esse desafio ao situar a história em algum momento do século XVIII – ou XIX, já que o filme não coloca rótulos, nem data e local.
A atriz Noémie Merlant, que é uma mistura francesa de Emma Watson com Daisy Ridley, interpreta Marianne, uma pintora que é contratada por uma duquesa viúva (Valeria Golino) para pintar um quadro de sua filha (a da duquesa, não a sua) Héloïse (Adèle Haenel). Porém, o retrato deve ser feito sem que a retratada saiba que está sendo pintada, já que ela não parece ser muito fã de exposição, nem conta no Instagram tem, não tem foto no perfil de Facebook, enfim, é uma mulher bem discreta.
Retrato de Uma Jovem em Chamas – Só a mulherada
Escrito e dirigido por Céline Sciamma, o resultado final é uma obra puramente feminina. Com a adição da criada Sophie, o filme foca 99,98% do tempo em mulheres. Elas dominam o filme, são independentes e fortes – nada surpreendente, eu sei, mas considerando que é uma história que se passa mais de 100 anos atrás, é um mérito muito grande do roteiro conseguir explorar isso sem que soasse forçado ou “lacrador”.
Aliás, o roteiro, premiado como o melhor do festival de Cannes deste ano, é cuidadoso e majestosamente delicado. O relacionamento entre as personagens principais nasce naturalmente, sendo quase inevitável. Ajuda a mão leve da direção que faz cada carícia, interação, cada troca de olhar parecer um gesto de amor incontrolável, o que também é mérito da dupla de atrizes principal, evidentemente.
Minimalismo
Retrato de Uma Jovem em Chamas é uma obra minimalista ao extremo. Na maior parte do filme são apenas quatro personagens, três vestidos, uma meia dúzia de cenários e duas músicas (bem marcantes). Tão minimalista que a side-story de Sophie, a criada, parece estar sobrando no roteiro e soa como desnecessária, podendo ser excluída em troca de dez minutos a menos de filme – ou a mais de Héloïse e Marianne.
Mas a história principal segue fantástica até suas últimas cenas. Como todo bom roteiro, ele amarra elementos que pareciam gratuitos em um final extremamente bem executado, também em questões de direção. Porque, além de ser sobre amor, o filme também é sobre arte e a sua capacidade em despertar memórias e emoções. Sejam pinturas, música ou o cinema.
O filme faz parte da programação do Festival MixBrasil de Cultura da Diversidade 2019 e entra em cartaz nos cinemas em janeiro de 2020.