O Único e Eterno Rei, série de T.H. White
A versão mais famosa das lendas Arthurianas
O Único e Eterno Rei é uma série focada na vida de Rei Arthur. Começamos acompanhando Arthur criança, quando ele ainda é conhecido como Wart e acabou de descobrir sua verdadeira herança real. Ele então, começa a fazer um treinamento com Merlin. Mais tarde passamos a acompanhar seu reinado, seu casamento, sua relação com Lancelot e a criação da távola redonda.
O Único e Eterno Rei é composto por cinco livros (A Espada na Pedra; A Rainha do Ar e das Sombras; O Cavaleiro Imperfeito; A Chama ao Vento e O Livro de Merlin) e é uma das séries de livros mais conhecidas sobre a lenda Arthuriana.
A infância de Arthur
O primeiro livro da série, A Espada Na Pedra, é focado na educação de Arthur. Como em boa parte das lendas Arthurianas, Arthur foi criado fora da corte, para que ele crescesse humilde e se tornasse um grande rei. Quando ele retira a espada da pedra, ele começa a estudar com Merlin.
No livro acompanhamos as lições de Merlin junto com Arthur. E não só absorvemos a sabedoria do mago, mas também lemos sobre momentos extremamente divertidos. Algumas das cenas mais legais acontecem quando Merlin e Arthur se transformam em bichos diferentes, como uma maneira de Arthur se colocar no lugar de cada uma dessas criaturas. Pressupõe-se que a partir do momento em que ele sabe como é a vida de outras pessoas e criaturas, ele tem maior capacidade de exercer um cargo de poder.
Nessa versão da lenda, o personagem de Merlin tem uma característica a mais. Ele consegue viajar no tempo e por isso, sabe tudo o que vai acontecer. Essa ideia de que o mago saiba o futuro aparece em outras lendas, mas se resume basicamente a questões referentes ao reino de Camelot. Nos livros de White, Merlin sabe coisas sobre o mundo no geral. O mago faz referências a invenções criadas muito tempo depois. E até a Hitler, a quem White era assumidamente contrário.
Política
A série O Único e Eterno Rei quer contar a história de Rei Arthur, mas o faz de uma maneira bem diferente e o autor inunda o livro de alegorias políticas. Enquanto Arthur se transforma nos mais variados animais, durante seus estudos com Merlin ele também aprende sobre variados tipos de regimes. Por exemplo, quando Arthur se torna um peixe, ele aprende sobre a monarquia.
Mais tarde, quando Arthur se torna rei, ele passa a querer experimentar esses regimes sobre os quais aprendeu quando criança. Ele vai testando então um de cada vez. E constata, em primeira mão, o que dá e o que não dá certo em cada um deles.
Infelizmente, cada sistema que Arthur testa acaba trazendo à tona o pior que existe nos seus cavaleiros e saindo de maneira completamente diferente da que Arthur tinha pensado.
Leia sobre O Menino que Queria ser Rei
O Único e Eterno Rei também é um furioso manifesto anti-guerra. A Espada na Pedra, o primeiro livro da série, foi publicado em 1938, um pouco antes do começo da segunda guerra mundial. Através da figura de Merlin – o homem mais sábio da corte – White diz com todas as letras que embora a humanidade se sinta naturalmente atraída pela guerra, ela deve ser evitada a todo custo. E que a guerra só é justificada quando ela pode evitar um mal ainda maior.
Quando se torna rei, Arthur adota uma política que faz exatamente isso: evita guerras o máximo possível, o que na idade média, período em que o livro se passa, quer dizer muita coisa. Quando entra em guerra, o rei intenta que morra o menor número de pessoas possível. São essas pequenas características que fazem de Arthur um personagem (até onde se sabe) tão importante e que tem sua história contada até hoje.
Lancelot
Lancelot, o primeiro cavaleiro da corte, é sempre uma figura importante nas lendas Arthurianas. Ele é o melhor cavaleiro de Arthur e em muitas versões, é considerado o melhor amigo do rei. Mas ele também é, em parte, responsável pela queda de Arthur. Isso porque Lancelot se apaixona perdidamente por Guinevere, a esposa de Arthur. Lancelot então, se sente dividido entre a lealdade que sente pelo rei e o amor que sente pela rainha, e naturalmente, culpado.
O Lancelot de White, no entanto, é um pouco diferente das outras versões. O personagem é descrito na maioria das versões como o cavaleiro mais corajoso de Arthur e o mais bonito. Ele é considerado o homem mais bonito da corte. Na versão de White, Lancelot é um homem feio, que é descrito como deformado.
A versão de White torna Lancelot um tanto quanto sombrio. Ele é solitário e quer dedicar a sua vida para servir o rei. Além disso, ele se tortura o tempo todo por causa de seu amor, tanto a Guinevere, quanto a Arthur. Ele está bem longe da ideia de cavaleiro que nós temos na cabeça. Se auto deprecia e almeja um mérito quase impossível.
O polêmico segredo de Lancelot
Para White, Lancelot guarda um segredo dentro de si, que causa grande vergonha. Por notar isso, ele precisa compensá-la se tornando o cavaleiro mais nobre da corte. O próprio autor não revela em seus livros qual seria o grande segredo de Lancelot, embora se lido no subtexto, a gente possa interpretar que o amor romântico de Lancelot não seja pela rainha, mas sim pelo rei e essa seja uma ideia que se repita em outras obras que abordam as lendas Arthurianas, como As Brumas de Avalon, onde Lancelot fala que ama a rainha apenas porque ele é casada com Arthur. Esse sim seria, na época em que o livro se passa, um grande segredo que poderia causar uma grande vergonha, ainda mais para o melhor cavaleiro da corte.
É interessante pensar que White era homossexual, embora nunca tenha assumido isso e tinha tendências ao sadismo, mas renegava bravamente as duas coisas. O autor inclusive resolveu treinar falcões com a esperança de que assistir esses animais caçarem fosse satisfazer suas tendências sádicas e se recusava a bater em seus alunos na sua época de professor, mesmo que essa fosse uma prática comum.
O paralelo entre White e Lancelot é muito claro. Ambos guardam segredos, sentem vergonha sobre isso e estão tão conscientes disso, que tentam compensar o que consideram defeitos. Lancelot, se tornando o maior cavaleiro do mundo; e White, criando falcões e evitando dar vazão aos seus impulsos, mesmo que isso fosse permitido.
Adaptações de O Único e Eterno Rei
É natural que uma obra tão importante quanto essa ganhasse diversas adaptações. Logo depois que A Espada na Pedra foi publicado, ele foi adaptado para um programa de rádio, destinado às crianças. Em 1960, os dois primeiros livros da série inspiraram o musical Camelot, que narra a história de Arthur. Mais tarde, Camelot virou um filme que conta com Richard Harris e Vanessa Redgrave no elenco.
Em 1963, O Único e Eterno Rei ganhou sua adaptação mais famosa: o desenho da Disney, A Espada Era a Lei. O filme é focado no primeiro livro e narra os ensinamentos de Merlin, mas diferentemente do livro de White, é mais focado nas partes divertidas. A Espada Era a Lei mantém várias das cenas que aparecem no livro, como Arthur e Merlin transformados em peixes e sua vilã, Madame Mim.
O livro foi mais uma vez adaptado para o rádio, mais recentemente, em 2014. A série recebeu citações nos quadrinhos dos X-men e Homem Aranha. Posteriormente, ela foi citada nos filmes da série X-men, Bobby e foi inspiração para o filme Cavaleiros de Aço.
Considerações finais
Se As Crônicas de Artur, de Bernard Cornwell é a versão mais realista da vida de Arthur, O Único e Eterno Rei é, possivelmente, a versão mais famosa da lenda. Muito da ideia que se faz hoje da história de Arthur, como a cena em que ele retira a espada da pedra, por exemplo, é oriunda da obra de White.
O Único e Eterno Rei é um livro indispensável para quem quer conhecer mais a fundo as lendas Arthurianas, mas também pode agradar a qualquer um que se interesse por política.