Shiva Baby – Uma comédia de erros inteligente
Danielle (Rachel Sennott) é uma jovem estudante que mantém um relacionamento sexual com seu “sugar daddy”, Max (Danny Deferrari), e que esconde tudo isso da família judia.
Até o dia em que ela vai a um shiva, uma cerimônia tradicional judaica, e dá de cara não só com Max, mas também com a esposa dele, Kim (Dianna Agron), a filha deles, e com sua ex-namorada, Maya (Molly Gordon).
Enquanto tenta se esquivar de Maya e esconder sua relação com Max, Danielle ainda precisa lidar com as cobranças e as pressões dos pais e dos amigos deles.
Relacionamentos
Shiva Baby é, em muitos aspectos, uma comédia de erros, onde as coisas constantemente dão errado para Danielle, mas boa parte dessas coisas tem a ver com seus relacionamentos românticos e sexuais. Danielle é, por si só, uma personagem bem interessante e diferente, ela é uma jovem universitária, judia e bissexual, que ainda é sustentada pelos pais, mas que mesmo assim mantém uma relação sexual com um sugar daddy, que acredita que a sustenta.
Além disso, ela tem uma ex-namorada, que é sua amiga de infância e que frequenta as mesmas festas que ela, por quem Danielle ainda sente alguma coisa. O shiva que Danielle vai com os pais (Fred Melamed e Polly Draper) é o momento onde todas essas histórias se encontram.
Primeiro ela encontra Molly, a ex, que é, aos olhos de todos, perfeita, depois ela é apresentada ao seu sugar daddy por seus pais, que acreditam que ele pode ajudá-la a arrumar um emprego e, não muito depois, ela descobre que ele tem uma esposa e uma filha bebê. Só isso já seria suficiente para que o shiva se tornasse bem constrangedor, mas é claro que ainda tem muita coisa para acontecer.
Shiva Baby então, começa a apresentar situações cada vez mais constrangedoras, que vão culminando em picos de ansiedade de Danielle. A premissa do filme parece ser: imagine tudo que pode deixar uma festa de família terrível e multiplique isso por cem.
Vidas separadas
O filme também retrata com precisão as diversas vidas que uma mesma pessoa vive e isso acontece com boa parte dos personagens da trama. Para seus pais, Danielle é uma estudante que trabalha como babá e que ainda não pode se manter sozinha. Eles sabem da relação com Maya, mas não fazem ideia que ela mantém uma relação com um homem mais velho que, supostamente, paga as contas dela. Para Max, Danielle de fato é sustentada por ele, mas quando chega ao shiva, ele descobre que, na verdade, os pais dela também lhe dão dinheiro.
Max também é um personagem que tem dois lados: Danielle não sabe que ele é casado e acha que o apartamento onde eles se encontram é de Max, mas na festa ela descobre que Max não tem nada e que tudo pertence a Kim. Por outro lado, os pais de Danielle acham que Max é um modelo de marido e pai ideal, enquanto ele mantém um caso com a protagonista. Kim, aos olhos de Danielle e das outras pessoas presentes na festa, é uma mulher linda e bem arrumada, que cuida da filha e trabalha, mas conforme o tempo passa, percebemos que Kim não é tão segura de si assim, e sabe pouco sobre a cultura judaica e, por isso, desagrada Max e a família dele.
Até Maya tem dois lados: para a família e os amigos, ela é perfeita, estudante nota dez, com uma carreira pela frente, mas pouca gente sabe de seu romance com Danielle.
Amadurecimento
Shiva Baby também é um filme sobre o amadurecimento de Danielle. A estudante universitária pretende se especializar em teorias feministas, e sua formação é uma questão séria, que ela valoriza, mas sua família, embora a apoie, não consegue entender o que exatamente ela estuda e nem o que ela vai fazer da vida depois de formada. As outras pessoas no shiva então, duvidam que o diploma de Danielle terá alguma utilidade no futuro.
A sua especialização é o tempo todo comparada com a especialização de Maya, estudante de direito, que, na visão da família e dos amigos, já está com o futuro garantido. Assim como o comportamento das duas jovens, já que Maya é simpática, discreta e educada e Danielle sempre parece mal-humorada, irônica e quieta.
Danielle diz para os pais que trabalha como babá, mas que seu dinheiro não é suficiente para bancar o apartamento onde mora, por isso, seus pais arcam com essas despesas. Max, no entanto, acredita que é ele que banca o apartamento de Danielle.
Danielle é uma pessoa adulta, e tenta se virar como tal, mas não consegue. Ela não tem dinheiro o suficiente para pagar seu apartamento e, em contrapartida, ela tem atitudes que ainda são muito infantis, como por exemplo, mentir para seus pais e para Max. O embate entre todas as parcelas de sua vida no shiva, no entanto, é um mais um passo que ela dá em direção a sua vida adulta.
Aspectos técnicos de Shiva Baby
O que temos aqui é, de fato, um filme muito simples em seus aspectos técnicos, o que faz até um contraste com seu roteiro inteligente e bem pensado. Boa parte do longa se passa em um único cenário: a casa onde o shiva está acontecendo. A ideia não só deixa o filme mais barato, como também dá uma sensação claustrofóbica que funciona muito para o tema.
Os closes no rosto de Danielle, que é sempre vista suando e cada vez mais nervosa, e a casa escura e repressiva, cheia de pessoas, dão o tom perfeito a essa trama onde a protagonista é exposta a todos os seus segredos e contradições e não pode fugir de nada disso.
Shiva Baby é uma comédia, mas tem cortes e trilha sonora de thriller. Os cortes rápidos, que vão do rosto apavorado de Danielle para o que ela observa na festa e os sons agudos e fortes, dão esse tom ao filme. A situação toda é de fato muito engraçada, mas para Danielle e alguns dos envolvidos, tudo é muito assustador e o filme se mantém bem entre esses dois sentimentos: o riso e o medo.
Rachel Sennott se sai muito bem no papel de Danielle e consegue transmitir todas as nuances da personagem, mas o elenco todo está muito afinado e entrega boas atuações. Shiva Baby é um filme engraçado, mesmo que não seja uma comédia no sentido mais tradicional da palavra, que também aborda temas sérios e questões com as quais é possível se reconhecer.