Simonal, a cinebiografia de Wilson Simonal

Simonal acompanha a carreira e a vida de Wilson Simonal (Fabrício Boliveira) desde o inicio, até sua queda após a acusação de ser delator da ditadura militar.

O filme começa já com o cantor sendo rechaçado em um show. Então, volta no tempo para o espectador poder entender como ele chegou a esse ponto. O longa não se preocupa em apresentar a infância ou a juventude do artista. Já parte logo para o comecinho de sua carreira, quando Simonal cantava em um grupo de Doo-Wop e foi descoberto por Carlos Imperial (Leandro Hassum). Ele se torna então, assistente de Imperial no seu programa de rádio, tomando o lugar de Erasmo Carlos.

Fabrício Boliveira como Wilson Simonal
Fabrício Boliveira como Wilson Simonal

Não demora muito para que Wilson comece a cantar suas próprias músicas e a fazer sucesso. Óbviamente, o filme não pode falar de todos os momentos da vida do cantor. Por isso, o diretor escolheu dar ênfase a alguns pontos. A carreira de Simonal é um deles, afinal, é o mais importante. Assim como seu relacionamento com Tereza (Isis Valverde).

Racismo

Não existe nenhuma manifestação concreta do racismo que Simonal, certamente, sofreu, mas esse é um assunto que permeia boa parte do que assistimos. Conforme vai ficando famoso, ele se torna um dos grandes músicos do Brasil e acaba ofuscando outras pessoas. Além de famoso, o cantor era um homem negro, de origem humilde, que ficou muito rico. Ele tinha uma mansão, muitas Mercedes (como ele mesmo pontua no filme) e uma esposa loira em plenos anos 60.

Simonal e a esposa, Tereza
Simonal e a esposa, Tereza

É impossível dizer que Simonal não sofreu racismo. Muitas pessoas apontam a cor da sua pele como o principal motivo por ele ter sido rechaçado mais tarde. No entanto, o diretor Leonardo Domingues parece não querer entrar nesse mérito. O filme apresenta apenas uma cena em que um jornalista d’O Pasquim faz uma pergunta um tanto quanto infeliz e que desagrada o artista durante uma entrevista. Isso parece mais uma justificativa para a futura perseguição ao músico que O Pasquim iria alimentar ao longo dos anos.

Há também uma cena em que Simonal diz que o seu erro não foi perdoado como o de Elis Regina (que cantou nas Olimpíadas do Exército) porque ele era negro. Certamente o racismo e o poder que Simonal exerceu em uma sociedade extremamente racista são pontos importantes da história, e que poderiam ter sido mais abordados no filme.

O filme não fala diretamente sobre racismo
O filme não fala diretamente sobre racismo

Simonal e a ditadura

Outro ponto de extrema importância na vida e na carreira do cantor foi a ditadura militar. Simonal é retratado como um homem que tem pouco interesse em política e que, diferentemente de muitos músicos da época, não parecia interessado em usar a sua arte para falar sobre o regime militar. O próprio Simonal diz que seu interesse é apenas levar música e alegria para as pessoas e que ele não se envolve em política, mas em tempos tão obscuros e extremos como os anos 60, isso já era por si só, um crime.

É bom ressaltar que ele não foi o único músico em atividade no período militar que não falava sobre politica ou tomava lados. Roberto Carlos, Erasmo Carlos (a sua cinebiografia, Minha Fama de Mau nem toca no assunto) e Os Mutantes também não tiveram envolvimento com política e nenhum deles ficou tão marcado ou foi tão punido quanto Wilson.

A caracterização é impecável
A caracterização é impecável

Segundo o filme, apesar de não querer tomar lados, em determinado momento da vida, Simonal começa a se interessar em falar sobre racismo, o que inevitavelmente o leva ao DOPS. Mas o que poderia ser um desastre acaba se tornando uma ocasião corriqueira. Ele faz amizade com Santana (Caco Ciocler), um agente do DOPS. Mais tarde, quando precisa se vingar de seu contator (Bruce Gomlevsky), Simonal não hesita em pedir ajuda do amigo influente para resolver a sua situação. É aí que a sua vida degringola.

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Pode- se dizer muitas coisas sobre as ações de Simonal e certamente pessoas diferentes terão opiniões diferentes, mas o filme não quer dourar a pílula ou passar a mão na cabeça do seu biografado. O longa poderia muito facilmente passar direto por esse período obscuro e terrível da vida do artista, mas não o faz e nem tenta justificar o erro do cantor e esse é o grande triunfo da obra.

Simonal no começo de carreira
Simonal no começo de carreira
Aspectos técnicos de Simonal

Este é um filme que, obviamente, exigiu uma grande produção. A pesquisa de época fica clara nas cenas, os figurinos são muito bonitos e a caracterização é bem feita. Em alguns momentos, vemos os personagens usando roupas idênticas aos biografados. Isso é extremamente importante em uma cinebiografia, especialmente uma onde os atores não são tão parecidos com os retratados.

No caso de Simonal, no entanto, isso pode não saltar aos olhos, já que o músico não é tão conhecido nos dias de hoje. O filme é bem amarrado e entretêm o público. Também se mostra bem corajoso, quando trata de assuntos que até hoje são espinhosos, como o suposto envolvimento de Simonal com a ditadura. Por outro lado, o filme não aborda esse assunto a fundo. É verdade que a trama admite o principal erro da carreira (e da vida) do músico, mas talvez faça isso para tentar tirar de vez das costas dele o rótulo de delator, que ninguém nunca conseguiu provar ou refutar.

Carlos Imperial e Simonal
Carlos Imperial e Simonal

Mas, à sua maneira, o filme ainda é muito atual, já que retrata um período de opiniões tão divididas quanto hoje. Assim, faz os próprios espectadores questionarem o que eles fariam se estivessem no lugar das pessoas que apontaram dedos e bateram portas na cara de Simonal, no lugar das pessoas que o ajudaram e no lugar do próprio.

As músicas

Naturalmente, a trilha sonora é composta pelas músicas do próprio Wilson Simonal. Entre elas estão Lobo Bobo, Mamãe Passou Açúcar em Mim, Vesti Azul, Meu Limão, Meu Limoeiro, Nem Vem Que Não Tem e Tributo a Martin Luther King. Elas são apresentadas apenas no palco ou em sessões de gravações. O ator Fabrício Boliveira não canta nenhuma delas, ele apenas dubla.

Isis Valverde como Tereza
Isis Valverde como Tereza

O filme também faz uma ligação direta com outras cinebiografias de músicos recentes como Elis e Minha Fama de Mau e perde uma grande chance de usar os mesmos atores em todos os filmes, criando assim um universo compartilhado que seria interessante.

Muita coisa pode ser dita sobre Wilson Simonal, mas é impossível negar seu talento. Talvez ninguém nunca consiga desvendar o que de fato aconteceu e qual é a culpa dele (ou se houve alguma). Mas é importante que sua história seja contada e que novas gerações tomem conhecimento dela. Simonal entra em cartaz no dia 8 de agosto.

Simonal

Nome Original: Simonal
Direção: Leonardo Domingues
Elenco: Fabrício Boliveira, Isis Valverde, Caco Ciocler, Leandro Hassum, Mariana Lima
Gênero: Drama, Biografia, Musical
Produtora: Forte Filmes, Globo Filmes
Distribuidora: Downtown Filmes
Ano de Lançamento: 2018
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