The Assassination of Gianni Versace
Segunda temporada de American Crime Story
Com enxertos narrativos, este retrato do caso real de Gianni Versace supera qualquer documentário a respeito.
Continuando a série de antologia American Crime Story (que começou com o excelente The People v. O.J. Simpson), esta temporada explora o assassinato do icônico estilista Gianni Versace pelas mãos de Andrew Cunanan, ocorrido em 1997. A série foi baseada no livro “Vulgar Favors: Andrew Cunanan, Gianni Versace, and the Largest Failed Manhunt in U.S.“, de Maureen Orth, lançado em 1999. Mas apresenta uma nova estrutura narrativa, diferentemente da primeira temporada, que começava do crime para o futuro (com eventos de julgamento).
O assassinato de Gianni Versace
Aqui, a história começa com os tiros e depois vai voltando no tempo, gradativamente, fazendo com que cada episódio dê mais um salto para trás. Uma linguagem ousada, precisa em suas intenções, mas que ao mesmo tempo sofre de ritmo durante a tentativa.
Afinal, a estrutura não-linear também executa inúmeros anti-clímax durante os 9 episódios. Acompanhando o último e principal crime (o de Versace), voltamos no tempo nos capítulos seguintes, que vão costurando a história e dando significado a ela. Um exercício engenhoso de roteiro, que não visa justificar os assassinatos de Cunanan, mas desnudar sua vida do início ao fim. E é justamente nessa ousadia, que a princípio a estrutura da série possa cansar um espectador mais acostumado ao básico ou desavisado.
O que esperar desta temporada?
Depois de compreender a proposta da produção, toda trama faz sentido. Entende-se então a sábia escolha invertida, em uma dramaturgia rica sobre o assassino. Portanto, não espere qualquer biografia do estilista, ainda que alguns momentos de sua vida sejam pontuados. O mesmo pode ser dito de outras vítimas de Andrew, que tem um background bem explorado, ainda que de maneira inédita. Afinal, primeiro os vemos morrer, para depois os conhecermos. O que pode parecer estranho num primeiro momento, se mostra valoroso com o passar dos episódios.
O produtor e criador Ryan Murphy foi mais uma vez certeiro na escolha do elenco, que não só esbanja talento em tela, como também guarda impressionantes semelhanças com suas contrapartes reais. Darren Criss é bastante parecido com Cunanan (além de entregar uma performance desesperada por atenção, de ira contida, compulsivamente mentirosa e manipuladora, e com muita afetação). Mas Edgar Ramírez é assombrosamente um duplo exato de Versace. Penélope Cruz brilha como sempre e Ricky Martin surpreende em seu primeiro grande papel de destaque.
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O roteiro, baseado tanto no livro quanto em investigações do caso, é um retrato bastante fiel e sensível do caso. Aborda todas as figuras de maneira cuidadosa, aproveitando lacunas (como diálogos entre vítimas e algoz, que ninguém nunca testemunhou) para elaborar enxertos criativos bastante convincentes, a medida que faz um importante tratado sobre homofobia, em uma época onde a questão ainda não era tão debatida e acaba sendo o ponto focal do enredo.
Afinal, Versace enquanto gay assumido, era amado pelo mundo. Por outro lado, Andrew (criado pra ser especial pelo seu pai), sempre notou ser renegado por todos. Por isso viu no estilista um tipo de ídolo e arqui-inimigo natural, em um mosaico complexo que a série tenta desvendar como pode. Cunanan, afinal, queria matar por inveja e por crueldade. Tira de todas suas vítimas improváveis seus direitos de serem melhor sucedidos que ele. Mas é importante lembrar que o assassino não se encaixa como um serial-killer, apesar de ser tachado assim até os dias de hoje.
The Assassination of Gianni Versace: American Crime Story é uma série precisa e fiel. Aborda temas de maneira sensível, com rica dramaturgia que vai te conquistar aos poucos, enquanto revela a gênese e o apocalipse de um homem que nascera para ser qualquer coisa acima de excelente. O que mais provavelmente não seria esquecido. “Depois de mim, a destruição”.
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