The Ballad of Buster Scruggs, irmãos Coen na Netflix
Os irmãos Coen estão de volta e realizam sua primeira produção na Netflix, The Ballad of Buster Scruggs! Dessa vez com uma antologia de seis curtas de faroeste, costurados em um longa com mais de duas horas, da melhor qualidade.
The Ballad of Buster Scruggs
É importante ressaltar que as histórias de natureza episódica são desprovidas de propósito ou mensagens muito profundas. Todas tem desfechos trágicos, algumas pendendo para o humor negro, outras mais melancólicas. Suas vertentes são variações de tramas típicas de western, com a assinatura dos irmãos diretores mais queridos de Hollywood.
Suas particularidades são notáveis das sequências filmadas ora favorecendo o cenário, ora fechadas sobre os personagens. Mas também contemplativa, com uma fotografia belíssima. Roteiro preciso e diálogos que funcionam em suas respectivas histórias, encorpados por um elenco brilhante e uma trilha sonora que assoma sobre a obra de maneira nauseante.
Os curtas
A começar pelo conto que dá nome ao filme, vemos um caricato e impagável Tim Blake Nelson com uma construção de personagem que é todinha à moda de Lucky Luke. Sua linguagem narrativa é retirada diretamente dos Looney Tunes. Com tanta violência gráfica, que fariam Tarantino e Sam Raimi aplaudirem de pé afinal. Principalmente pelo desfecho cômico, quase um desenho animado.
A seguir, vemos James Franco (que no filme faz dois papéis distintos) subestimar um banqueiro e as consequências – quase – improváveis disso. A terceira história é extremamente arrastada e cansativa, mas justifica sua morosidade com um conto melancólico. Assim colocando pai e filho (Liam Neeson incrível como sempre, e Harry Melling – que você deve se lembrar por Duda Dursley) vivendo no meio oeste através da teatralidade, até o dia que as moedas diminuem e uma galinha surge em seu caminho.
Elenco de primeira
O ritmo lento também é característico do intimista quarto curta, sobre a corrida do ouro. E mais uma vez se faz necessário dentro da narrativa proposta de colocar um velho sobre um campo. Tom Waits está extremamente à vontade. Sua afetação na fauna local e sua obsessão pelo bolsão de ouro, que como todas as demais tramas, fornece um desfecho inesperado. Ainda que aqui provavelmente tenha sido o mais agridoce.
Afinal, logo em seguida, acompanhamos uma moça (Zoe Kazan impressiona em seu papel contido e respeitoso) sendo levada de cidade em cidade com uma grande diligência. Com seu destino residindo nas próprias mãos, quase um esboço romântico entre tanta mortandade.
O último enredo fecha com chave de outro essa produção suntuosa e inspirada, colocando uma senhora entre dois homens. Um francês representando o lado refinado da vida, e um velho que simboliza o lado bruto. De frente a duas outras figuras extremamente carismáticas (que brilham nas encenações de Jonjo O’Neill e Brendan Gleeson), com uma carruagem que segue sua jornada imparável rumo ao destino que espera por todos nós, no curta mais fabulesco dos seis e que fecha as porteiras antes da subida dos créditos.
Inspirado por contos de Jack London e Stewart Edward White, além de outras narrativas do meio oeste, The Ballad of Buster Scruggs até pode carecer de ritmo, mas se compreendido como um ensaio e tributo às produções western, pode ser completamente bem aproveitado. Estamos falando dos Coen e eles, mais uma vez, não desapontam. A sessão merece ser revisitada mais vezes, aliás.