The Batman
E lá vamos nós acompanhar uma nova tentativa de um novo começo de um novo universo do velho Batman. Dessa vez, sem muita firula, direto e seco, chamado apenas de “The Batman”, sem subtítulo nem nada. Uma raridade para quem está acostumado com o “Cavaleiro das Trevas”, “Eternamente”, ou “Feira da Fruta”. Mas fica aí o questionamento se nas referências futuras a este filme vamos chama-lo de “Batman do Robert Pattinson” ou “Batman do Matt Reeves”.
The Batman de Matt Reeves
Para começar, há de se exaltar o trabalho do diretor Matt Reeves. O novo filme do Batman é tenso, ousado, pesado, tenebroso, denso. São adjetivos não muito usados em filmes de herói (apesar de que estamos melhorando nisso). Ele tem um jeitão de filme de suspense, dava pra arriscar que foi dirigido pelo David Fincher. É quase um Zodiac no qual o detetive principal curte uns fetiches de vestir roupa de couro e capa.
Essa temática permite exaltar uma característica clássica do homem-morcego que sempre acabou sendo deixada meio de lado: ele é, acima de tudo, um detetive. As caçadas por bandidos são menos viscerais e mais focadas em seguir uma pista depois da outra. É claro que colocar um vilão como o Charada ajuda muito. Nesse ponto, o filme fica melhor legendado e sacar os trocadilhos das charadas é bem legal. Mas a versão brasileira teve um time de localização bem dedicado, adaptando os enigmas como possível e inclusive traduzindo material em tela: pichações e conversas em telas estão em português.
A pegada noir do filme ainda é fortalecida com a mais gótica das Gothams. A cidade soa mais real do que nunca, e a gente passa pela Times Square de Gotham, pelos centros comerciais, pelas áreas industriais e até pela cracolândia. A única ressalva é que a cidade está claramente passando por uma crise elétrica e todas as lâmpadas tiveram sua luminescência reduzida pela metade.
Batman de Robert Pattinson
Honestamente, eu acho o menino Pattinson um baita dum ator. Eu não assisti Crepúsculo e isso deve ajudar, mas muitos anos já se passaram, não dá mais pra julgar o cara pelo vampiro que brilha.
Até mesmo porque o Batman dele é a coisa mais perto de um vampiro que ele já interpretou: um ricaço fã de morcegos que vive em um palácio gótico com um mordomo dedicado e que foge do jeito que consegue da luz do sol. Pattinson traz um Batman emo, exausto, esperto e recluso e com uma atuação que transborda pela máscara.
O time ao redor ajuda, com Jeffrey Wright mandando bem de Comissário Gordon e Zoë Kravitz entregando a melhor versão da Mulher Gato. Colin Farrel é um Pinguim irreconhecível e bem divertido. Seguindo o estilo estabelecido pelo Nolan, nada é muito caricato, tudo o que acontece tenta manter um pézinho na realidade, o que é sempre um desafio quando se trata de um milionário que se veste de morcego pra sair batendo em bandido.
Parece muito personagem e é mesmo, mas todo mundo tem seu papel e seu espaço. E ninguém parece exatamente muito deslocado porque o verdadeiro inimigo do Batman durante todo o filme é bem claro desde o começo.
Batman do Charada
O Charada é o grande vilão do filme e ele é tão bem explorado que deixa a gente pensando por que ele não tinha sido usado antes (com exceção, é claro, da versão cartunesca de Jim Carrey em “Batman Eternamente“, mas eram outros tempos). Ele é um perfeito contraponto ao instinto de investigação do Batman e seus objetivos entram em conflito com os objetivos do herói, que se auto declara “a vingança”.
Se há um defeito muito grande no vilão é em colocar uma máscara em cima do excelente Paul Dano durante todo o filme. Fica a vontade de ver mais da cara estranha do ator, que domina a tela nas poucas cenas em que sua fuça aparece.
The Batman de três horas
É isso: um bom vilão, coadjuvantes marcantes e um protagonista bem construído, sem a necessidade de uma história de origem. Ainda bem, se tem duas coisas que eu não aguento mais ver no cinema é origem do Batman e o Coringa. O filme tem um ato final meio fraco em comparação com os dois primeiros atos que são excelentes, lindos e bem montadinhos.
Fora isso, o filme é muito longo. Muito mesmo, são três horas de filme e você realmente sente as três horas, elas te consomem e nem é vontade de ir ao banheiro. Se eu fosse assisti-lo pelo streaming, eu começaria a ver na segunda e só terminaria no sábado, mandaria até mensagem pro Pablo Villaça mostrando o filme pausado.
É cansativo, mas é bom: não é um filme que você vai querer ver todo final de semana, mas é um filme que vale a pena ser visto.