The Girl From Plainville
Inspirado em um caso real
Depois que Conrad Roy III (Colton Ryan) se suicida, seus advogados descobrem que ele trocava mensagens com Michelle Carter (Elle Fanning), uma namorada que nem sua família e nem seus amigos conheciam. Enquanto Michelle se aproxima da mãe de Conrad, Lynn (Chloë Sevigny), o conteúdo das mensagens dela começa a soar cada vez mais perturbador, já que Michelle parece ter incentivado o namorado a se matar.
The Girl From Plainville é inspirado em um caso real.
O caso real
The Girl From Plainville é mais uma série que se inspira em casos reais e o de Michelle Carter é ainda mais surreal do que se pode imaginar.
No dia 12 de julho de 2014, Conrad Roy III, de dezoito anos, morreu depois de inalar monóxido de carbono. Seu corpo foi encontrado dentro do seu carro, no estacionamento de um Kmart, em Fairhaven, Massachusetts. Sua morte foi considerada suicídio, pois Conrad era depressivo e já tinha tentado se matar anteriormente.
Logo se descobriu que ele não só tinha uma namorada que ninguém conhecia, como eles também trocavam mensagens com frequência e sempre se ligavam. O nome dela era Michelle Carter, na época ela tinha dezessete anos, e morava em Plainville, uma cidade próxima de Fairhaven. Ela também tinha tido uma série de problemas com ansiedade, depressão e anorexia.
Logo que soube da morte de Conrad, Michelle se comportou como uma jovem viúva, chorou, foi ao velório e começou a organizar eventos em memória ao namorado, o que já chamou a atenção da polícia, já que ela fez o evento na cidade dela e não na de Conrad. Não demorou para que descobrissem uma troca de mensagens entre Conrad e Michelle onde ela não só incentiva o namorado a seguir em frente com seus planos de suicídio, como também o mandou voltar ao carro no dia de sua morte.
Michelle Carter foi condenada por homicídio involuntário e sentenciada a dois anos de prisão, mas logo sua pena foi reduzida para quinze meses e ela acabou só cumprindo onze meses. Ela saiu da cadeia em janeiro de 2020, mas ainda está em liberdade condicional.
Do romance a tragédia
O subgênero do true crime já se estabilizou no cinema, nas séries e especialmente em documentários e existe um vasto material para ser explorado, mas alguns crimes reais chamam a atenção por motivos diferentes e esse é o caso da história de Michelle Carter e Conrad Roy. A história é muito trágica, mas também muito escandalosa.
Michelle e Conrad se conheceram em 2012, enquanto ambos passavam férias com a família na Flórida. Eles saíram algumas vezes e quando voltaram para suas cidades natais, passaram a trocar mensagens e fazerem ligações, mantendo uma espécie de relacionamento à distância, embora o namoro não fosse assim tão sério, já que tanto Conrad quanto Michelle se interessavam e, eventualmente, saiam com outras pessoas. Além disso, ninguém além dos dois sabia desse relacionamento, nem os pais de Michelle, nem os pais de Conrad e nem os amigos dos dois adolescentes.
O caso de Michelle Carter chama a atenção justamente porque tem esse ar de Romeu e Julieta moderno, onde esse casal, supostamente apaixonado, namora escondido, e combina uma espécie de pacto de suicídio, mas existe mais coisa por debaixo de tudo isso: tanto Michelle quanto Conrad lutavam com a ansiedade e com a depressão, Conrad já tinha tentado suicídio anteriormente, e Michelle já tinha tratado sua anorexia. Além disso, Michelle tinha muita dificuldade para fazer amigos e queria chamar atenção a todo custo, o encontro de Michelle e Conrad então, é como juntar fogo e gasolina.
A mente maligna de Michelle
Outra coisa que atrai atenção do público para o caso é o fato de uma adolescente de dezessete anos ter sido capaz de induzir seu namorado ao suicídio, e ter, aparentemente, planejado isso, e a série brinca com isso o tempo todo: Michelle é realmente essa mente maligna?
The Girl From Plainville se divide entre o que acontece depois que Conrad morre e alguns flashbacks que nos mostram, por exemplo, como os dois se conheceram, o primeiro encontro deles e as mensagens que os dois trocavam – que aparecem na tela durante as cenas. E nesses momentos, Michelle mostra os seus dois lados: a adolescente que quer ter amigas e deseja atenção e a jovem que é capaz de induzir seu namorado ao suicídio para que ela, finalmente, tenha a atenção que almeja.
A série vai até mais fundo, explorando o mundo de Michelle, uma adolescente que praticamente implorava para que fosse convidada para festas e eventos, viciada em Glee e obcecada pela morte do protagonista, Cory Monteith, e como esse evento real foi adicionado a série e com uma possível paixonite por Susie Pierce (Pearl Amanda Dickson), uma de suas poucas amigas. É interessante como a atração estabelece esse universo completamente adolescente, ao mesmo tempo que apresenta essa personagem obviamente perturbada e cruel em muitos aspectos.
Ao mesmo tempo, The Girl From Plainville acompanha também a vida de Conrad, filho de pais divorciados, tão solitário quanto Michelle, com ansiedade social, depressão e um histórico de suicídio, que já planeja há muito tempo tirar a própria vida, e que talvez só precisasse de um incentivo.
É impossível defender Michelle Carter, mas o que The Girl From Plainville ao menos tenta fazer é dar vários pontos de vista para o que aconteceu.
Aspectos técnicos de The Girl From Plainville
A minissérie tem o desafio de retratar acontecimentos reais, mas por outro lado, o caso de Michelle Carter é tão absurdo que de fato rende bons momentos para a série, ainda que muito trágicos. A atração se sai muito bem quando retrata o lado de Michelle e o lado de Conrad, afinal de contas, parece necessário entender o que exatamente aconteceu, mesmo que a explicação seja inalcançável para boa parte da audiência.
A série também passeia por alguns gêneros, sendo obviamente um suspense que retrata um crime real, mas uma história tão triste quanto essa também é um drama, e existe uma fagulha de romance no relacionamento distorcido de Michelle e Conrad. The Girl From Plainville mergulha fundo na mente de Michelle Carter, explorando até as fantasias da garota, em uma das cenas, que acontecem exclusivamente na cabeça dela, ela e Conrad cantam e dançam como os personagens de Glee. A ideia parece ser compreender Michelle e o que ela fez, mas é praticamente impossível entender completamente o que acontece na mente de uma adolescente que induz seu namorado ao suicídio.
A série ganha demais com as atuações, todo o elenco está muito bem em cena e parece completamente imerso no seu personagem. Colton Ryan e Chloë Sevigny estão ótimos, mas o grande destaque é de Elle Fanning, que não só está muito parecida com Michelle Carter fisicamente, como também imita os trejeitos dela com perfeição. Além disso, ela se sai muito bem nas mudanças de personalidades da personagem, de adolescente comum e sofrendo pela morte do namorado a uma pessoa cruel e fria.
The Girl From Plainville é interessante porque retrata um acontecimento real que é quase surreal, mas também por isso, é difícil assistir a série e não se incomodar com o que vemos em cena, porque tudo é pesado e triste. Apesar disso, The Girl From Plainville é uma ótima produção, que mostra os dois lados de uma situação terrível e incompreensível.