The House
The House traz três fábulas creepy reunidas em um longa em stop-motion. A produção é assinada por Enda Walsh e conta com figuras feitas de feltro, ao redor de uma casa, que fala sobre ambição, obsessão, adaptação e consequências bizarras, com uma direção de arte memorável (e um visual que evoca imediatamente O Fantástico Sr. Raposo, de Wes Anderson), em um ritmo moroso, sim, mas embutido de significados e um surrealismo pra lá de bem-vindo.
A começar pelo primeiro segmento, dirigido pela dupla Emma de Swaef e Marc James Roels, mostrando a origem da casa em um período remoto, habitada por uma família humilde, a convite do arquiteto e artista que a concebeu. Aqui, viver de aparências é levado às últimas consequências. Retirados de seu chalé simples e com promessas de grandeza, a família vai se separando entre os cômodos e sendo devorada pela mentira pouco a pouco.
O segundo conto, dirigido por Niki Lindroth von Bahr, subsitui os humanos por ratos antropomórficos — ou que se passam por humanos, mas sabemos que não são (pragas per se), situando a narrativa no presente, com um empreiteiro que faz de tudo para vender a mesma casa, agora infestada de insetos. Logo, a casa também fica infestada por outros ratos, que vão se assomando sobre cada canto. Os títulos de cada episódio já direcionam o que cada um quer dizer e aqui não poderia ser diferente. “A verdade, se não conquistada”, é só uma mentira”. Pois sim.
The House
Por fim, no terceiro ato, saem os ratos e assumem os gatos como protagonistas (portanto, os predadores), presos na casa por um dilúvio que tomou o mundo (?). Dirigido por Paloma Baeza, tal curta parece simbolizar uma “limpeza” do que veio antes. A gatinha protagonista quer reformar a casa, que no momento ela aluga para outros felinos, mas as condições não são mais as mesmas. Com a casa em ruínas, ela nega sua situação, mesmo com opiniões alheias apontando que o passado não importa mais e que, olhar para frente, é o que se importa. Nesse sentido, o segmento abraça um desfecho mais solar.
Além da casa, é a névoa que se faz presente nos três contos, como a metaforizar um efeito de memória e que, por mais que nos apeguemos às coisas ou às memórias ou aos desejos, que precisamos nos desprender deles se quisermos sobreviver. Assim, The House se apresenta como um exercício criativo fofo e estranho que merece a sua atenção.