The Leftovers
Falando basicamente sobre luto e como seguir em frente, Damon Lindelof parece pegar todos seus aprendizados em Lost (dos acertos, com os ganchos misteriosos e os grandiosos estudos de personagem; aos erros, como bolas levantadas, que ficam por isso mesmo ou traem a própria premissa) para desenvolver uma série que lembra sua irmã mais velha, mas acaba por abraçar a honestidade de suas promessas, falando sobre o “arrebatamento” de 2% da população mundial.
O foco de The Leftovers, como é esclarecido desde o princípio, até para não enganar o espectador, será nos que ficaram “para trás” e na maneira como cada indivíduo e a sociedade lidam com essa partida repentina e irremediável.
Adaptando o livro “Os Deixados para Trás” (publicado por aqui pela Editora Intrínseca), de Tom Perrotta (que também atua como co-autor e produtor), Lindelof segue o original à risca na 1ª temporada, que também é a mais sólida e a que melhor sustenta toda a narrativa, apresentando personagens cativantes, curiosos e instigantes, do chefe de polícia Kevin Garney ao seu pai que alucina num hospício, do pastor Matt à revoltada Jill, da mulher que perdeu tudo na figura de Nora, à outra que abraçou a loucura de uma seita, até do seu filho que abraça um falso profeta, que promete curas através dos abraços (você encontra um por esquina até hoje) e engravida jovens asiáticas, prometendo um messias.
The Leftovers
O elenco forte traz grandes nomes ao longo dos três anos de produção, como os protagonistas de Justin Theroux e Carrie Coon (que antes do fim, rouba a cena), Amy Brenneman, Ann Dowd, Christopher Eccleston, Margaret Qualley, Liv Tyler, Chris Zylka, Jasmin Savoy Brown, Kevin Carroll e Scott Glenn, entre outros, engajados nesse enredo potente, que sabe respeitar ateus e cristãos em igual medida, como raramente se vê por aí.
A 2ª temporada apresenta uma cidade “santuário” utópica, que ganhou essa condição por não ter tido ninguém da população arrebatada e faz de sua comunidade um ambiente turístico, enquanto a 3ª investe mais num lado intimista e minimalista evocando um provável dilúvio, focando em menos personagens e mudando o status de algus aqui e ali, para assinalar que The Leftovers sempre se tratou sobre família e o amor, apesar de tudo.
Claro que após a pressão da HBO para mudar os rumos (de uma história que já estava concluída em sua única temporada), Lindelof e Perrotta deixam para trás as subtramas dessa história sólida do original, para embarcar em loucuras e ousadias, envolvendo um possível pós-morte (fantasia religiosa, prestando tributos inventivos para Kubrick, Hitchcock e até Nolan), uma possível Terra 2 (Fringe manda um abraço, FC de primeira), dando respostas sem responder coisa alguma, mas sem perder a mão na honestidade, que é a seguinte: tudo pode ser, como pode não ser. Você escolhe a sua interpretação da situação. Assim como na vida real.