A Torre Negra é grande, mas não surpreende
Ainda que a produção A Torre Negra altere fortemente os rumos originais dos livros, temos aqui uma obra que capta boa parte da essência da septologia e isso é o verdadeiro significado de uma adaptação. Entender o material original e transformá-lo para a nova linguagem de maneira acessível para todos.
O filme deixa a epicidade de lado e aposta na fantasia urbana, algo mais próximo de um Percy Jackson e, até mesmo, indo mais pra trás, em um tipo de A História Sem Fim, usando Jake Chambers como fio-condutor da narrativa, fazendo as vezes do público para entender esse mundo, que é pouco complexo na versão cinematográfica, por isso a história não se perde tendo de explicar as regras e os backgrounds.
Claro que isso abre uma ferida no roteiro também, já que fica vago demais o passado de Roland (ainda que trechos dele sejam subentendidos em um parco sofrimento) e absolutamente nada sobre as reais motivações de Walter. Por que, diabos, o Homem de Preto quer tanto derrubar a Torre Negra e ver todas as realidades ruir? Que papel ele tem nisso? E o que ganha com tal ato?
A Torre Negra
O público, que em maior parte não é fã da série de livros de Stephen King, não sabe a resposta e precisa dela para torcer pro protagonista e odiar o vilão, já que a trama se sustenta no velho maniqueísmo, bem vs. mal, a vila que corre perigo, os demônios da floresta, coisa e tal. E somente Jake, o único personagem verdadeiramente bem desenvolvido, não é capaz de sustentar um universo tão rico quanto esse e que precisaria se expandir para fortalecer seus significados, que jamais chegam em lugar nenhum. Então, é a falta de pilastras que fazem mal a essa adaptação.
Pois, enquanto filme, ele funciona per se. O elenco está inspirado, ainda que a versão Idris Elba do Pistoleiro seja emocional e derrotista demais, menos rançudo e calculista, talvez para tentar cativar o público. Matthew McConaughey se diverte a beça no papel do Homem de Preto. Tom Taylor está ótimo como Jake e tem um futuro promissor; e por aí vai. Atenção também às ótimas sacadinhas espalhadas pelas cenas, todos easter-eggs de obras famosas do autor.
A jornada também tem boa cadência, ainda que explore pouco do Mundo Médio, para dividir o palco com a nossa Terra e assim, mais uma vez, tentar encostar, erroneamente, no público em busca de uma identificação. Quem vê fantasia, quer justamente sair da realidade, mas Nikolaj Arcel insiste nela. Mesmo assim, o diretor é competente, sabe conduzir cenas de ação, trabalhar bem o CGI sem se perder demais em efeitos, e trazer certa carga emocional, criando boas aflições em alguns momentos do filme, que tem uma duração boa e se resolve sem grandes pontas soltas, apesar do gancho sutil.
Considerações finais
A Torre Negra é a maior obra de King e merecia algo à altura do que foi feito com o Senhor dos Anéis. Por outro lado, é uma história que trabalha fantasia com o urbano, o terror com o drama e ao mesmo tempo traz muitas metáforas complexas. Ou seja, um material de difícil adaptação sem correr o risco de cair num nicho que não desse bilheteria. De qualquer forma não deu. Não foi dessa vez.
O filme é bom e vale a sessão. Entretenimento bem resolvido, uma interessante sessão da tarde. Mas o Mundo Médio para por aqui, até que tentem novamente. O Pistoleiro vai esperar enquanto isso. Ele tem tempo até lá.