Triângulo da Tristeza – uma outra opinião
Mais uma comédia de ricos burros para divertir o proletariado
Segundo este artigo da revista Vox, o ano de 2022 foi quando ocorreu a mudança de “vibe” nossa, do proletariado que precisa parcelar a compra de um açaí na Paulista; com os bilionários, que não precisam pensar muito para comprarem um helicóptero de mais de 100 milhões de dólares. Triângulo da Tristeza é mais um expoente dessa vilanização de ricos burros, que, convenhamos, é deliciosa.
Cebolas de ouro
Essa tendência não passa batido pela grande imprensa. Este artigo do Washington Post cita inclusive o recente sucesso de White Lotus, e aponta suas armas argumentativas em especial para Elon Musk, tentando distrair o leitor do fato de que o dono do Washington Post é outro bilionário estúpido: Jeff Bezos.
Talvez o filme que melhor tenha captado essa vilanização da elite bilionária seja o recente Glass Onion, lançado em dezembro na Netflix. Sucessor de Knives Out, que já tinha uma pegada meio “olha esse bando de rico idiota se fodendo, que legal”, o filme elevou a barra por conta de um detalhe: é um filme de mistério onde o grande segredo revelado não é o assassino final, mas é a descoberta que bilionários são burros. Até mesmo um psicólogo de ultra-ricos deu sua opinião sobre a obra: Glass Onion chega mais perto da realidade do que qualquer pessoa gostaria de admitir, o que transforma o filme, de uma comédia de mistério, para uma reflexão semi-depressiva sobre a riqueza.
Ricos babacas
Triângulo da Tristeza não te acerta com qualquer sentimento depressivo sobre gente abastada. Eles são babacas desde o começo, e até mesmo quando tentam “agradar” e fazer algo bom pela tripulação miserável do referido cruzeiro, demonstram uma inabilidade ímpar de empatizar com aqueles cujo trabalho é prestar um serviço a eles.
E quando a iminente desgraça acontece e tudo se transforma numa explosão de merda (por vezes literalmente), a audiência não sente remorso nenhum em apreciar esse bando de rico se fodendo. O schadenfreude rola solto e é a base da satisfação em ver o filme.
Com uma divisão extremamente clara de seus três atos (e de seu prólogo também, que quase não tem a ver com o filme), o roteiro toma decisões extremamente corajosas em seu ato final, quase transformando completamente a experiência. É raro lembrar de um filme que tenha dado uma volta tão ousada e feito isso de forma tão competente.
Triângulo da Tristeza nas premiações
Essa ousadia de roteiro já foi recompensada com uma indicação ao Oscar de melhor roteiro original. Completando as nomeações, o filme também concorre a melhor diretor (o sueco Rubens Östlund) e até mesmo melhor filme.
Dificilmente ele vai ganhar algum dos prêmios que concorre e um pseudo-crítico com ousadia e alegria em alta (tal qual este que vos escreve) pode até contestar as indicações. Não que o filme seja ruim, muito longe disso, mas se tratando em “obra lançada em 2022 que satiriza o mundo dos milionários ao mesmo tempo que mostra como ricos são burros e nos deixam satisfeitos em vê-los se foder”, eu ainda gostei mais de “O Menu“.
A nós, pobre proletariado, ainda vale a pena ver o filme e torcer para que essa tendência de milionários burros se fodendo persista por um bom tempo ainda – e quem sabe, vaze das telas de cinema. Acho que falo por todos nós: estamos adorando.