Um Banho de Vida, uma adorável comédia francesa
Em Um Banho de Vida, um grupo de pessoas enjeitadas e infelizes encontra em uma atividade não convencional um novo motivo para viver. Transformando a própria vida e a daqueles ao seu redor para melhor, enfrentando julgamentos, formando novas amizades e, no clímax da história, empregando seus recém-descobertos talentos em uma competição onde são os underdogs.
Se parece clichê, é porque é. Mas isso não significa que, com a dose certa de sinceridade e coração, não se possa tirar uma boa história de uma premissa como essa. Ainda que não faça nada de muito inovador com ela.
Nesta singela comédia francesa conhecemos Bertrand (Mathieu Amalric), um pai de família deprimido que encontra no nado sincronizado uma nova motivação. Une-se então a uma equipe de homens de meia idade, como ele, que inclui o empresário fracassado Marcus (Benoît Poelvoorde); o autista Thierry (Philippe Katerine); o roqueiro frustrado Simon (Jean-Hugues Anglade) e o descompensado Laurent (Guillaume Canet).
Um Banho de Vida
Essa equipe sui generis, formada por pessoas sem experiência ou mesmo background no esporte, é treinada pela durona Delphine (Virginie Efira), que tem suas próprias motivações para liderar o time. Se os homens estão em busca apenas de uma atividade terapêutica, Delphine, uma alcoólatra em recuperação desde que sua própria carreira no nado sincronizado ruiu, tem algo a provar para si mesma com sua nova função. Algo que se complica quando sua ainda mais casca-grossa ex-parceira de equipe (Leïla Bekhti) retorna à sua vida.
Seguindo a simplista analogia geométrica feita na narração de abertura, o filme traz muitos elementos quadrados e retangulares no cenário de várias das suas cenas. Aludindo assim à vida conformada e restrita de seus personagens. O que será contrastado mais adiante com a formação em círculo que estes farão em sua performance definitiva. O cineasta Gilles Lellouche também demonstra apreço por quadros simétricos, não escancaradamente no nível de Wes Anderson, mas o suficiente para ser reparado.
O filme ainda traz uma bela desconstrução da masculinidade tóxica. Não através de panfletarismo lacratório, mas organicamente. Mostra homens heterossexuais se dedicando a uma atividade tida como tradicionalmente feminina. Com todos os preconceitos que estas trazem, vindos de conhecidos. Assim, sendo carinhosos uns com os outros e respeitando suas superiores mulheres, mesmo quando estas se mostram duronas.
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O único que se mostra agressivo na equipe é Laurent. Ele mesmo é uma exploração de como o ciclo do abuso, perpetrado por sua mãe, se propaga para gerações futuras. E como é fundamental quebrá-lo. Há também a complicada e tocante relação entre o roqueiro Simon e a filha adolescente Lola (Noée Abita), que acabou negligenciando para seguir seu sonho de alcançar a fama e com quem deseja se reaproximar. E, por fim, temos o próprio Bertrand, cujo casamento capenga passa a se revigorar com sua auto-descoberta no mundo do nado sincronizado. E de quebra há um comentário de como a ruptura de padrões conservadores cria casamentos mais felizes e honestos.
Um Banho de Vida é uma comédia simpática. Pode não ser revolucionária, mas dá ao espectador uma lufada de energia positiva. Reserve duas horas de seu fim de semana para assisti-lo se está procurando por diversão leve e inteligente. Estreia dia 21 de março.