Com amor, Van Gogh – O sonho impossível
Correto registro documental do making of de “Com Amor, Van Gogh”, (Loving Vincent, 2017), filme de animação polonês que foi indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro em 2018, mostrando resumidamente em sua uma hora de duração todas as etapas da produção, desde o surgimento da ideia até a sua nominação pela Academia de Hollywood.
Aqui temos, então, um documentário criado para manter vivo por mais tempo na memória de todos o filme original. E também, por que não, capitalizar mais um pouco com seu sucesso merecido. Loving Vincent, de fato, merece o reconhecimento e a carreira internacional que conquistou. Pincelada a pincelada, quadro a quadro (literalmente), a história de Van Gogh é contada tendo por base a criação de movimentos sobre seus próprios inúmeros quadros.
Como era de se esperar, o documentário dá um tom de sacrifício pessoal a todos os envolvidos na produção. A começar pela idealizadora Dorota Kobiela (que em certas imagens deste sonho impossível passa a sensação de que de fato, para concretizar seu sonho, precisou da orientação, do pulso mais experiente e da mão-na-massa de seu companheiro Hugh Welchman) e alcançando toda a equipe de produção.
Com Amor, Van Gogh – O Sonho Impossível
A parte mais apaixonante do documentário é o tour-de-force. Este consistiu na escolha e treinamento da centena de “pintores-tornados-animadores”. Eles deveriam aproximar o máximo possível o estilo característico do pintar nervoso de Van Gogh, a fim de cumprir a metragem de um longa (num total de 65.000 quadros pintados e revisados todos a mão!) dentro do prazo estipulado pelo Instituto Polonês de Cinema para a manutenção do financiamento.
Desde o início, sente-se a intenção de todos os envolvidos (produtores, parte técnica, e até atores, dentre os quais Saoirse Ronan) de que o filme original deveria ter uma carreira internacional. É uma proposta ambiciosa e foi pensada para que tivesse reconhecimento, sobretudo pela ideia revolucionária em animar as obras de um pintor com o intuito de se contar a história dele mesmo, dando um sentido psicológico à obra do próprio pintor.
Nesse sentido, a fala da própria Kobiela no início deste documentário, de que nenhum dos implementadores tinha experiência mas que tentariam mesmo assim, soa um pouco piegas. De todo modo, é com a entrada de Welchman (do também premiado O Piano Mágico) que a empreitada se organiza e toma corpo.
Investimento e técnicas de animação
É interessante também a necessidade do projeto de contar com o apoio estatal: sem ele, investidores e distribuidores privados adicionais se afastariam. Num momento conturbado para o cinema tupiniquim na sua relação com o apoio do aparelho oficial, essa constatação é forte e deve ser levada muito a sério.
Para quem gosta de técnicas de animação, é sempre muito interessante ver o processo criativo e técnico de realização. Focado mais na logística das etapas de produção e menos nas técnicas empregadas de animação em si, contudo, talvez o documentário deixe, por fim, uma certa ponta de frustração para quem tem interesse nas referidas técnicas para estudo.
Este Com Amor, Van Gogh – O Sonho Impossível é, mais que isso, um registro de que um sonho nem
sempre é tão impossível assim. Que “Com Amor, Van Gogh”, o sonho tornado realizado, possa ter vida longa na memória do cinema, porque ele merece. O documentário entra em cartaz dia 30 de janeiro.