Vigiados – Que tal um Airbnb sangrento?
Em Vigiados, dois casais vão passar um final de semana em uma linda casa no campo para desestressar do trabalho, alguns dramas pessoais se enaltecem entre eles, traições amorosas, até culminar em uma inevitável tragédia com um serial killer stalker, ainda que nada se compare a poderosa dramaticidade do pôster.
Dave Franco, irmão caçula de James Franco, tem uma carreira tão vasta quanto o mais velho (você deve se lembrar especialmente dos dois ”Truque de Mestre” e do ótimo ”Nerve”, entre outros) e faz aqui sua estreia na direção, de maneira bastante competente.
O rapaz sabe onde colocar a câmera, sabe construir o mínimo de suspense que o roteiro pede (que Franco co-escreveu junto de Joe Swanberg) e sabe como transmitir uma certa naturalidade no comportamento de seus personagens, principalmente na primeira metade da história, que oferece situações cotidianas, de pequenos gestos (como preparar uma comida, até uma conversa na praia), mas construir sustos ou dirigir elenco realmente não é seu forte. Ou ainda não é, afinal ele está só começando na área e tem todo um caminho pela frente.
Vigiados
Eu realmente não gosto do Dan Stevens, mas compreendo quem vê talento no cara. Aqui, talvez por estar com menos maneirismos e mais ligado no automático, fica mais suportável, no papel de um dos irmãos, que tem o canalha hábito de sempre trocar de namorada através de uma traição; Jeremy Allen White, o mais fraco do elenco, que faz o que pode seja com seu ar bobo, seja com sua fisicalidade; Alison Brie, esposa do diretor, responsável pela sensatez da trama; e a bonitinha Sheila Vand, que tem os melhores momentos do longa, seja nos atos de uma noite errada, seja no comportamento sufocante que sustenta do começo ao fim.
Franco está muito mais interessado em trabalhar o drama de dois colegas de trabalho que tem uma evidente atração desde o primeiro segundo em tela e as consequências das decisões que tomam, do que investir na sugestão de terror do stalker que os rodeia (por isso mesmo a casa e seus cômodos pouco importam, como costumam importar em filmes de “casa mal assombrada” e derivados).
E aí?
O suspense, portanto, gira ao redor dos dois casais e de suas situações mundanas, sempre com um dedo apontado para o personagem bronco de Toby Huss, mas claro que nem tudo é o que parece. E ao propor – ainda que bem pouco desenvolvido – uma ideia de preconceito xenofóbico, o diretor também diz que quando você aponta um dedo para alguém, está apontando outros quatro pra você.
No ato final, quando a trama de Vigiados descamba para a sanguinolência e o assassino se revela, o filme acaba oferecendo um efeito catártico para seu público, já que as marteladas fatais do mascarado são tão trágicas quanto a revelação da traição (somadas a uma morte no box de um banheiro hitchcockniano), então nada a partir dali poderia ter mais salvação. Assim, a morte é a melhor solução e vida que segue (para quem sair vivo dessa, né).
https://www.youtube.com/watch?v=VyUuj1Xj3oY&ab_channel=MovieTrailersBrasil