Vozes Negras – A Força do Canto Feminino

Ancestralidade, circularidade… termos presentes no cotidiano das reflexões acerca da negritude aparecerão como presentes sensoriais aos brancos e brancas que desejarem se debruçar sobre este Vozes Negras, projeto de um musical seriado (a cada semana, um novo “capítulo”, ou seja, um novo espetáculo, de um total de quatro) realizado pela Coisas Nossas e hospedado no Teatro Sérgio Cardoso em São Paulo.

E é altamente recomendado que o façam. De cima de todos os privilégios (pelo menos quarenta e seis, segundo Peggy McIntosh) fica difícil enxergar o que somos hoje, de onde viemos e para onde vamos se nada fizermos. Um espetáculo como o montado no simpático teatro da Bela Vista precisa ser feito e, a partir dele, um trabalho de análise social também.

Vozes Negras

Vozes Negras

A ideia é desbravar em quatro apresentações (“A Era de Ouro do Rádio”, “Samba, Terreiro e Ancestralidade”, “Samba-Canção e Bossa Nova” e “Do Samba ao Jazz, Sem Limites”) as dificuldades, trajetórias e conquistas de mulheres, todas pretas, que desbravaram os espaços de produção de arte no Brasil em diferentes épocas, cada uma ao seu jeito, com suas bravuras e limitações, enfrentando toda sorte de dificuldades decorrentes da etnia, do machismo ou de outras ordens.

Verônica Bonfim (atriz, cantora e ativista, autora de “A Menina Aliki e o seu Tambor Falante”, premiado livro infantil) é a hostess que conduz, através da obra e com o apoio de uma excelente banda na retaguarda, a narrativa da vida de, no primeiro episódio, Elizeth Cardoso e Cármen Costa, mas que contará a seguir com Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus, Dolores Duran, Sandra de Sá

É como se as duas divas estivessem de fato ali, mortas há muito mas vivas em sua arte, dada a representação convincente e as vocalizações adequadas; o espetáculo tem um cenário simples mas justo, as marcações de palco são corretas e a apresentação exala simplicidade e honestidade atreladas a um profissionalismo oriundo da expertise da equipe de produção nesse tipo de montagem.

A força do canto feminino

A simpática Bonfim, quase ao fim da peça, convida o público a se unir numa roda de conversa afetuosa com um(a) convidado(a) para discutir as questões concernentes ao que foi visto. Uma das propostas, por exemplo, é, e isso é bastante interessante, analisar as forças e fragilidades presentes nas protagonistas, linkando isso com a visão presente em certas mitologias de matrizes africanas de que forças e fragilidades estão presentes igualmente em homens e mulheres.

A abordagem de que a cultura de um povo pode ser bem medida por sua mitologia, e que em algumas mitologias homens e mulheres são criados juntos e iguais, dá o tom geral da obra e o posicionamento do espetáculo, e permite que recebamos na cara a obviedade do machismo com que essas mulheres artistas tiveram que lidar (repare, no primeiro episódio, a interpretação de Cármen Costa para “Eu Sou a Outra).

Sim, recomendamos Vozes Negras, e que seja assistido, se possível, em todos os seus quatro capítulos. Uma experiência sensorial, cultural e artística muito interessante.

Vozes Negras - A Força do Canto Feminino

SERVIÇO

Temporada Vozes Negras - A Força do Canto Feminino

Local: Teatro Sérgio Cardoso - Rua Rui Barbosa, 153, Bela Vista - São Paulo/SP

Temporada: 30 de Junho a 7 de Agosto. Quinta-feira, sexta-feira, sábado: 20h30 e domingo: 17h

Ingressos: A partir de R$25 a meia

Link de vendas: https://bileto.sympla.com.br/event/74118/d/143511

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