Wolfwalkers – Feroz, selvagem e livre

Eu não via uma animação belíssima assim há uns 20 anos, tão sensível em suas intenções e tão ousada na execução. Tomm Moore e Ross Stewart finalizam com Wolfwalkers sua “Trilogia Folclórica Irlandesa” (que contou com Uma Viagem ao Mundo das Fábulas e A Canção do Oceano, que preciso assistir), narrando um legítimo conto de fadas, tanto na estrutura narrativa quanto no traço.

Os desenhos aqui são impressionantes, fluídos e magistrais. Cada cena poderia compor um painel a ser enquadrado, não há nada semelhante em qualidade e estilo, absolutamente. Com uma animação de encher os olhos, os cineastas narram a história da amizade de duas meninas e a velha batalha do homem contra a natureza, da opressão contra a liberdade, que não poderia ter melhor representação na figura vilanesca de um fanático religioso.

Esse teor fabulesco também é sagazmente levado para os personagens: apenas a dupla de garotas possuem nomes, os demais apenas são chamados pela função, tendo assim: O Caçador, o Lorde Protetor, o Fazendeiro etc.

Wolfwalkers

A animação une premissas já vistas antes na Disney e no Estúdio Ghibli: o homem se colocando no lugar da fera, como em Irmão Urso ou Valente; a humanidade corrompendo a terra, como em Princesa Mononoke (mas também no discurso-mor de Miyazaki desde sempre); a amiga “mágica” que vem de um mundo fantástico, como em Ponyo, Moana e mais recentemente Raya e o Último Dragão; mas diferentemente dessas produções, esse longa da Apple TV não banaliza os gestos de horror e aumenta consideravelmente a escala dramática e de violência em prol de fortalecer sua história, acompanhado de um espetáculo visual sem igual.

Entretanto, animações assim infelizmente não ganham o Oscar, porque não se encaixam nos padrões estéticos nesse mundo da ditadura do 3D absoluto, pálido e repetitivo de sempre. Wolfwalkers é uma pequena pérola para se apreciar independentemente de prêmios e que sobrevive às eras porque sabe encantar.