24 Horas – as duas primeiras temporadas (2001-2003)

Acho fascinante como 24 Horas foi uma série a frente do seu tempo em vários aspectos e previu, ainda em 2001, na figura do personagem David Palmer, a presidência de Barack Obama oito anos depois. Um democrata negro e boa praça (que o excelente Dennis Haysbert faz em sua figura altruísta, sensata e bondosa, de um jeito que ninguém jamais conseguiu retratar o Superman nas telas).

Surgindo das cinzas dos atentados de 11 de Setembro daquele mesmo ano, essa série que durou 8 temporadas, consegue ser um formidável thriller político de suspense com o melhor do cinema de ação dos anos 1980, trazendo ainda uma novidade na edição que faz toda a diferença: a narrativa rolando em tempo real, com cada episódio representando uma hora (portanto, 24 episódios, que nos dias de hoje, onde acostumamos a 6 ou 8 episódios por temporada, talvez não tivéssemos fôlego), com um relógio digital sendo apresentado durante os episódios ou entre um intervalo e outro, com aquele efeito sonoro angustiante de que o tempo está passando e as coisas podem sempre piorar. E em 24 Horas ela sempre pioram, essa é a regra.

24 horas

24 Horas

Kiefer Sutherland segue no melhor papel da carreira, com seu Jack Bauer (que herda o JB de James Bond, continuado depois por Jason Bourne), um cara que é o melhor no que faz, que é capaz de quebrar todas as regras para fazer o certo, mas não deixa de ser justo, piedoso e misericordioso com seus adversários ou detretores; um pai de família (ainda que à sua maneira), uma figura extremamente carismática, que vai se quebrando conforme as temporadas avançam.

Aliás, Doug Liman e posteriormente Paul Greengrass, adotaram a câmera tremida do seriado e a levaram para a franquia Bourne. Não duvido que Zé Padilha tenha se inspirado também no agente para criar seu Capitão Nascimento de Tropa de Elite.

O único ponto fraco, que onera essa série de sempre chegar a nota máxima, provavelmente tem um nome: Kim Bauer. Nada contra a lindeza Elisha Cuthbert, mas todas as subtramas que oferecem a essa personagem são completamente inúteis, meio imbecis, como se escritas pelos filhos adolescentes dos produtores, de tão destoante que é da linha principal. Ainda que na primeira temporada ela sirva de desculpa dentro do plano geral, na segunda ela tá completamente jogada ali e, convenientemente, se envolvendo sempre em situações absurdas e irreais (algo que essa produção pé no chão quase nunca se permite em outros plots paralelos).

Muitos acertos

Por outro lado, 24 Horas também acerta ao dar um potente protagonismo feminino para diversas personagens, com funções diferentes. Em seu tempo, ainda que algumas delas sejam atreladas a homens ou sejam traidoras, ainda é um feito a frente do tempo, se pensando no período em que foi realizado.

A série também acerta na diversidade do seu elenco (duas décadas antes da Netflix e HBO assumirem essas iniciativas em suas obras), não só na brilhante sacada do presidente negro, como também em funcionários da CTU (repletos de latinos, asiáticos, negros, islâmicos etc), nos discursos anti-xenofóbicos e na forte moralidade de algumas de suas importantes figuras. E ainda que Bauer se desalinhe em prol de um bem maior, não é o suficiente para manchar o enredo de preconceitos, do qual é desprovido. Uma das maiores séries de ação e suspense político de todos os tempos, que moldou a TV seguinte e até o cinemão.

24 Horas (primeira e segunda temporada)

Nome Original: 24
Elenco: Kiefer Sutherland, Mary Lynn Rajskub, Carlos Bernard
Gênero: Ação, Crime, Drama
Produtora: 20th Century Fox Television
Disponível: Prime Video

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