A Noiva Cadáver, uma animação musical

Em A Noiva Cadáver, Victor Van Dort (voz de Johnny Depp) está prestes a se casar com Victoria Everglot (voz de Emily Watson). Ele vem de uma família de novos ricos e ela de uma família tradicional, que agora está sem dinheiro. Consequentemente, o casamento entre os dois é lucrativo para as duas famílias.

Um dia, enquanto treina seus votos na floresta, Victor coloca a aliança em um galho seco de árvore. Mas na verdade, aquilo são os dedos de Emily (voz de Helena Bonham Carter). Ela é uma mulher que foi morta no dia de seu casamento, mas que ainda ronda a floresta, vestida de noiva.

Victor, então, se torna noivo de Emily. Ela o leva para o mundo dos mortos onde lhe explicam como vai ser o casamento. A princípio ele não aceita, mas quando descobre que Victoria, em função do seu sumiço, vai se casar com Lorde Barkis (voz de Richard E. Grant), ele concorda em se casar com Emily. É a vez do mundo dos mortos subir ao mundo dos vivos para acompanhar o casamento entre um homem vivo e uma mulher morta.

Uma visão da morte

A Noiva Cadáver tem uma visão da morte um tanto quanto diferente. O mundo dos mortos que é retratado aqui é animado e divertido. Emily, a noiva morta no dia de seu casamento, parece ser a única pessoa triste a viver lá. Mas faz sentido que Emily esteja triste. Afinal, ela ainda não entendeu muito bem o que se passou com ela. A noiva cadáver ainda espera o retorno do homem com quem ela ia se casar.

O filme lida diretamente com pessoas mortas, que normalmente são colocadas em filmes de terror. Mas esse não é o caso neste filme de Tim Burton, como é comum em sua filmografia. Emily, que é literalmente um cadáver e que em qualquer outro filme seria vista como o inimigo, neste caso é quase a mocinha.

Tudo bem, ela é uma mulher magoada e em alguns momentos pode ser intensa. A princípio, parece a Victor que Emily o sequestrou, mas essa é uma impressão que vai se diluindo ao longo do filme. Especialmente quando Victor aceita se casar com ela. Emily definitivamente não é a vilã. Ela não é uma ameaça nem a Victor, que ela obriga que se case com ela, nem a Victoria, a mulher cujo noivo, Emily “roubou”.

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Os outros habitantes do mundo dos mortos também não são assustadores. Eles causam pânico na pequena aldeia quando chegam para o casamento de Emily e Victor. Mas essa sensação passa quando os moradores  percebem que os mortos são seus entes queridos que já faleceram. No filme de Tim Burton, a morte não tem o aspecto de fim e nem a face terrível do medo. Ela é fofinha e nos traz de volta pessoas de quem sentimos saudades. Os seres vivos, no entanto, nem sempre são tão bons, como iremos notar ao longo da trama.

Mulheres que não se odeiam

A Noiva Cadáver traz ainda uma outra diferença: suas personagens femininas não se odeiam. Em um filme onde um dos focos principais é um triângulo amoroso entre um homem e duas mulheres, seria quase natural explorar a rivalidade entre as duas, mas não é isso que acontece.

Emily é uma mulher morta que deseja desesperadamente se casar. Victor aparece para ela como a solução mais plausível. Já Victoria é a noiva por “direito” e está viva. Victoria espera que Victor retorne, mas quando acredita que seu noivo está de fato envolvido com Emily, ela parece disposta a abrir mão dele. Emily aparece como uma mulher louca que leva Victor ao submundo e que o deseja manter afastado dos outros, inclusive de Victoria. Pode até soar como uma namorada ciumenta que não quer que o namorado tenha contato com a ex. Mas ela também muda de comportamento quando percebe que sua ações afetam Victoria diretamente.

As duas mulheres que, por acaso, dividem o amor de Victor, parecem entender uma a outra melhor do qualquer um no filme. Esse é um feito e tanto para um filme de 2005, dirigido por dois homens.

Aspectos técnicos de A Noiva Cadáver

A Noiva Cadáver é um musical completamente diferente de outros que já foram mencionados aqui, pois é uma animação. Foi filmado em Stop Motion, com bonecos, usando a mesma técnica de O Estranho Mundo de Jack, e funciona muito bem, especialmente nas cenas em que vemos o mundo dos mortos.

O clima do desenho e o estilo dos personagens e da trama também são típicos de Burton, que depois se enveredou pelos musicais mais uma vez em Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet. Seguindo a linha do diretor, a fotografia também é mais sombria e escura. Embora esse não seja um filme em preto e branco, em determinados momentos, é essa a impressão que passa.

As músicas que fazem parte da trilha sonora foram escritas especialmente para o filme, por John August e Danny Elfman, um colaborador comum de Burton. Todas elas seguem o estilo com aquele tom sombrio, mas divertido, que todo mundo procura quando assiste algum filme do cineasta.

Entre elas estão According to Plan, Tears to Shed e a ótima Remains of the Day, que conta a história de Emily quando era viva. O filme tem números musicais, muito bem feitos aliás, encenados como os de um musical comum, com pessoas de carne e osso, e cantadas por membros do elenco.

A Noiva Cadáver é um filme que se diferencia de outros musicais por ser uma animação, mas longe de parecer voltado para crianças ou um dos clássicos da Disney. A Noiva Cadáver é um filme para adultos, que trata de temas pesados, mas de maneira bonita e singela.