Eu Não Sou Uma Bruxa, preconceito e conformismo
Eu Não Sou Uma Bruxa conta a história de Shula (Margaret Mulubwa), uma menina de 9 anos que é acusada de bruxaria. Sem um julgamento justo, Shula é considerada culpada e mandada para um campo de bruxas. Lá ela é amarrada a uma árvore para evitar que saia voando. E caso ela corte a corda que a prende, segundo as autoridades do local, ela vira uma cabra. Shula então, permanece no campo e aceita seu destino.
Falta de conhecimento
O filme pode até ser interpretado como uma fantasia, onde as bruxas de fato existem, mas a verdade é que mesmo nesse contexto, não existe nenhum indício que prove que Shula é uma bruxa. A menina de nove anos é acusada por uma vizinha que tropeça enquanto leva água para casa e percebe que Shula olhava para ela. Qualquer pessoa com bom senso pode entender que Shula não tem culpa nenhuma do acontecimento, mas o filme não quer falar sobre essas pessoas.
A vizinha em questão vai à polícia, que acredita quase automaticamente que a menina é uma bruxa. Há muito estímulo do resto das pessoas da cidade que vêem Shula como estranha e solitária. O que sela mesmo o destino da menina é o fato dela simplesmente não negar a acusação.
Depois de levada ao campo, Shula encontra diversas mulheres que também foram consideradas bruxas e que passam a cuidar dela, mas o mais curioso é que nenhuma delas, em momento nenhum, questiona o que está acontecendo ali. Todas elas parecem conformadas com o seu destino, assim como Shula. Eu Não Sou Uma Bruxa é uma mistura de falta de conhecimento e de conformidade.
Preconceito
No entanto, também existe uma parcela de preconceito nas decisões por trás da condenação de Shula. Ela é uma menina pobre, que vive sozinha, perambulando pela cidade. É uma párea e é natural que a corda sempre quebre do lado mais fraco.
Também não é à toa que todos os condenados por bruxaria no campo são mulheres, como geralmente acontece com acusações de bruxaria. E a pessoa que parece mais disposta a condenar Shula é, obviamente, um homem.
O filme não é só sobre preconceitos, mas ele deixa claro o seu ponto de vista sobre o assunto. O que passa ao espectador é que Shula provavelmente não estaria naquela situação se ela não fosse uma menina negra, sozinha e sem dinheiro.
Eu Não Sou Uma Bruxa e seus aspectos técnicos
O filme tem um mote bem interessante, especialmente quando concluímos que ele pretende discutir preconceitos. A bruxaria parece uma metáfora interessante para falar de machismo e do medo que os homens sentem de mulheres poderosas e inteligentes. O que acontece no longa, por outro lado, é um pouco diferente. Primeiramente, tudo é muito maluco. Em alguns momentos achamos que estamos no mundo real, onde a trama da bruxaria está só na cabeça das outras pessoas. Já em outros momentos achamos que naquele universo a bruxaria realmente existe, já que todo mundo parece tão conformado com isso. O filme não se preocupa em dar maiores explicações.
Outro problema é que o filme é arrastado. A ação acontece basicamente no começo, quando Shula é acusada. Depois disso, acompanhamos o dia a dia da menina no campo de bruxas e embora a dinâmica do lugar pareça interessante no começo, especialmente porque queremos entender como tudo aquilo funciona, ao longo do filme isso acaba se tornando entediante.
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Poucas novidades são apresentadas ao longo da trama, o que a prejudica bastante. Margaret Mulubwa atua bem e é carismática, fazendo com que a plateia torça por ela naturalmente. Entretanto, não é suficiente para segurar o filme por tanto tempo.
Infelizmente, Eu Não Sou Uma Bruxa perde o momento certo de acabar, deixando o público na expectativa de um fim por muito tempo. Este é um filme com um tema interessante, mas que infelizmente não se segura até o final. O filme entra em cartaz no Brasil inteiro no dia 13 de junho, mas haverá uma pré-estreia no dia 2 de junho, no 23º Cultura Inglesa Festival.