Ouija: Origem do Mal, brega e estiloso

Depois de um primeiro filme fraco e genérico, mas com um tema interessante (Ouija: O Jogo dos Espíritos, de 2014), Mike Flanagan foi chamado para dirigir esta continuação, Ouija: Origem do Mal, que é superior ao original em tudo: na ambientação, na fotografia, na direção de arte e roteiro, mas não somente. O diretor, que tem uma vasta carreira, teve seu primeiro destaque com Hush, seguido do ótimo Jogo Perigoso, culminando na formidável minissérie A Maldição da Residência Hill (a melhor produção para as telinhas de 2018), em breve também ele lançará outra adaptação de King, com Doutor Sono.

Já testando os formatos que depois o consagrariam, Flanagan brinca na concepção da mise-en-scène. Assim, os elementos fílmicos sugerem a aparição do medo em algum momento. Seja na composição do plano, na iluminação, seja nos movimentos de câmera ou na trilha sonora. Isso presenteia o espectador com uma entrega súbita e pavorosa no instante seguinte.

Os acertos se expõem logo nos primeiros minutos, com a cena de abertura (agora nos anos 70), que envolve uma sessão mediúnica em que os espíritos se manifestam de todas as maneiras na casa (já vista na história que a precede). Com um estilo de saltar os olhos, o diretor revela sua destreza na construção de tensão. Ou seja, extrai toda a angústia possível com um apuro visual incrível, para no instante seguinte desconstruir aquela atmosfera. Revela então que a família usa de truques para enganar as pessoas que os procuram para falar com os mortos.

Ouija-Origem-do-Mal

A trama e o elenco de Ouija: Origem do Mal

Não há pressa no roteiro. O filme faz bom uso do primeiro ato para desenvolver as três mulheres da casa, seus dramas e a sensação de luto que ainda paira sobre elas (pela perda do marido/ pai em um acidente). Isso faz com que o espectador se importe com as figuras em tela, antes delas caírem de cabeça no terror, já com a inclusão natural e nada forçada do tabuleiro ouija na trama, como uma maneira de ampliar os “negócios de família”. Além dos usos inventivos do próprio tabuleiro, que fornecem boas sequências.

Aliado a um elenco competente, Ouija: Origem do Mal se sustenta em boa parte através de suas atrizes. A começar por Elizabeth Reaser como a mãe; ao mesmo tempo otimista e preocupada com as garotas, mas que não dispõe de muita sensatez quando se trata de negócios. Temos a lindíssima Annalise Basso, que faz a filha mais velha e traz uma grande surpresa na cena pós-créditos (em uma história que funciona da mesma maneira que Annabelle 2, ou seja, uma prequel do primeiro), sendo também a responsável por dar energia ao conflito, com a crescente tensão que ela percebe ao longo do enredo.

E finalmente a menininha Lulu Wilson, como a doce caçula que passa a servir de receptáculo de entidades daquele cenário. Ela consegue, com seu olhar vidrado e gentil, transmitir sensações estranhíssimas. Muito mais do que quando está somente com os olhos brancos (um efeito bem funcional para transmitir medo). Henry Thomas surge como o estereotipado padre que quer ajudar e detém certos conhecimentos do sobrenatural.

Ouija-Origem-do-Mal

Um exercício de terror, ao mesmo tempo brega e estiloso

Mesmo usando de diálogos expositivos (encaixados de maneira disfarçada para soarem naturais) e alguns efeitos especiais toscos, a história não se permite cair nos clichês do gênero. Por isso, no clímax, quando é sugerido que um trio se separe para procurar alguém, um deles diz que é melhor se manterem justamente juntos (o que 99% dos outros filmes de terror não permitem que seus personagens façam por mero roteirismo); ou de quando você acha que, mesmo com as mortes esperadas, pelo menos uma das vítimas não se corrompa. Um detalhe é certo: assim como boas obras do formato, não há final feliz. E o link realizado com o primeiro é eficiente. Mas Ouija: Origem do Mal funciona de maneira isolada, como um exercício criativo e estilístico que vale uma sessão.

A continuação de Ouija não se isenta das breguices e até certo ponto, as assume. Mas é um filme charmoso, honesto e ótimo enquanto terror que, se não se destacou tanto num mar de outras produções de qualidade, pelo menos serviu para revelar Mike Flanagan ao mundo. A verdadeira estrela deste longa.

Ouija: Origem do Mal

Nome Original: Ouija: Origin of Evil
Direção: Mike Flanagan
Elenco: Elizabeth Reaser, Lulu Wilson, Annalise Basso, Henry Thomas
Gênero: Drama, Horror, Mistério
Produtora: Blumhouse Productions
Distribuidora: Universal Pictures
Ano de Lançamento: 2016
Etiquetas

Deixe um comentário

Botão Voltar ao topo
Fechar