Rainhas do Crime, mulheres na máfia
“This is a man’s man’s man’s world”, diz o soul de James Brown que abre a película Rainhas do Crime, que estreia dia 08 de agosto nos cinemas brasileiros. A música não poderia ser mais propícia, afinal os filmes de máfia são um território protagonizado quase exclusivamente por homens. Assim, o novo filme da diretora Andrea Berloff muda o gênero do protagonismo, contando a história de três mulheres que, após seus maridos serem presos, decidem continuar o trabalho deles, gângsters da máfia irlandesa na Nova York dos anos 70.
O título original “The Kitchen” remete ao bairro de Hell’s Kitchen, região da cidade onde se passa a história. E, se foi uma piada machista por conta de serem três mulheres, foi sutil o suficiente para ser boa.
É também mais um filme baseado em quadrinhos: na série de 8 volumes de mesmo nome escrita por Ollie Masters e ilustrada por Ming Doyle, publicada em 2015 sob o selo da Vertigo, uma divisão da DC Comics. A separação do selo permite à Vertigo a produção de quadrinhos mais adultos, recheados de sexo, palavrões e ofensividade, portanto, sem sujar a imagem mais “família” de Batman e Superman.
Rainhas do Crime
A adaptação para as telas pega apenas a base do enredo, criando um resultado completamente diferente da obra original. Alguns personagens foram completamente retirados, outros receberam muito mais destaque. Mas o saldo final é positivo. A história, apesar de soar meio apressada às vezes, acabou bem encaixada na mídia de cinema.
Alguns saltos evolutivos das personagens são resolvidos em montagens dinâmicas, encaixando em alguns segundos o que poderiam ser 15 minutos de filme. Sabe quando vamos viajar, e acabamos colocando muito
mais numa mala do que seria possível e temos que sentar em cima dela para puxar o zíper e fechá-la? Às vezes parece que a diretora teve que fazer isso com o filme.
A ambientação na Hell’s Kitchen dos anos 70 até lembra os quadrinhos, mas não necessariamente os da DC. Ela remete em muitos momentos às histórias de Demolidor. As músicas também combinam com o clima, com destaque para a versão de “The Chain” da banda “The Highwomen”, que abre os créditos finais.
Aspectos técnicos
Entre os defeitos, o filme carece de um pouco mais de ação. Pode assim desagradar especialmente àqueles que vão ao cinema buscando ver um filme baseado em quadrinhos. A maioria das cenas acontece em closes focados nas personagens, o que permite que as atrizes guiem o filme por suas atuações.
Aliás, o trio principal segura muito bem, como não poderia deixar de ser. Elizabeth Moss, Melissa McCarthy e Tiffany Haddish foram escolhas muito acertadas e mandam bem do começo ao fim. Suas evoluções durante o filme parecem muito naturais graças à excelente atuação das três. Então mesmo o leve overacting de Haddish no ato final parece coerente com a personagem.
O filme ainda conta com a sensacional Margo Martindale em mais um papel de velha durona apesar da caracterização de “Mamma Bruschetta”. Com um elenco feminino tão bom, o único homem que realmente entrega uma atuação marcante é Domhnall Gleeson – o Caleb de Ex Machina (demorei pra achar essa referência de “conheço ele de algum lugar” durante o filme).
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Rainhas do Crime nunca chega a ser marcante como as outras adaptações da Vertigo (como “Preacher” ou “V de Vingança”). Às vezes ele pode ter um ritmo mais vagaroso ou parecer uma loucura apressada de acontecimentos, mas as excelentes atuações do trio principal salvam o filme, mostrando um protagonismo feminino forte, mas sem ser lacrador em nenhum momento.
Por @paulovelho