Capitão Fantástico, uma jornada emocionante
Em Capitão Fantástico, negando valores do liberalismo econômico em defesa de uma vida livre e igualitária, um pai de seis crianças os cria na mata, onde ensina desde sobrevivência na selva até o mais erudito da literatura e da música, sempre baseado nos princípios de sociedade ideal de Noam Chomsky. Depois da notícia da morte da esposa, a família sai em viagem para impedir a cerimônia cristã de despedida e honrar o pedido de funeral da mãe, documentado em testamento.
Matt Ross, que já foi ator de terceiro escalão em filmes e séries, executa aqui um filme sensível e charmoso. Usa o gatilho dos estágios do luto como ferramentas para sua construção narrativa. E acerta a mão, principalmente nos dois primeiros atos. O começo se condiciona a evidenciar os costumes atípicos da família; enquanto o miolo da trama desenvolve o choque cultural entre eles e a sociedade padrão, o que gera interessantes reflexões.
Do meio para o final, a história se trai em alguns aspectos. A lição que foi aprendida durante a trajetória é abandonada, com a família absorvendo somente o que lhe é conveniente. Assim, há uma escolha duvidosa de desfecho, de que a família sempre deve imperar, acima de tudo. Isso, claro, não traz um verdadeiro ônus para a produção. Afinal, ela é sensível em todos os temas que toca no belo desenvolvimento de personagens.
Capitão Fantástico
Viggo Mortensen está em um dos melhores papéis de sua carreira como o pai que luta a todo custo para manter os costumes naturalistas pela qual se condicionou a criar sua família. Entretanto, diferentemente dos filhos (entre 7 e 18 anos), que claramente carregam uma pureza e ingenuidade no olhar e na maneira de ser, o seu Ben é dotado de um cinismo nervoso. Ou seja, como de alguém que quer provar para o mundo capitalista que é possível viver fora dos padrões, provocando a sociedade “normal” com suas palavras, com seu vinho, com sua nudez.
George MacKay e Nicholas Hamilton também estão ótimos e são os únicos da prole que verdadeiramente tem um arco dramático. O primeiro descobre os prazeres do mundo de maneira bizarra, à medida que desenvolve uma curiosidade para além das muralhas selvagens. Enquanto isso, o segundo já desperta uma curiosidade mais mundana, que em sua rebeldia juvenil, intenciona se integrar mais às pessoas fora de seu círculo. Cabe às duas belas garotas, então, momentos pontuais ora de ação, ora de musicalidade. Com boas sequências, mostram a essência da obra, quando uma delas revela a crueza por trás do livro “Lolita”. Frank Langella fecha o núcleo brilhando sozinho sendo o contraponto contextual.
Sensível e emocionante, Capitão Fantástico é um longa indie e repleto de personalidade. Um filme que não quer ensinar lição alguma, apesar de questionar como funciona o sistema de ensino. Acaba por fornecer uma jornada simples de uma realidade utópica, sem deixar o mais importante de lado: seus ótimos personagens.