Uma Mulher Alta, representante da Rússia no Oscar

O diretor Kantemir Balagov iniciou sua carreira em 2017, com um trabalho surpreendente para uma estreia. Tesnota recebeu o prêmio Um Certo Olhar: Melhor Direção, em Cannes 2017. Agora, em Uma Mulher Alta, Balagov traz a guerra, ou as consequências dela, pelo olhar das mulheres. Combinando então realismo que beira o documental com traços densos e complexos da alma feminina e ganhando novamente o prêmio de melhor direção em Cannes.

O jovem diretor aposta em atrizes desconhecidas, mas de imenso talento, e nos apresenta Viktoria Miroshnichenko e Vasilisa Perelygina. Viktoria Miroshnichenko formou-se em 2019 no Instituto Russo de Artes Cênicas. Ela faz uma estreia magistral nas telas no papel de Iya ao lado da também estreante Vasilisa Perelygina no papel de Masha.

A atuação de ambas pode ser comparada à precisão cirúrgica das ginastas soviéticas nos anos 70/80, demostrando muita dedicação para um ótimo resultado, nota 10. Completam o elenco Igor Shinokov, o menino Timofey Glazkov, Olga Dragunova (Tesnota, 2017), Konstantin Balakinev (Anjos da Revolução, 2014 e
Territory, 2015) e Kseniya Kutepova (Territory, 2015 e Polina, 2016).

Uma Mulher Alta

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Destaque também para a fotografia de Ksênia Sereda que começou a fazer filmes aos 18 anos e agora aos 24 apresenta um trabalho com referências visuais de pinturas europeias. Uma Mulher Alta foi Inspirado pelo livro “A Guerra não tem rosto de mulher”, da bielorrussa Svetlana Aleksiévitch, vencedora do Nobel de 2015.

Dessa forma, Balagov traz para uma Leningrado destruída ao final da 2ª Guerra, após um cerco de três anos, a história da enfermeira Iya e da soldada Masha. Elas se conheceram no front, onde Iya é desligada devido uma síndrome de stress, e têm uma relação muito próxima. Então, é neste ambiente repleto de sentimentos controversos que as duas tentam reconstruir a vida em uma sociedade em ruínas.

As imagens de ruas bombardeadas, cortiços, e hospitais cheios de veteranos servem como moldura, onde Balagov insere seus personagens numa busca de esperança para uma vida ao menos suportável. O filme retrata o povo russo, derrotado e prostrado, mas doutrinado pela ideia de estar fazendo o sacrifício necessário para o bem do estado.

Uma Mulher Alta

Desconstruindo Leningrado

Focando o universo da vida privada de duas mulheres, o diretor abre um leque de imagens e diálogos que mostram uma cidade imersa em ruínas, com uma população sem comida, sem água e sem perspectivas.

O drama tem em Iya e Masha personagens complementares que tem personalidades antagônicas. Os diálogos e sentimentos transmitidos pelo filme remetem afinal a Dostoiévski. Assim, a história explora a psicologia dos personagens e nos mostra a natureza dual do espírito russo. Dessa forma, nos traz dois aspectos importantes para uma obra do escritor, o jornalismo e a psicologia. Em cartaz a partir de 12 de dezembro.

https://www.youtube.com/watch?v=Ai6AgQfMaX4&feature=youtu.be

por Jorge Xavier Franco de Castro

Uma Mulher Alta

Nome Original: Dylda
Direção: Kantemir Balagov
Elenco: Viktoria Miroshnichenko, Vasilisa Perelygina, Andrey Bykov
Gênero: Drama, Guerra
Produtora: AR Content
Distribuidora: Supo Mungam Films
Ano de Lançamento: 2019
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