Seberg Contra Todos – Uma mulher na fogueira

Jean Seberg (Kristen Stewart) é uma atriz americana, famosa pelos filmes que fez na França. Ela retorna aos Estados Unidos para fazer um teste e no voo conhece Hakim Jamal (Anthony Mackie), ativista dos direitos civis e que luta pelos direitos dos negros.

Seberg e Jamal começam um tórrido caso e a atriz começa a apoiar a causa do amante. Não demora muito para que Seberg esteja envolvida com Os Panteras Negras e logo vire alvo das investigações do FBI.

Ela então mergulha em uma espiral de paranoia, conforme os agentes do FBI (Vince Vaughn e Jack O’Connell) espalham boatos sobre ela e tentam destruir sua carreira. Seberg Contra Todos é a cinebiografia da atriz Jean Seberg, famosa por filmes como Acossado, Bom dia, Tristeza e Santa Joana.

A verdadeira Jean Seberg em Acossado
A verdadeira Jean Seberg em Acossado

A verdadeira Jean Seberg

Nascida em 1938, nos Estados Unidos, Seberg alcançou o estrelato aos 17 anos, quando foi a protagonista de Santa Joana, filme de Otto Preminger sobre Joana d’Arc. Embora o filme tenha sido um sucesso e sua atuação tenha sido aclamada, Seberg saiu das filmagens ferida, por fora e por dentro, uma vez que na cena da fogueira, Preminger de fato ateou fogo na atriz, o que resultou em algumas queimaduras sérias.

Mais tarde ela ficou mais famosa na França do que nos Estados Unidos, especialmente depois de estrelar Acossado, primeiro filme da Nouvelle Vague, que a elevou ao papel de ícone do cinema e do movimento Francês.

Kristen Stewart como Jean Seberg
Kristen Stewart como Jean Seberg

A atriz também teve uma grande atuação nos movimentos sociais e revolucionários dos anos 60. Seberg foi encontrada morta, no seu carro, em 1979. A morte foi determinada como suicídio, mas nunca foi muito bem explicada. Ela tinha apenas 40 anos.

Os movimentos sociais

O filme Seberg Contra Todos escolhe falar sobre o ativismo da atriz. No começo, ainda não sabemos muito bem o que ela quer, mas fica claro que ela não está feliz, embora tenha uma carreira de sucesso e pareça bem casada. Quando a moça conhece Jamal durante um voo, ela percebe a paixão do homem e acaba envolvida, tanto por ele, quanto por seus ideais. A atriz parece então, ter encontrado o que faltava em sua vida, que até aquele momento era monótona e cheia de traumas.

O filme foca no ativismo de Seberg
O filme foca no ativismo de Seberg

Então ela começa a ajudar Os Panteras Negras, com sua popularidade e com seu dinheiro. Isso chama a atenção do FBI, que começa a esmiuçar a vida da atriz. Primeiro eles espalham a história do caso entre ela e Jamal, o que, naturalmente cria um problema tanto com o marido (Yvan Attal) dela, quanto com a esposa (Zazie Beetz) dele. E eles continuam vigiando, explorando e difamando a vida da atriz, até que ela começa a ficar paranoica.

É interessante que o filme comece exatamente em maio de 1968, como nos é informado logo na primeira cena, uma vez que essa é a data em que começou a revolta dos estudantes em Paris. E se pensarmos mais a longo prazo, engloba os anos 60, período de manifestações e de extremas mudanças sociais e de costumes em todo o mundo.

A paranoia

O filme então começa a dividir seu tempo de tela entre sua protagonista, cada vez mais preocupada com a possibilidade de estar sendo escutada e seguida, e os agentes do FBI que estão monitorando Seberg. A atriz, quando descobre que está sendo observada, passa a procurar microfones em todos os cantos da sala e estranhar qualquer coincidência que presencie.

Stewart está bem caracterizada
Stewart está bem caracterizada

As pessoas à sua volta, no entanto, têm certeza que ela está ficando louca. Vemos Seberg destruir telefones, rasgar roupas e quebrar objetos em busca dos microfones que ela acredita que foram colocados em sua casa. Nesse sentido, o longa se assemelha a outros filmes que abordam celebridades em seus piores momentos, como o recente Judy – Muito Além do Arco- Irís.

O diretor poderia facilmente ter mostrado os dias de gloria de Seberg e sua carreira, que foi relativamente bem-sucedida, mas prefere mostrar os pontos mais baixos de sua vida e assim transforma Jean, um ícone do cinema francês, um símbolo sexual, a garota ideal de Acossado, em gente como a gente. O filme trabalha sempre na chave da dicotomia, ao mesmo tempo que sabemos que ela vem lidando com diversos problemas na sua vida pessoal, como as perseguições e o fim de seu casamento, também acompanhamos Seberg sorrindo para as câmeras e fingindo que tudo está bem.

Jean Seberg
Jean Seberg

Aspectos técnicos de Seberg Contra Todos

A produção certamente tem um ponto de vista interessante, uma vez que foca no ativismo da atriz. Sua vida pessoal também é mostrada, embora esse não seja o foco dessa cinebiografia. Quando o FBI começa a investigar Seberg mais a sério, o espectador também participa da investigação e fica sabendo mais detalhes sobre sua carreira.

O filme também fala um pouco sobre a vida pessoal dos agentes que estão investigando a atriz e, mais especificamente, de Jack Solomon, que parece se compadecer da protagonista em algum momento. Chegamos até a conhecer a esposa (Margaret Qualley) dele. Essa perspectiva tira a ideia de que esses homens são necessariamente monstros. Embora todos os outros agentes do FBI pareçam inescrupulosos e dispostos a acabar com a vida de Seberg, Jack demonstra um pouco de culpa pelas coisas que faz.

A produção do filme também é bem-feita e cuidadosa, os cenários nos remetem diretamente à época em que o filme se passa, e os figurinos são perfeitos, além de muito bonitos. A ideia que eles passam reflete muito a personalidade que Seberg passava em seus filmes.

O figurino nos transporta para os anos 60
O figurino nos transporta para os anos 60

Uma mulher moderna

Também é interessante ressaltar que Seberg é a única mulher branca no filme que usa vestidos típicos dos anos 60, que são mais curtos e de uma maneira geral, mais ousados. As esposas dos agentes usam roupas que vão até o joelho e são mais comportadas, tem mais um perfil de anos 50, do que de 60. As mulheres negras do filme, por outro lado, têm um figurino parecido com o da protagonista. Certamente a ideia por trás dessa escolha de figurino é mostrar o quanto Seberg era moderna para o seu tempo e de certa maneira, funciona. Fica claro que Seberg tem preocupações bem diferentes das mulheres dos oficiais.

A escalação de Kristen Stewart para o papel da protagonista, por outro lado é um pouco esquisita. Stewart e Seberg não são especialmente parecidas, mas é obvio que a atriz está caraterizada para o papel. Seus cabelos estão curtos e loiros, a maquiagem é dos anos 60, os vestidinhos são delicados e há uma pinta estrategicamente pintada. No entanto, o rosto de Seberg tinha traços bem mais delicados que o de Stewart. A impressão que temos da biografada, talvez por seus filmes, é de uma mulher extremamente doce e graciosa, o que difere muito da interpretação de Stewart.

Tudo bem que o filme retrata um período conturbado da vida dela, onde ela poderia estar se comportando de maneira diferente, e que a maneira com que a atriz se comportava nas telas não era igual a da vida real e que Stewart pode ter ido atrás de uma interpretação mais realista, mas uma vez que conhecemos Seberg basicamente por seus trabalhos, seria interessante aproximar a biografada de suas personagens.

Seberg Contra Todos mostra a atriz em seus piores momentos
Seberg Contra Todos mostra a atriz em seus piores momentos

A voz das mulheres

Seberg Contra Todos é uma cinebiografia de Jean Seberg, mas também quer falar sobre uma mulher lutando por direitos, mesmo que esses direitos não sejam dela. Em uma época onde as mulheres mal tinham escolha, ela se vê obrigada a escolher entre falar o que pensa e manter sua reputação, sua carreira, sua família e seu casamento.

Não é à toa que a primeira cena do filme recrie a cena da fogueia de Santa Joana, onde a atriz de fato se queimou. Seberg, no longa, está tão na fogueira quanto Joana d’Arc, perseguida pelo FBI, difamada entre o público e desacreditada por sua família.

Seberg Contra Todos não é um filme disposto a contar todos os detalhes da vida de Jean Seberg. Não ficamos sabendo, por exemplo, onde ela nasceu ou como foi sua criação, mas ele se foca em um assunto pelo qual sua biografada era muito apaixonada e pelo qual ela abriu mão de muitas coisas na sua vida e dessa maneira, acaba se tornando atual e trazendo à tona um lado de Seberg que pouca gente conhece. O filme entra em cartaz no dia 5 de março. Veja o trailer aqui.

Seberg Contra Todos

Nome Original: Seberg
Direção: Benedict Andrews
Elenco: Kristen Stewart, Jack O'Connell, Margaret Qualley, Zazie Beetz, Yvan Attal
Gênero: Biografia, Drama
Produtora: Memento Films International, Metalwork Pictures
Distribuidora: Cinecolor do Brasil
Ano de Lançamento: 2019
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