Rogue One: Uma História Star Wars
Produção abre mão do maniqueísmo infantil, em prol de uma verdadeira guerra nas estrelas
Diferentemente da tentativa da nova trilogia, repleta de altos e baixos e com vozes distintas, a Lucasfilm acertou em cheio ao colocar Gareth Edwards (do ótimo Godzilla de 2014) a frente de Rogue One, esse derivado super bem resolvido. O diretor claramente é fã da franquia e a compreende como um dos maiores produtos da cultura pop mundial. Ele sabe que só enxertar com fanservice não é como contar uma história. Portanto, entrega um enredo com começo, meio e fim sobre uma tentativa da Aliança Rebelde em roubar os planos de destruição da primeira Estrela da Morte.
Sendo uma ponte que antecede o clássico Uma Nova Esperança e desprovido de grilhões cronológicos mais complexos, Edwards pôde explorar sua narrativa como um verdadeiro filme de guerra, da textura mais realista (no figurino sujo dos soldados, da ambientação palpável, dos tiros que abrem feridas hediondas) até das consequências das ações (como o inevitável desfecho trágico, mas não poético).
Afinal, este não é um longa de personagens (nenhum é realmente marcante), mas de gestos e execuções, do ponto A ao B. Como já provado em sua produção anterior, o diretor sabe trabalhar a escala das coisas. E aqui, naves e planetas se apresentam muito além de cenários deslumbrantes, com um realismo de encher os olhos – para logo em seguida serem destruídas pelas forças do Império.
Rogue One: Uma História Star Wars
O elenco ganha pontos pela diversidade e talento nas escalações, mas não se pode esperar um tratamento arrojado entre a Aliança Rebelde e seus inimigos, já que são todos peças derivadas de um tabuleiro maior, que se apresenta na trilogia clássica. Dessa maneira, apesar do aparente protagonismo e dos olhos marejados, Felicity Jones está perdida entre uma pirotecnia e outra e tem pouco a fazer.
É difícil gostar dos personagens de Diego Luna, Forest Whitaker e Mads Mikkelsen, mas a escolha de aplicar o “cinza” entre os heróis foi certeira e a ousadia de ter um assassino, um extremista e um tipo de traidor na Aliança justifica todas as escolhas da trama. Ben Mendelsohn é o que melhor se encaixa na figura do vilão da vez. Donnie Yen e Wen Jiang fazem uma dupla memorável e cativante, enquanto que Alan Tudyk consegue segurar os poucos momentos cômicos com seu droide K-2SO.
No mais, os fãs podem ficar tranquilos, pois a participação de Darth Vader é realizada com muito louvor, respeito e ameaça e o mesmo dá para se dizer de Grand Moff Tarkin, ainda que a recriação digital de Peter Cushing (e Carrie Fisher) ainda não transite tão bem pelo vale da estranheza. Mas Gareth Edwards entende Star Wars como poucos atualmente e executou um conto redondinho, sem a necessidade da família Skywalker como suporte.