Uma Segunda Chance para Amar – Divertido ao extremo
Filme ganha força graças a atuação impagável de Emilia Clarke
Esta comédia romântica inglesa é quase uma receita impecável, sendo escrita com doçura pela vencedora do Oscar Emma Thompson. Uma Segunda Chance para Amar é dirigido com muita inspiração pelo responsável por “Missão Madrinha de Casamento” Paul Feig e embalado por canções eternas de George Michael.
Na história, nada parece dar certo para a jovem Kate, uma londrina frustrada que trabalha como elfa em uma loja de Natal o ano todo. Mas as coisas logo mudam para melhor quando ela conhece Tom – um rapaz encantador que parece bom demais para ser verdade. À medida que a cidade se transforma na época mais maravilhosa do ano, a crescente atração dos dois se transforma no melhor presente de todos: um romance de Natal.
Uma Segunda Chance Para Amar
O diretor, conhecido pela sagacidade de sua condução e por criar um clima forte de entrosamento em seu elenco, aqui deita e rola no humor negro. Esperto, dinâmico e francamente engraçado, ainda se permite a uma edição moderninha, que se comunica o tempo inteiro com a narrativa. Permite que seus atores não levem as encenações tão a sério. Eles justamente parecem apaixonados pelas figuras que incorporam – mesmo que derivativas de outras obras do gênero.
Assim, eles entregam personagens repletos de carisma e fofura; inclusive a própria Emma Thompson, roteirista da trama (que parece ter tido forte inspiração na premiada série “Fleabag”, de Phoebe Waller-Bridge), interpreta a mãe super preocupada e com um parafuso a menos, parte do charme da produção (que tem ainda Michelle Yeoh, Ritu Arya, Laura Evelyn e outros oferecendo performances divertidíssimas).
Emilia Clarke
Mas o longa pertence definitivamente a Emilia Clarke em uma das melhores atuações de sua carreira. A famosa Daenerys aqui abdica de suas figurações como mulher durona – que Hollywood insistiu em jogá-la, depois de “Game of Thrones” –, para se provar com forte tino para comédia. Estando completamente à vontade no gênero, ela faz uma Kate egoísta e doce, cínica e melancólica, esperta e desastrada, que funciona do começo ao fim. Sua evolução é típica de personagens que se auto-sabotam dessa forma e que, mesmo assim, passa por cima dos clichês em uma performance mais naturalista (que risada gostosa, que sorriso lindo, com aqueles olhos marejados) e super identificável com o público, seja ele qual for.
Sua química com o carismático malaio Henry Golding (do sucesso inesperado do ano anterior, em “Podres de Ricos”) é imediato e, portanto, a dinâmica da dupla, que vai se construindo para um casal, ganha rápida torcida logo de cara. O restante fica nas mãos de George Michael, que leva o longa adiante com uma trilha poderosa e familiar.
Cuidado: spoilers
Correndo o risco de estragar a única pequena reviravolta do enredo (portanto pare por aqui se você ainda não assistiu), a sacada que remete a “O Sexto Sentido” traz para o filme um ar de realismo fantástico bem-vindo. Afinal, o tempo todo o personagem do Tom parece meio deslocado do resto, quase como se ele guardasse alguma magia na manga.
E essa expectativa, de algo “fora do tom” (perdão pelo trocadilho) fica pairando pela trama o tempo todo. Assim, quando ela finalmente acontece, em vez de causar estranhamento, se torna tocante. Já vimos filmes e séries falando – seja para o amor, seja para o terror – sobre algo que “fica” quando alguém doa seu coração, portanto sua vida, para um estranho, mas Thompson torna esse plot e essa cirurgia em uma experiência mais do que agradável em seus resultados finais. Sendo assim, a mensagem é bonitinha e forte: afinal, as soluções para os problemas sempre estiveram nas mãos de sua protagonista. Querer é poder.
Num oceano com tantas produções do gênero (que voltaram a ganhar força no streaming), Uma Segunda Chance para Amar é uma adesão muito acima da média, que salva qualquer quarentena do acaso ou do sufoco, oferecendo de fato uma segunda chance para continuar. Sempre em frente. E não se esqueça de olhar para cima.