A Favorita – Três atuações impecáveis…
...coroam essa história sobre discórdias na corte
O grego Yorgos Lanthimos é um cineasta de mão cheia, assim como prova seu currículo de pequenas jóias raras (como ”O Sacrifício do Cervo Sagrado” e ”O Lagosta”, que segue sendo o meu predileto do diretor) e aqui em A Favorita realiza seu filme mais bem resolvido tecnicamente e, em definitivo, o que conta com as melhores atuações e direção de arte (não só dentre os seus, como do cinema atual inclusive).
1708. A Guerra da Sucessão Espanhola coloca a Grã-Bretanha em conflito com a França. No trono britânico, a então Rainha Ana é uma monarca disfuncional, com pouco interesse nos problemas reais e foco voltado para atividades “pouco comuns”. Com isso, Sarah Churchill, Duquesa de Marlborough, usa sua influência para ditar os rumos da nação.
Entretanto, esta posição de conforto da Duquesa começa a ser questionada com a chegada de Abigail Masham, prima de Sarah. Ela pede um emprego na corte, e logo se torna a queridinha da majestade, agarrando com unhas e dentes essa oportunidade única. Indicado a 10 Oscars no ano passado, A Favorita faz por onde, ao destilar veneno, astúcia e diálogos afiados durante toda sua rodagem, mantendo um ritmo saboroso para qualquer espectador de bom gosto, enquanto Lanthimos brinca com seu típico humor negro para conduzir uma narrativa repleta de improbabilidades e sutilezas ácidas.
A Favorita
O show é do trio de atrizes de diferentes gerações e que seguem com raras manchas em suas carreiras, tendo aqui a possibilidade de brilharem sem que uma compita com a outra. Na primeira parte, Rachel Weisz deita e rola no cinismo e crueldade, abrindo alas para a sempre bonitinha Emma Stone mostrar quem realmente sua personagem é, depois de descobrir um pequeno segredo e ver nessa brecha uma forma de ganhar com isso.
Olivia Colman, que levou o merecido Oscar pela atuação nesse filme, está impagável como uma rainha em ruína, meio vítima das intrigas da corte (que ainda conta com a participação de Nicholas Hoult, outro que sempre faz escolhas acertadas de papéis e se diverte por aqui). Tudo isso embalado por figurinos e cenários belíssimos que representam fielmente o período, e uma trilha sonora bastante imersiva e, por que não, também satírica.
Quebrando a romantização da época e de outras produções sobre o período, Yorgos Lanthimos alcança um domínio de técnicas e ideias, que assim o mantém no pódio como um dos diretores mais inventivos de sua geração. Depois de A Favorita, o século 18 nunca mais será visto da mesma maneira.