O Conto das Três Irmãs – Onde os sonhos acabam
O drama que disputou o Urso de Ouro no 69º Festival de Berlim, conta a história das irmãs Reyhan, Nurhan e Havva, originárias de uma antiga aldeia nas montanhas do interior da Turquia, que foram enviadas para famílias ricas da cidade como “beslemes” (filha adotiva e empregada doméstica), na esperança de melhorar suas vidas. Porém, por diferentes motivos, são obrigadas a voltar para a casa de seu pai, durante os anos 1980.
Em seu terceiro longa, Emin Alper (que em sua curta carreira já abocanhou 35 prêmios e 16 indicações) busca expressar a situação das mulheres nascidas na Anatolia, praticamente isoladas do mundo, firmada por uma linha realista e realçada em tom fabulesco para adultos, em um cenário onde promessas são feitas, mas jamais cumpridas, deixando a pequena comunidade viver apenas de falsas esperanças.
Tendo sido o próprio cineasta criado por uma dessas beslemes na infância e inspirado pelo conto ”As Três Irmãs” de Anton Tchekhov, o filme substitui Moscou pela “cidade”, mas mantém o anseio das irmãs em voltar para a civilização e fugir da vida provinciana e imutável que levam.
O Conto das Três Irmãs
Cemre Ebüzziya, Helin Kandemir e Ece Yüksel fazem as três irmãs, respectivamente Reyhan, Havva e Nurhan. Bem diferentes entre si, com níveis distintos de maturidade e de como enxergam a vida. Enquanto uma já sabe como viver nos dois mundos e carrega uma criança, a outra ainda tem sonhos inocentes para o futuro, à medida que a terceira parece guardar traumas dos quais não consegue se desvincular.
O ótimo Müfit Kayacan faz o pai das garotas, responsável pelos momentos mais naturalistas da rodagem (que por vezes flerta com a encenação forçada). Kayhan Açikgöz faz o marido de uma delas, um homem ignorante, mas não isento de sonhos e responsável pelas cenas mais chocantes do longa. Basak Kivilcim Ertanoglu interpreta uma figura alheia à trama, que parece abraçar a loucura, já que nada mais lhe restou. E talvez seja a personagem mais sensata dentre todos. Por fim, Kubilay Tunçer é o ponto de equilíbrio, como o homem rico da cidade, que guarda seus segredos e suas promessas.
Com um elenco inspirado e um enredo forte, Alper constrói um anti-conto de fadas, sustentado em grande parte por longos diálogos, conversas rotineiras e pequenas subtramas de uma comunidade desiludida, com algumas tragédias aqui e ali, e apenas histórias para se contar como refúgio, a fim de manter a sanidade na vastidão desolada de um lugar esquecido.
https://www.youtube.com/watch?v=38UJxwbx8WI&feature=youtu.be&ab_channel=SupoMungamFilms