M8 – Quando a Morte Socorre a Vida
Suspense com aspectos sociais
Maurício (Juan Paiva) acabou de entrar na faculdade de medicina e está animado por realizar o seu sonho. Logo ele se depara com uma série de questões que o diferenciam de seus colegas: ele é o único negro da turma, ele é cotista e não tem as mesmas condições que os outros alunos.
Mas essas não são as únicas coisas que vão assombrar Maurício na faculdade. Ele logo nota que todos os cadáveres utilizados nas aulas de anatomia são de jovens negros e começa a se perguntar quem eram aquelas pessoas.
Para entender, Maurício vai ter que começar a enfrentar suas próprias angústias.
Maurício
O protagonista de M8 – Quando a morte socorre a vida é Maurício, jovem de classe baixa, criado pela mãe (Mariana Nunes), que acabou de entrar na faculdade de medicina.
O contraste entre Maurício e os seus colegas de turma é delimitado logo no começo do filme. Ele é o único aluno negro da classe. Para além disso, acompanhamos enquanto todos os colegas dele vão para a aula de carro, e ele usa o transporte público.
É aí que o filme se estabelece, por isso, fica claro que o que temos é uma grande alegoria ao racismo e ao tratamento que a população negra recebe no Brasil.
Embora Maurício faça amigos no curso, ele ainda é visto com maus olhos por alguns colegas, que acham que o sistema de cotas não é justo e que Maurício não merece estar na faculdade. Até mesmo seus amigos cometem pequenos atos racistas, mesmo que não tenham intenções de atacar Maurício diretamente.
Corpos negros
Uma coisa que chama a atenção em M8 – Quando a morte socorre a vida é o fato de Maurício ser o único aluno negro na faculdade de medicina. O longa, no entanto, tem outros personagens negros, entre eles os empregados da faculdade e os corpos que servem de estudo nas aulas de anatomia.
Quando Maurício nota isso, ele sente que está muito mais próximo dos cadáveres, que serão abertos e estudados, do que dos seus colegas de turma. Não é à toa que ele chega à conclusão que precisa descobrir quem são aquelas pessoas.
Maurício descobre que aqueles homens são considerados indigentes, ao mesmo tempo em que conhece um grupo de mulheres negras que procura seus filhos desaparecidos. É assim que o filme fala sobre quanto vale a vida dos negros.
As únicas pessoas que parecem se importar com os corpos usados na aula são Maurício e as mães que procuram seus filhos. Para o resto das pessoas – inclusive os funcionários negros – os homens mortos fazem parte do dia a dia.
M8 usa do suspense para falar de assuntos muito próximos a vida real, como racismo e violência policial e, por isso, é um filme que fala diretamente com os dias de hoje.
Aspectos técnicos de M8 – Quando a morte socorre a vida
O filme parte de um roteiro bem interessante, que não só apresenta um suspense, como também dá aspectos sociais e que devem ser discutidos a essa trama. A ideia é bem próxima de filmes como Corra! e Nós, que também trabalham com temas parecidos.
Esta produção traz vários temas importantes à tona, como o racismo, velado ou não, a violência policial, a violência contra a população negra e o descaso, mas também tem uma trama bem interessante que prende a plateia.
No entanto, muitas vezes o filme pode soar explicativo demais, como quando, por exemplo, Maurício explica para Suzana (Giulia Gayoso) porque ela agiu de maneira racista em uma cena em que ela demonstrou medo diante de vários garotos negros. A plateia também viu a cena e entendeu muito bem o que aconteceu.
Suspense
É óbvio que o longa traz muitos assuntos que precisam ser discutidos com urgência, entre eles, o racismo que está enraizado em boa parte dos brasileiros, mas é nesses momentos que o filme perde sua subjetividade, que é o mais interessante em um suspense com aspectos sociais. Afinal, sempre é mais interessante mostrar do que falar.
Essa não é uma questão que atrapalhe o resultado total do filme, que é um suspense que traz não só aspectos sociais, mas também questões que dizem respeito especificamente ao Brasil e a nossa cultura. O filme tem bastante cuidado com a sua parte técnica. A fotografia, por exemplo, brinca bastante com a luz e o escuro, dando todo o clima que um filme de suspense precisa.
M8 também tem um grande elenco negro, o que é ótimo e faz todo o sentido dentro da trama que está sendo apresentada. Juan Paiva, que interpreta o protagonista, está muito bem no filme e faz com que a plateia se afeiçoe ao seu personagem.
O longa apresenta uma trama que prende o telespectador, ao mesmo tempo em que discute temas que dizem respeito à sociedade e que merecem mais atenção. M8 – Quando a morte socorre a vida chega aos cinemas no dia 3 de dezembro.