Jovens Bruxas: Nova Irmandade – The Craft: Legacy
Temas atuais, trama descuidada
Lily Schechner (Cailee Spaeny) se muda com sua mãe, Helen (Michelle Monaghan), para uma cidade pequena, onde elas pretendem viver com Adam Harrison (David Duchovny), o novo marido de Helen e seus três filhos, Jacob (Charles Vandervaart), Isaiah (Donald MacLean Jr.) e Abe (Julian Grey).
Lily tem dificuldades para se enturmar na escola, mas logo conhece Frankie (Gideon Adlon), Tabby (Lovie Simone) e Lourdes (Zoey Luna). As três garotas fazem parte de um clã de bruxas que precisa de uma quarta integrante.
Quando Lily começa a ficar mais confortável com as novas amigas, elas descobrem que a garota tem um poder inerente e que ela é a quarta integrante que elas estavam procurando.
Jovens Bruxas: Nova Irmandade – As garotas
O que temos aqui é uma continuação do filme “Jovens Bruxas”, de 1996, e a ideia por trás desse filme é mais ou menos a mesma. Os dois longas apresentam três amigas envolvidas em bruxaria que encontram uma quarta integrante – que também é a mais poderosa das quatro – em uma novata na cidade. O longa de 2020, no entanto, parece querer dar uma modernizada no tema.
A primeira mudança é que as meninas que fazem parte do clã têm características físicas e raciais bem diferenciadas. Lily, a protagonista, é branca e magra, já Tabby é negra e Lourdes é latina. Ela e Frankie também são interpretadas por atrizes curvilíneas, que alguns anos atrás estariam completamente fora dos padrões hollywoodianos.
A segunda mudança é a maneira com que a amizade das meninas é tratada. No filme dos anos 90, o que mais prevalecia era um clima de rivalidade, que ficava bem claro na relação de Nancy Downs (Fairuza Balk), a líder do clã e Sarah (Robin Tunney), a novata que se mostrava mais poderosa. Essa rivalidade, motivada basicamente por inveja, não aparece no novo filme.
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Logo percebemos que Lily é a bruxa mais poderosa entre as quatro meninas. Diferentemente de suas amigas, ela nunca estudou o assunto, mas já é capaz de fazer coisas que as outras não conseguem. No entanto, isso não é um problema para o resto do clã, que não só recebe Lily muito bem, como está sempre disposto a ajudá-la.
O filme também tem personagens LGBTQIA+, embora isso não seja muito bem explorado. As mudanças, é claro, fazem com que Jovens Bruxas: Nova Irmandade tenha muito mais sentido para os dias de hoje.
O poder feminino
O tema principal de Jovens Bruxas: Nova Irmandade é o poder feminino, o que, mais uma vez, não só faz sentido nos dias de hoje, como também faz sentido dentro da religião Wicca, que venera Deusas. A figura da bruxa na literatura e no cinema está sempre conectada com a imagem feminina.
Aqui temos uma protagonista e mais três amigas que são capazes de fazer uma série de feitiços. O poder delas vai aparecendo aos poucos e no começo os feitiços são simples. Mas, com o tempo, elas já conseguem dominar seus poderes.
O filme tem muitos outros símbolos que indicam a ideia de ressaltar o poder feminino. Logo que Lily chega à sua nova escola, por exemplo, ela vira motivo de piada quando fica menstruada durante a aula e mancha toda a calça. A menstruação está diretamente ligada aos aspectos femininos, e em muitas tramas fantásticas, que envolvem poderes, eles só se manifestam depois que as personagens menstruam pela primeira vez. Esse acidente é o motivo pelo qual Lily fica amiga de Frankie, Tabby e Lourdes, já que elas resolvem ajudá-la.
Em contrapartida a Lily e suas amigas, temos seu padrasto Adam e seus três filhos. Lily e sua mãe (duas mulheres) se mudam para a cidade onde o filme se passa para viver com Adam e seus filhos (quatro homens). Adam é conservador e faz comentários machistas com frequência. Ele também estuda o sagrado masculino, o que soa quase contrário a toda ideia do filme.
A trama
A ideia por trás do roteiro de Jovens Bruxas: Nova Irmandade é interessante e obviamente bem estudada. Esses elementos aparecem na trama, o que prende o telespectador por uma boa parte do filme, o problema é como ele prossegue a partir daí.
Embora parta de uma boa concepção e tenha clara noção do público alvo, o roteiro se perde muito quando começa a desenvolver a história de seus personagens. Parece que a ideia é sempre trazer uma informação cada vez mais chocante.
Então, primeiro as meninas enfeitiçam o valentão da escola, Timmy Andrews (Nicholas Galitzine), que vira um garoto legal, que defende as minorias, acredita no feminismo e se apaixona por Lily mas, o que acontece a partir daí, é que o filme começa a jogar um plot twist atrás do outro, sem muitas explicações e até sem muita lógica. Cada vez que pensamos que o acontecimento mais absurdo já passou, o longa nos joga uma outra situação ainda mais maluca.
O grande problema é mesmo a trama, porque o filme tem uma ideia interessante e é perfeito para os dias de hoje, embora flerte com várias causas e desenvolva poucas delas.
Aspectos técnicos de Jovens Bruxas: Nova Irmandade
A produção não é grandiosa e nem fez muito barulho na época de seu lançamento. A ideia é requentar um filme que fez sucesso nos anos 90, com a intenção de atrair não só quem era criança/adolescente na época de “Jovens Bruxas”, como também os jovens de hoje. Ele faz uma ligação muito leve com o filme antigo, que pode até passar batida por quem não é tão fã ou é mais desatento.
O figurino é outra referência ao filme original, uma vez que ele tem um perfume muito marcante dos anos 90, quase como se os anos 2020 revisitassem as grandes tendências de trinta anos atrás, o que funciona muito bem.
Em muitos aspectos, o longa é como um filme adolescente americano. Ou seja, temos garotas tímidas, valentões, cenas na escola, bullying e festas com muito álcool. O diferencial de Jovens Bruxas: Nova Irmandade é a questão fantástica que circunda suas quatro personagens principais.
As ideias que o longa abraça, no entanto, poderiam render boas tramas, que falam com a atualidade e que representariam uma certa inovação no cinema. Porém, infelizmente, embora se esforce, a trama é fraca, vai se perdendo com o tempo e na metade já soa surreal demais, até para um filme pautado na fantasia, o que faz com que a audiência perca o interesse.
O elenco
O elenco não chama atenção especialmente, embora o público tenha a tendência a gostar de Lily e de suas fiéis amigas, as atuações são fracas. David Duchovny, que é um bom ator, parece estar no piloto automático e sem muita vontade de atuar.
O filme também abraça muitas causas e não dá conta de lidar com todas elas. A questão feminista, por exemplo, parece uma preocupação genuína da roteirista e que combina com o tema abordado. A trama LGBTQIA+, que é bem porcamente explorada, soa como uma maneira de colocar um personagem obrigatório que se enquadre em uma das letras da sigla.
Jovens Bruxas: Nova Irmandade tem todos os elementos necessários para um filme feito nos anos 2020, é uma pena que o roteiro não se esforce para soar minimamente realista e que ele tente abraçar muito mais do que é capaz.