As Falsas Confidências – Supo Mungam Films
Inspirado em uma peça de Pierre de Marivaux
Araminte (Isabelle Huppert) é uma rica viúva, prometida a um Conde (Jean-Pierre Malo), mas quando ela contrata Dorante (Louis Garrel) como seu secretário, as coisas começam a mudar.
Dorante se apaixona por Araminte e tenta convencê-la a não se casar com o Conde.
As Falsas Confidências é inspirado em uma peça de Pierre de Marivaux.
Dorante e Araminte
A relação entre os dois protagonistas começa de maneira simples: Dorante vai até a casa de Araminte para participar de um processo seletivo para ser secretário da viúva. Ele tem uma vantagem, pois foi indicado por um amigo de Araminte e, por isso, é o favorito.
O rapaz consegue o emprego e passa a viver na casa de Araminte e trabalhar lado a lado com ela. Além de Dorante, o local tem uma série de outros empregados, como Dubois (Yves Jacques) e Marton (Manon Combes) e a vida da patroa e do staff se cruza o tempo todo.
A convivência faz com que Dorante se apaixone por Araminte, e ela não parece incomodada com a afeição do rapaz, mas existe um empecilho. A mulher foi prometida por sua mãe (Bulle Ogier) ao Conde Dorimont, como uma maneira de evitar uma batalha legal por um terreno.
Dorante, apaixonado por Araminte, começa a tentar convencer a mulher que ela poderia facilmente vencer um processo contra o Conde, o que a livraria do casamento, possibilitando que os dois ficassem juntos. Ao mesmo tempo, Marton começa a imaginar que Dorante está interessado nela, causando um problema ainda maior na casa.
Farsa
As Falsas Confidências é inspirado em uma peça de Pierre de Marivaux, de 1737 e o filme tem muitos aspectos do teatro. Primeiro, é o gênero onde ele se coloca: As Falsas Confidências é uma farsa e mesmo que esse gênero não exista oficialmente no cinema e seja típico do teatro, o longa não foge nada disso. A história é simples, a trama é curta e poucos personagens aparecem em cena.
Claro que o motivo pelos quais peças como essa continuam sendo adaptadas é o fato de que elas tratam de temas universais, que se mantém relevantes e é o caso aqui também, no entanto, isso não deveria impedir que uma atualização desses temas fosse feita.
O que o filme apresenta é uma trama dos anos 1700, com muitos aspectos que já não dizem respeito e nem fazem muito sentido nos dias de hoje, com figurinos modernos e diálogos um pouco mais atuais. Quando assistida com os olhos de hoje, muitas das questões soam absurdas, como a ideia de uma mulher adulta que foi prometida a um Conde ou sequer a existência de Condes, que ainda se apresentam com esse título.
O filme não nos diz exatamente em que época ele se passa, e o figurino não é especialmente datado – embora fique claro que ele é do século XX ou XXI -, mas o que o telespectador assiste são pessoas vestidas com roupas relativamente atuais se portando como pessoas que viveram em 1737.
Quando não moderniza seu conteúdo e nem tenta relacionar a peça com os dias de hoje, As Falsas Confidências perde uma das melhores chances que uma adaptação de um clássico pode ter: provar que ele é de fato, universal.
Aspectos técnicos de As Falsas Confidências
A trama é relativamente simples. Inspirado em uma peça, o longa mantém os ares de farsa e não moderniza quase nenhum aspecto de sua história, o que é um grande problema. A trama da peça, mesmo sendo simples, poderia passar mensagens para os dias de hoje, se tivesse sido trazida para a atualidade e relacionada com o mundo contemporâneo, mas como não faz isso, perde várias chances.
É justamente por isso que o filme perde seu público no meio do caminho. É muito difícil para alguém nos anos 2010, se relacionar com uma história de Condes e castelos, que não se define como um filme de época. Quando assistimos os personagens usando roupas atuais, mas se comportando como pessoas de outra época, o filme parece só uma bagunça, que faz com que o espectador se pergunte por que uma mulher adulta, que aparentemente vive no século XX ou XXI, precisa ser prometida? E por que ela precisa se casar a mando de sua mãe?
As Falsas Confidências também se mantém muito fiel ao teatro nos seus aspectos técnicos. O texto até soa natural, mesmo porque o elenco é composto de bons atores, mas o filme todo se passa em um só ambiente e o clima é de teatro. Filmes que não conseguem se desvencilhar do teatro são, em sua maioria, parados e tediosos, porque existe uma diferença gigantesca entre assistir a uma peça, ao vivo, onde você está completamente envolvido com a trama, atores, luzes, trilha sonora e o resto da plateia e assistir a um filme no cinema, onde a obra final já está pronta. O longa vai se tornando cada vez mais parado e é muito fácil perder a atenção, embora ele não seja um filme comprido.
Tanto Isabelle Huppert, quanto Louis Garrel se saem muito bem nos seus papeis, mas a atuação dos dois não é suficiente para deixar a produção interessante e a sensação geral é que o filme sai de lugar nenhum, para lugar nenhum.
É inegável que existem textos que contam tramas tão universais e tão realistas que façam sentido em qualquer época ou espaço, no entanto, é sempre necessária uma adaptação. As Falsas Confidências peca quando entrega um texto muito fiel ao original e que por isso, soa datado, quando poderia entregar uma versão atual de uma história atemporal. O filme está disponível na plataforma Supo Mungam Plus.