Katy Keene – Série derivada de Riverdale
Katy Keene (Lucy Hale) é uma aspirante a estilista que vive em Nova York e trabalha na Lacys, enquanto faz suas criações durante a noite. Ela divide o apartamento com seu melhor amigo, Jorge Lopez (Jonny Beauchamp), que quer ser um dançarino na Broadway e que, à noite, se transforma na drag queen Ginger Lopez.
Os dois recebem uma nova moradora, Josie McCoy (Ashleigh Murray), de Riverdale, que deseja ser cantora.
Quando Katy perde uma promoção no trabalho e começa a questionar seu relacionamento de longa data com KO Kelly (Zane Holtz), ela nota que tem novas oportunidades, ao mesmo tempo que seus amigos seguem em busca de seus sonhos.
Katy Keene é inspirada nos quadrinhos da personagem e se passa no mesmo universo de Rivedale e O Mundo Sombrio de Sabrina.
Artistas
O conceito de Katy Keene é bem simples: a série acompanha vários artistas que tentam viver de sua arte em Nova York. Katy quer ser estilista mas, por enquanto, só consegue ser uma vendedora muito competente em uma loja chique; Jorge quer dançar nos espetáculos da Broadway mas, sempre acaba perdendo papéis porque o consideram “muito feminino”; Josie quer gravar um disco e está em Nova York em busca de um contrato; e Pepper (Julia Chan) quer abrir uma boate no estilo da The Factory, de Andy Warhol.
Essa é uma ideia relativamente comum, que pode ser vista em outras séries e filmes e que, em muitos aspectos, funciona. É interessante acompanhar esses jovens navegando pelo começo de suas vidas adultas e suas carreiras e é fácil se reconhecer com muito do que acontece com eles. Como a série tem vários tipos de artistas, com sonhos diversos – embora relativamente parecidos – ela apela a um público grande.
Também existe uma grande preocupação em se enquadrar nos dias de hoje, por isso, Katy Keene tem personagens LGBTQIA+ e até uma personagem drag, o que é raríssimo em obras que não tratam diretamente desse assunto. Além disso, faz referências a coisas da atualidade e usa de músicas modernas, mas mesmo assim, a atração não funciona.
A falta de realismo de Katy Keene
Um dos grandes problemas é que a série não é nem um pouco realista. A trama se passa dentro de um universo que não é fantástico em uma cidade que existe no mundo real, por isso, espera-se que ela se pareça, mesmo que minimamente, com a realidade.
Os personagens têm vinte e poucos anos, pouca experiência e estão tentando carreiras difíceis, mas de alguma maneira misteriosa sempre são reconhecidos e conseguem empregos em um piscar de olhos. Katy pode não conseguir a promoção que queria, mas seu talento para desenhar e costurar roupas é rapidamente notado por pessoas famosas e poderosas.
Josie mal chega em Nova York quando é descoberta por Alexander Cabot (Lucien Laviscount), CEO da gravadora de seu pai, cantando no Central Park; e Pepper fecha negócios com uma facilidade assustadora. Só Jorge que é sempre recusado nos seus testes, mas que tem muito sucesso com sua drag.
Muita viagem…
Outro assunto que vem à tona na série são as relações românticas de seus personagens e, mais uma vez, tudo é muito idílico e extremamente irrealista. Katy namora KO há anos, mas sente dúvidas em relação ao relacionamento dos dois. Logo que eles terminam, Katy já encontra um outro interesse romântico assim que vira a rua e Josie não só encontra uma carreira quanto conhece Alexander, como também começa a namorá-lo.
É óbvio que quando se assiste a uma série de ficção, espera-se ver vidas melhores que as nossas, mas quando elas parecem completamente inalcançáveis e o que a plateia vê é algo com o qual não é possível se relacionar de maneira nenhuma, a obra soa quase surreal. Katy tem roupas lindas, um trabalho legal, uma vida romântica agitada e passa boa parte de seu tempo livre em festas.
A ideia é reforçar a premissa de que “Nova York é o lugar onde os sonhos se tornam realidade”, mas qualquer pessoa adulta que vive em uma cidade grande – seja Nova York, Londres ou São Paulo -, onde supostamente existem muitas oportunidades, sabe que esse pensamento é muito inocente. Independente disso, mesmo pessoas muito talentosas e sortudas, erram e falham algumas vezes, o que parece nunca acontecer aqui.
Katy Keene com seus personagens que sempre se dão bem e seus planos que nunca falham, parece uma mistura de Sex and The City e Emily in Paris, que não cola de maneira nenhuma.
Musical
Por outro lado, um ponto que funciona é o fato da série ser musical. Músicas como Million Reasons, You Can’t Hurry Love, City of Lights, Dirrty, Unbreak My Heart e Dreams fazem parte da trilha sonora e são interpretadas pelos atores em cena.
“Riverdale”, a série irmã de Katy Keene, não é originalmente um musical, mas força músicas no seu enredo o tempo todo e, com a desculpa de criar episódios musicais, mistura suas tramas completamente. Já Katy Keene parece ter sido pensada como um musical e, por isso, funciona melhor. As tramas dos personagens não parecem terem sido alteradas para caberem dentro de um número musical e como a obra retrata quase que unicamente artistas, esses aspectos se completam.
A produção lembra muito as três últimas temporadas de Glee, que também era uma série musical que acompanhava jovens artistas tentando vencer em Nova York e que, assim como Katy Keene, soava extremamente irrealista. As partes musicais, no entanto, são o que a série oferece de melhor.
Aspectos técnicos de Katy Keene
A série se passa no mesmo universo de Riverdale e O Mundo Sombrio de Sabrina, mas tenta manter um estilo um pouco mais realista. Os acontecimentos se dão um pouco depois daqueles de Riverdale, e Josie, uma das personagens da segunda série, também é uma personagem aqui.
Por isso, a série tem várias citações a Riverdale, que só fazem sentido para quem assistiu a original, e que soam forçadas, como se Josie precisasse nos lembrar o tempo todo que Katy Keene só existe devido ao sucesso de Riverdale. Alguns personagens de Riverdale também fazem participações especiais, como Veronica Lodge (Camila Mendes) e Kevin Keller (Casey Cott).
Também existe uma certa preocupação em falar com o público atual. A série tem personagens gays, bissexuais e uma drag queen, além da participação de Shangela, uma ex-participante de RuPaul’s Drag Race, interpretando uma drag queen rival de Ginger. Embora a ideia seja bem interessante e deva-se ressaltar a representação, a história de Jorge/Ginger não é exatamente criativa e, como o resto da série, é bobinha.
O grande problema é ser muito irrealista
É natural que uma obra de ficção queira nos dar emoções que normalmente não sentimos, mas também é interessante acompanhar personagens com problemas e falhas. Uma personagem que sempre é reconhecida e consegue tudo o que quer, mesmo quando erra, é cansativa e faz com que a plateia se afaste.
A parte técnica de Katy Keene, no entanto, é muito cuidadosa e bem-feita. Nova York, que aqui é quase uma personagem, é o cenário ideal para a história que está sendo contada, e a fotografia dá bastante destaque a isso. As vidas de seus personagens também se relacionam especificamente com a cidade, uma vez que Jorge quer ser dançarino na Broadway.
O figurino é impecável e muito bem pensado. As roupas sempre têm tons fortes e, embora os outros personagens usem roupas bem bonitas, o grande destaque é de Katy, que não só é a protagonista, como também é uma estilista, ou seja, conhece muito de moda. O figurino dela é feminino e delicado e sempre tem, pelo menos, algum detalhe em vermelho, que é a sua marca registrada.
A série também tem boas atuações. Lucy Hale está muito bem no papel e Jonny Beauchamp consegue transmitir tanto Jorge, quanto Ginger. A personagem de Ashleigh Murray é um pouco irritante, mas esse não é um problema da atuação e tem muito a ver com o fato dela ficar o tempo todo falando das tramas de Riverdale.
Katy Keene tem uma trama instigante, que poderia gerar reconhecimento em boa parte dos jovens adultos, mas quando aposta em soluções fáceis e em cenários completamente idealistas, perde toda a sua graça e se torna falsa e entediante.