A Colheita – O beabá do filme de terror
Jake (Chris Conner) e Dinah (Elena Caruso) estão com problemas no casamento e, para se reconectarem, se mudam com os dois filhos, Steven (Noah Headley) e Michaela (Accalia Quintana), para uma cidade do interior, povoada majoritariamente por Amish. Logo que a família chega, coisas estranhas começam a acontecer e Dinah passa a sentir uma presença maligna nos moradores e no local.
Clichês do gênero em A Colheita
Assim como acontece com frequência em filmes de terror, este não foge de aspectos muito básicos e muito conhecidos do gênero. O longa segue o casal Jake e Dinah, que está tendo problemas no casamento e tenta, a todo custo mantê-lo. Os dois resolvem, então, passar um tempo em uma cidade do interior, chamada Amish Country, que é composta quase que inteiramente por Amish.
A cidade é deserta e é, por si só, bem sinistra. Os habitantes não ajudam a desmentir essa ideia: eles parecem vagar pelo local, sem conversarem entre si e ignorando Jake, Dinah e seus filhos. Dinah se sente ainda mais ameaçada quando uma das mulheres fala que ela e seus filhos devem ir embora do local.
A Colheita então, atira para todos os lados: Michaela faz amizades com algumas crianças que só ela vê e que seus pais supõem serem amigos imaginários; Steven recebe informações privilegiadas sobre a crise no casamento de seus pais de um homem que aparece misteriosamente no seu quarto; e Jake vai pouco a pouco se tornando violento e irascível.
Não existe nenhum problema em se usar de clichês, e filmes de terror fazem isso com bastante frequência, justamente porque isso funciona, em maior ou menor medida. No caso de A Colheita, no entanto, não dá tão certo. O longa apresenta muitas tramas e tenta prender o público de qualquer maneira, mas é até difícil compreender completamente o que está acontecendo em Amish Country, já que somos apresentados a várias hipóteses. Para quem é consumidor de filmes de terror, então, é muito fácil prever o caminho que A Colheita vai tomar, afinal, tudo que aparece aqui já foi visto anteriormente.
Folk horror
A Colheita pode muito facilmente se encaixar no subgênero do folk horror, que é um terror que explora o isolamento das cidades do interior e que geralmente está ligado a seitas. O clima do longa lembra bastante o de filmes como O Homem de Palha e o mais recente, Midsommar – O Mal Não Espera a Noite.
Um dos elementos mais relevantes desse subgênero é justamente o estranhamento e a colisão entre os dois mundos e isso está presente aqui. Jake, Dinah e seus filhos são pessoas da cidade grande, com criações diferentes dos moradores de Amish Country. O começo do filme, quando somos apresentados tanto à família protagonista, quanto aos moradores da cidade, parece retratar dois filmes completamente diferentes e que de maneira nenhuma podem se conectar, mas eles se unem e é justamente isso que causa algumas das tensões.
“O Homem de Palha”, um dos filmes mais famosos do gênero, trabalha esse aspecto muito bem. Esse é, inclusive, o tema principal da trama, que apresenta um homem racional e católico, que não acredita que nenhum outro tipo de fé além da sua é possível, que se embrenha em uma cidade dominada por uma seita pagã. O embate é óbvio e nesse caso, terrível.
Mas não é exatamente isso que acontece em A Colheita. Fica claro para o telespectador que Jake, Dinah, Steven e Michaela têm vidas bem diferentes das dos habitantes de Amish Country, que são representados como estranhos, sinistros e, algumas vezes, até malucos, mas não existe nenhum embate real ou profundo entre eles, o que certamente, prejudica o filme.
Aspectos técnicos de A Colheita
O longa mergulha em todos os clichês de filmes de terror possíveis e tenta se inserir em diversos subgêneros. Há muitos aspectos do folk horror, mas também de elementos do terror com fantasmas, casas assustadoras e alusão a uma presença maligna que persegue a família. Para qualquer pessoa que assiste filmes do gênero com frequência, o longa soa repetitivo.
Os clichês por si só, não seriam um problema tão grande, se o filme fosse, pelo menos, assustador. A Colheita não tem muitas cenas assustadoras e aposta muito mais na atmosfera de medo, mas nenhuma das duas coisas deixam o telespectador tenso ou amedrontado.
Outro problema é que A Colheita é um filme lento, que demora para dar as caras e que quase não engrena. A plateia então, não se sente presa à família e, portanto, não torce por ela. A ideia da cidade pequena, habitada por pessoas bem diferentes dos protagonistas, é interessante, mas é mal explorada e o filme perde bastante com isso.
A Colheita aposta em muitas tramas, mas não desenvolve nenhuma delas de maneira satisfatória, e acaba deixando o telespectador cansado. O filme está disponível nas principais plataformas digitais.