Amonite – Um romance bonito e delicado
Mary Anning (Kate Winslet) é uma mulher solitária que vive com sua mãe (Gemma Jones) já idosa e passa seu tempo livre procurando fósseis na praia. As duas mulheres administram uma pequena loja de onde tiram seu pouco sustento e Mary eventualmente consegue vender algum fóssil que encontra.
Um dia, o geólogo Roderick Murchison (James McArdle) e sua esposa, Charlotte (Saoirse Ronan), chegam à loja de Mary porque ele quer acompanhar seu trabalho. Ela aceita contra sua vontade, porque o homem está disposto a pagar.
Quando Roderick precisa sair da cidade, ele pede que Mary passe um tempo com Charlotte, que está em um estado depressivo, e Mary mais uma vez aceita pelo dinheiro. Quando Charlotte cai doente, Mary passa a cuidar dela e as duas mulheres vão se aproximando e desenvolvendo um sentimento mais profundo.
Amonite – Quem foi Mary Anning
Mary Anning de fato existiu e foi uma paleontóloga, negociadora e coletora de fósseis inglesa. A história que aparece no filme, no entanto, não é completamente baseada na vida dela, já que não existe nenhum registro sobre a sexualidade dela ou sobre qualquer relacionamento que ela tenha tido.
Amonite a constrói como uma mulher solitária e reclusa, que mora com a mãe em uma casa pequena e vive das poucas vendas de uma lojinha. Mãe e filha são pobres e sempre têm pouca comida, por isso, Mary é praticamente obrigada a vender os fósseis preciosos e importantes que ela encontra.
O único momento em que Mary parece se sentir realmente feliz é quando ela está na praia, procurando fósseis e, mais tarde, quando os limpa, arruma e pesquisa sobre eles. Para o público, que desde o começo acompanha Mary, é um pouco difícil se conectar com ela, já que ela é claramente uma pessoa mal-humorada e que não gosta de se aproximar de ninguém, mas ela vai mudando um pouco com a chegada de Charlotte.
Charlotte
A outra personagem importante do filme é Charlotte, que aparece pela primeira vez ao lado de seu marido, Roderick, sem falar nada. Quando nos aproximamos dela, notamos que ela está presa em um casamento onde não tem muito espaço e nem muita voz, e está deprimida, por isso, é mais fácil se afeiçoar de Charlotte do que de Mary, já que a primeira parece mais disposta a mudar.
Quando seu marido viaja, Charlotte é jogada nas mãos de Mary, que promete passar um tempo com ela em troca de dinheiro, mas que na realidade, só a leva à praia enquanto procura por fósseis. Charlotte, que é melancólica e não gosta do mar, passa bastante tempo olhando Mary trabalhar e quando tenta ajudar é rapidamente afastada.
A plateia tem a sensação de que Charlotte não só tenta sair da sua depressão, como também tenta se aproximar de Mary, de quem ela parece gostar, pelo menos um pouco. Porém, Mary não quer se aproximar de ninguém e, por isso, não dá abertura para Charlotte durante bastante tempo.
O relacionamento
A relação das duas começa a mudar quando Charlotte fica doente e o médico (Alec Secăreanu) pede que Mary cuide da moça doente. Charlotte passa dias desacordada, com febre, enquanto Mary fica à sua cabeceira.
Quando Charlotte acorda e se vê na casa de Mary, ela resolve que quer ajudar com a comida e a arrumação do lugar mas, sendo uma mulher rica, não sabe fazer quase nada e Mary começa a se compadecer de Charlotte.
Conforme as duas vão se aproximando, as coisas vão mudando tanto para Mary, quanto para Charlotte. Mary se torna mais aberta e mais simpática. Quando as duas estão na praia, ela até deixa a outra mulher ajudá-la e Charlotte vai se tornando mais alegre e mais leve. O relacionamento, que parecia fadado ao fracasso, muda de maneira leve e natural, e o telespectador consegue acreditar que as duas estão de fato, se apaixonando.
A maneira com que a relação das duas é retratada é bem interessante porque não cai em muitos clichês. Nenhuma delas se apaixona à primeira vista, já que elas parecem se sentir indiferentes em relação uma a outra no começo do filme e o romance também não é baseado em ódio mútuo que vira amor. O relacionamento de Charlotte e Mary parece surgir do convívio entre elas, que faz com que elas se conheçam e se abram aos poucos, o que é bem realista.
Aspectos técnicos de Amonite
Embora Mary Anning tenha mesmo existido, é difícil dizer que Amonite é completamente baseado em fatos reais, já que não existe nenhuma informação sobre a orientação sexual de Mary ou sobre qualquer romance que ela tenha tido. O longa é fiel, no entanto, quando fala sobre a carreira de Mary e o machismo que circundava sua profissão nessa época.
O grande foco de Amonite é a relação de Mary e Charlotte, que é desenvolvida de maneira delicada e bonita. O telespectador se prende rapidamente e passa a torcer pelo casal, mesmo que Mary pareça ser uma pessoa difícil e não demonstre quase nenhuma vontade de conhecer Charlotte, é quase como se a segunda mulher vencesse pelo cansaço.
As duas mulheres são opostas em muitos quesitos além de suas personalidades. Mary é mais fechada e mais masculinizada, enquanto Charlotte é mais aberta e extremamente feminina. Mary está sempre desarrumada e usa sempre o mesmo vestido simples, enquanto Charlotte está sempre maquiada, com o cabelo muito bem arrumado e com vestidos chiques e bonitos. O figurino de Amonite é, aliás, bem interessante e não só por ser de época.
As roupas nos dizem algo
No começo do filme, as roupas das duas mulheres refletem muito mais do que suas classes sociais, já que Mary é uma mulher pobre, que não poderia comprar vestidos caros e, por isso, usa sempre a mesma peça, já surrada e Charlotte é uma mulher rica que tem uma variedade grande de vestidos bonitos e bem alinhados, como também suas personalidades, já que Mary não é vaidosa e Charlotte é, mas também seus estados de espírito.
Mary usa sempre o mesmo vestido porque não se importa com roupas e não quer impressionar ninguém e Charlotte, no começo, só usa roupas pretas e sérias porque é uma mulher triste, frustrada e deprimida. Quando as duas começam a passar mais tempo juntas e vão se apaixonando, Mary começa a se arrumar mais e os vestidos de Charlotte vão ficando mais claros e mais simples, mostrando que ela está, aos poucos, se curando de sua depressão.
É desnecessário dizer que as duas atrizes se saem muito bem, tanto Winslet, quanto Ronan estão completamente imersas em suas personagens e é fácil entender suas fraquezas e qualidades. As duas atrizes têm química também, o que faz com que a gente acredite na relação e, em várias medidas, torça por elas. É difícil para a audiência acessar a personagem de Mary, que é completamente fechada, mas quando ela se abre um pouquinho, percebemos que ela é uma boa pessoa e passamos a nos interessar por ela.
Amonite é um filme delicado, que retrata uma relação bonita e bem construída. Talvez não possa ser visto como uma cinebiografia no sentido mais clássico da palavra, mas ainda é um romance que prende e emociona o telespectador.
Amonite está disponível nas seguintes plataformas digitais: Apple TV, Globo Play, Now, Sky e Vivo Play.