Viúva Negra – Marvel de volta aos cinemas
A Marvel está de volta. Vingadores Ultimato, o filme final da fase 3 da empresa, acabou fazendo um barulho tão espetacular que paralisou toda a indústria cinematográfica por um ano inteiro, mas agora Viúva Negra abre a fase 4, sem deixar muitas pistas de qual caminho será trilhado.
E não podia ser diferente, afinal, a heroína interpretada por Scarlett Johansson já morreu – e se você é uma das três pessoas no mundo que ainda não assistiu Vingadores Ultimato, você mereceu tomar esse spoiler. Então o filme não avança quase nada na linha cronológica geral da história, mas ajuda a preencher algumas lacunas.
A heroína que faltava
A personagem da Viúva Negra deu as caras pela primeira vez no universo cinematográfico da Marvel lá em 2010, no Homem de Ferro 2. A sua presença iniciou uma tradição que hoje tomamos por óbvia: heróis aparecendo nos filmes de outros heróis.
Nos acostumamos a ver a Viúva Negra em tudo quanto é filme. Ela é parte da formação original dos Vingadores e, mesmo sendo parte de um grupo com deuses nórdicos, homens com super-força e armaduras ultra-poderosas, ela conseguiu ser relevante sem precisar ser um pateta com arco e flecha. Tanto que o filme solo de Natasha Romanoff era um desejo antigo dos fãs. A Marvel, seja por covardia ou falta de autoconfiança (razões difíceis de aceitar para uma empresa que lançou um filme com um guaxinim falante atirando com metralhadora em cima de uma árvore sapiente), nunca tinha embarcado nessa aposta.
Só nos últimos anos que o estúdio parece querer compensar a falta de representatividade feminina no seu universo principal. Esse é um problema que nunca ocorreu nos quadrinhos mas que teimava em permanecer nas telonas. O sucesso de Mulher Maravilha e Capitã Marvel mostrou que há sim um público para super-heroínas no cinema – é claro que há, o que estavam pensando?
Essas mulheres incríveis
O filme solo da Viúva Negra chega tarde, mas querendo desfazer esses mal-entendidos. Até mesmo a diretora é uma mulher: Cate Shortland, praticamente uma novata na indústria Hollywoodiana, mas escolhida no que parece ter sido uma entrevista de emprego concorrida, já que a Marvel alegadamente a escolheu entre outros 65 nomes.
Para ajudar, há outras mulheres incríveis com grandes participações no filme (e não vai ter spoilers sobre o papel delas), como Rachel Weisz, sempre maravilhosa. Mas o destaque fica mesmo para Florence Pugh, que passa o filme todo carregando um sotaque simplesmente adorável, além do carisma e desenvoltura que fazem a gente querer ver mais da atriz e personagem.
Outra presença notável é David Harbour, o eterno guardinha de Stranger Things, no papel do Red Guardian, como já divulgado. Um personagem obscuro dos quadrinhos, porém extremamente interessante: o Guardião Vermelho seria o equivalente soviético ao Capitão América, criado em época de guerra fria mesmo para ser uma oposição ao herói americano. Porém ele não é nem herói nem vilão, muito pelo contrário. Ele oscila nessa linha divisória entre o bem e o mal – e personagens assim são sempre legais.
A história de Viúva Negra
Os pequenos spoilers da história ficam contidos no parágrafo seguinte. Não é nada que comprometa a experiência, mas é sempre mais legal não saber de nada quando for ver o filme.
É uma história de origem? Sim e não. Sabemos mais sobre o passado da personagem, mas como Natasha Romanoff se tornou a Viúva Negra não é o foco. A maior parte do filme se passa naquele intervalo entre Guerra Civil e Vingadores Guerra Infinita, quando metade dos heróis estão presos ou foragidos. Isso já dá para perceber no trailer: quem acompanha as diferentes cores e tamanhos do cabelo de Natasha consegue acertar a época da vida dela só olhando pro penteado. É nesse ponto que o filme parece pertencer mais à Fase 3 da Marvel: pela localização cronológica da história.
E tem cena pós-crédito? É um filme da Marvel, né, porra? Sempre vale a pena ficar 5 minutos a mais na sala.
Thriller de espiões
Ao mesmo tempo que é um Marvelzão daqueles que estamos acostumados, vários aspectos do filme remetem a um filme de espionagem – e um dos bons, na média padrão de um “Missão Impossível”. Tem perseguição, lutas, fugas… Mais de uma vez a ação e os acontecimentos na tela fizeram parecer que eu estava assistindo a mais uma aventura de Ethan Hunt – e isso é um elogio.
A Marvel sabe que a grande força de suas obras está em seus personagens. Ela toma seu tempo para expandir a história deles e sabe usar uns para alavancar a nossa empatia por outros.
Com ação, humor e desenvolvimento de história equilibrados na medida certa, a empresa nos lembra que ela é o melhor estúdio para filmes de herói. É tudo tão fluído, tão elegante, que chega a parecer simplório. A impressão que dá é que ela nem se esforça muito para entregar um filme tão legal.
Só é possível concluir que ainda não há ninguém que faça tão bem um filme da Marvel como a própria Marvel. Mas todo mundo continua tentando.