Rua do Medo – Parte 1 (1994), 2 (1978) e 3 (1666)
Rua do Medo: 1994 – Parte 1
Primeiro filme de uma trilogia inspirada nos livros mais adultos de R. L. Stine (ou seja, nada na pegada leve creepy de Goosebumps por aqui). Essa parte é um divertido tributo aos filmes slasher, em especial à franquia Pânico, e é justamente esse resgate, com todos os tropos do gênero: da trilha aos sustos fáceis, do comportamento do serial-killer às ideias imbecis de seus protagonistas — que são parte do charme certeiro dessa obra — onde tudo evoca uma fórmula de sucesso, que funcionou muito bem, justa e especialmente nos anos 1990, onde é situada a trama deste primeiro longa.
A diretora Leigh Janiak já havia dirigido alguns episódios da série Scream (veja como tudo se encaixa) e consegue realizar uma condução enervante, bastante histérica e estilosa, que conta muito com uma edição caprichada também, além de completa abertura para a violência — necessária nesse tipo de produção –, sem se preocupar com faixa etária. O elenco é super carismático e os personagens se encaixam bem na premissa, que ainda envolve duas cidades vizinhas rivais, uma adesão ao sobrenatural e um folclore forte o suficiente para instigar e render outros dois filmes. E além do Ghostface, temos também um tributo a Jason e outras figuras, vale notar.
Janiak não fica só na homenagem e sabe mexer e quebrar as regras do jogo, subvertendo os clichês do gênero com boas sacadas, que tem função narrativa (desde as ironias da ausência policial nos crimes — que é dialogado aqui com ironia proposital — até o principal romance da história). Rua do Medo: 1994 é tudo o que os fãs de slasher esperavam há décadas e, finalmente, foram bem servidos numa bandeja cheia de sangue.
Rua do Medo: 1978 – Parte 2
Ainda que essa continuação não tenha o mesmo brilho da primeira parte, ela consegue ser duplamente mais violenta (não perdoa nem crianças, veja só), em seus claros tributos a Sexta-Feira 13 (em uma mistura interessante do primeiro filme com suas continuações com Jason), além de referenciar outros longas slashers dos anos 1970 e 1980.
Na verdade, as brutalidades até que demoram bastante a acontecer, se comparado com o filme anterior, e aqui a competente diretora prefere investir um tempo maior na ambientação e construção atmosférica, até para fortalecer os vínculos das irmãs interpretadas por Sadie Sink e Emily Rudd, que sabem emular muito bem as scream queens clássicas.
Rua do Medo: 1666 – Parte 3
Leigh Janiak se prova uma diretora não só muito versátil, como habilidosa em tudo o que se propõe a fazer. E com essa trilogia inovadora (que estava prevista para os cinemas pela Fox no passado e acabou se convertendo e encontrando um caminho muito melhor no formato da Netflix), ela não só se inspira nos livros de R. L. Stine e presta tributos a filmes de horror de outros tempos, como subverte vários de seus tropos em favor da narrativa.
Na parte final, temos uma referência sutil a obra-prima moderna A Bruxa, mas sem perder a pegada descolada que os outros dois filmes já traziam em sua identidade. O segmento no ano de 1666, porém, tem menos tempo de tela (até para retornar ao presente em 1994 e entregar a resolução), mas em compensação mais intenso, pois tira o slasher do caminho e investe no suspense comunitário, com crendices, mitos e um pequeno povoado e seus preconceitos como motor do novo enredo, aproveitando os atores dos longas anteriores e fortalecendo a empatia, assim, de seus protagonistas.
É claro que esperávamos que a tal “bruxa” Sarah Fier não era de fato o que parecia, e que o verdadeiro inimigo seria revelado por aqui. E é justamente isso que a cineasta entrega, depois de solidificar uma história interessante nesse período, com um clímax catártico (e não menos divertido, quando todos os serial killers se enfrentam… por que não?), fechando todas as pontas soltas, enquanto celebra o sucesso de uma trilogia que, acima de tudo, ressuscitou subgêneros que estavam tão em falta nas produções contemporâneas.