A Dança da Morte

Depois de um erro no Departamento de Defesa, um vírus terrivelmente mortal é liberado e 99% da população mundial é dizimada em menos de quinze dias. A sociedade rapidamente se torna uma barbárie, mas algumas pessoas parecem ser imunes ao vírus.

Stu Redman, que por não ter se contaminado, passa um tempo preso e sendo estudado, encontra um grupo de pessoas que também sobreviveu e que está tentando se reorganizar, mas forças maiores começam a se movimentar e a aparecerem nos sonhos dos que restaram, entre elas a bondosa Mãe Abigail e o terrível Randall Flagg.

O apocalipse de A Dança da Morte

A Dança da Morte é um livro de terror que explora a ideia do fim do mundo, em uma espécie de ficção especulativa que soa muito real, especialmente nos dias de hoje, depois de enfrentarmos uma situação assustadoramente semelhante à proposta por King.

Aqui uma equipe que estuda um vírus – que fica conhecido como Capitão Viajante, ou supergripe – perde o controle sobre ele e um dos integrantes da equipe consegue escapar da sede, foge com sua esposa e sua filha ainda bebê, espalhando o vírus não só para as duas, como também o libertando no mundo. A supergripe rapidamente mata 99% da população mundial e o apocalipse se dá a partir daí.

Primeiro o mundo fica praticamente vazio e, aos poucos, vai se despedindo da civilização. A supergripe se prova incapaz de ser controlada, mas algumas pessoas parecem ser imunes a ela, e entre elas estão Stu Redman, que encontrou com o paciente número um, mas não se contaminou, Glen Bateman, um homem que anda pelo mundo com seu cachorro, Frannie Goldsmith, uma universitária grávida e seu amigo de infância, Harold Lauder, Larry Underwood, um cantor pop, Nick Andros, um andarilho com deficiência auditiva, Tom Cullen, um homem com deficiência mental e Nadine Cross, uma professora. Outros personagens que sobreviveram aparecem com o tempo, e conforme a sociedade começa a tentar se reerguer.

A Dança da Morte é cheio de clichês presentes em outras obras que falam sobre o apocalipse, mas ele parte de um início um pouco diferente, já que tudo começa com a supergripe. O livro foi publicado pela primeira vez em 1978, e a editora aconselhou King a cortar algumas partes do livro para que ele não ficasse tão grande. Em 1990, o autor republicou o livro, com novas referências e com as partes que tinham sido cortadas do original. Quando ele foi escrito, A Dança da Morte se passava em 1980, mas quando ele foi publicado em paperback nos anos 1980, a história então, foi transferida para 1985. É impossível, no entanto, não ver os anos 2020 e a pandemia de Covid -19 nas páginas de A Dança da Morte e é por isso que o livro é tão assustador, afinal a história é tão realista – ainda que tenha elementos fantásticos -, que de fato nos vemos em uma situação parecida com a que King imaginou.

Mãe Abigail e Randall Flagg

A Dança da Morte tem ainda elementos maiores, para além do apocalipse que é apresentado. Os sobreviventes da supergripe começam a ter sonhos recorrentes, que são quase compartilhados entre eles, onde eles geralmente veem duas figuras: Mãe Abigail e Randall Flagg.

Mãe Abigail é uma senhora de cento e oito anos que vive em Nebraska, que tem um ar de santidade atrelada a ela e a tudo que ela faz. Ela diz que consegue se comunicar com Deus e tem a intenção de retomar a civilização, prezando por valores mais humanos. Stu tem certeza de que precisa encontrá-la o mais rápido possível.

Já Randall Flagg é um personagem que aparece com frequência nos livros de King – A Dança da Morte marca a primeira aparição de Flagg, mas ele também está presente em Olhos de Dragão, na série A Torre Negra e no poema The Dark Man: O Homem que Habita a Escuridão, que King escreveu quando ainda estava na faculdade  – e, muitas vezes, ele é descrito como a encarnação do mal. Flagg também é carismático, convincente e possui algumas habilidades sobrenaturais que o garantem uma posição de messias nesse mundo apocalíptico e uma série de seguidores malucos dispostos a fazerem o que ele ordena. Como Mãe Abigail, Flagg está criando uma nova sociedade, só que muito próxima de uma ditadura.

Através de Flagg e de Mãe Abigail, King traz à tona um assunto bem comum às suas obras: a briga eterna do bem contra o mal. Aqui essas questões estão muito claramente demarcadas, já que Flagg é descrito como o mal encarnado e é capaz de cometer crimes terríveis e atrocidades horrorosas, e que Mãe Abigail está sempre disposta a passar por cima de si mesma para ajudar os outros e reconstruir o mundo.

O apocalipse e o vírus são elementos bem importantes em A Dança da Morte, mesmo porque são essas duas questões que dão o pontapé inicial na trama, mas o grande tema do livro é a batalha que existe, inclusive dentro dos personagens, entre o bem e o mal, que aqui se torna ainda mais radical, afinal, os sobreviventes vivem tempos terríveis e enfrentam a morte e o medo todos os dias.

A Dança da Morte na mídia

Este é o livro mais longo que King já publicou e muitos o consideram a obra prima do autor. Existem referências a ele em uma série de mídias diferentes.

A Dança da Morte já ganhou duas adaptações para a televisão, uma em 1994, estrelada por Gary Sinise, Adam Storke, Molly Ringwald, Corin Nemec, Rob Lowe, Miguel Ferrer, Laura San Giacomo, Jamey Sheridan, Ossie Davis, Ruby Dee, Bill Fagerbakke e Shawnee Smith e com participações especiais de John Landis, Ed Harris, Kathy Bates, Sam Raimi e do próprio King. A outra em 2020, estrelada por Amber Heard, Alexander Skarsgård, Katherine McNamara, Owen Teague, Odessa Young, James Marsden, Whoopi Goldberg, Heather Graham, Ezra Miller, Nat Wolff e Greg Kinnear.

O livro também virou uma história em quadrinhos escrita por Roberto Aguirre-Sacasa e ilustrada por Mike Perkins, e foi tema das músicas The Stand (Prophecy), do The Alarm e  Among the Living, do Anthrax. Ride the Lightning, disco de 1984, do Metallica, teve seu título inspirado em uma frase do livro.

A Dança da Morte é um livro imenso que pode assustar alguns leitores, mas que não é lento e onde todas as palavras se fazem necessárias. A leitura não é parada e é impossível não se conectar com os vários personagens que King escreve. O livro não só é realista e atual, mesmo que de maneira não intencional, como também apresenta uma trama muito bem escrita cheia de medo, emoções e aventuras.