Morte no Nilo

Morte no Nilo tem mais de uma hora de dramalhão novelesco, e não temos um crime sequer nesse filme sobre a investigação de três mortes em série num cruzeiro que atravessa o Rio Nilo. Assim é também a história original do livro de Agatha Christie, mas penso eu que a melhor solução seria, ao adaptá-lo, reduzir o começo travado a poucos minutos, oferecendo mais dinâmica na narrativa, mas não foram essas as escolhas de Kenneth Branagh em sua direção.

Depois do decente Assassinato no Expresso do Oriente, o diretor optou por aumentar as camadas de seu protagonista, o detetive Hercule Poirot, que agora ganha uma introdução inédita, que busca justificar o uso de seu bigodão (para quê???) e deixar sua presença, que sempre teve maior função como ferramenta de solução, querendo roubar os holofotes de vítimas e suspeitos, que sempre foram o caldo interessante dessa sopa.

Morte no Nilo

Morte no Nilo

Os efeitos especiais jamais funcionam (a não ser que essa obra fosse mais fantasiosa ou lúdica, como Jungle Cruise), com um Egito gritando CGi e o fundo verde roubando mais as atenções do que seu investigador excêntrico. São poucas as cenas que passam o mínimo de verossimilhança, para um tipo de produção que nunca exige computação gráfica, bastando focar no mistério.

Mas deslumbrado em sua própria condução, Branagh infelizmente escolhe investir mais no visual do que no texto, com um elenco que nunca leva a sério seus respectivos papéis. Além dele, apenas Annette Bening e a belíssima Sophie Okonedo estão realmente investidos nas interpretações. Gal Gadot, Tom Bateman, Letitia Wright, Emma Mackey e o bizonho Armie Hammer operam apenas dentro do esperado, segurando o riso aqui e ali.

Com um vaivém simplesmente patético bem no meio da resolução (que fica terrivelmente menos crível ainda), um dramalhão cafona e uma revelação de assassino pra lá de previsível – bom, ao menos isso o cineasta pode tirar da conta –, Morte no Nilo mira no whodunit e acerta um baita tiro no escuro.

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