De Volta ao Baile
Os anos 2000 retornaram
Enquanto fazia uma complicada acrobacia em uma apresentação de chefes de torcida, a popular estudante Steph Conway (nessa fase interpretada por Angourie Rice) cai e entra em coma. Ela só acorda vinte anos depois, já com 37 anos (nessa fase interpretada por Rebel Wilson).
Steph então, resolve que vai voltar para a escola e realizar seu sonho de adolescente: ser a rainha do baile.
A volta dos anos 2000
De Volta ao Baile começa exatamente no ano 2000, quando Steph tem 17 anos e é uma estudante popular, chefe de torcida, com o namorado aparentemente perfeito, Blaine Balbo (nessa fase interpretado por Tyler Barnhardt). A primeira parte do filme passa bem rápido e vemos poucas coisas que fazem referência à década em questão, já que logo Steph entra em coma e só acorda em 2022, já adulta.
Mas é óbvio que tendo dormido por 20 anos, Steph não amadureceu, ela acorda achando que não se passou um dia sequer e que ela ainda tem 17 anos, portanto, seu maior sonho ainda é se tornar a rainha do baile, algo que ela estava prestes a conquistas antes de cair. E para Steph ainda estamos nos anos 2000.
Nesse sentido, De Volta ao Baile é um filme especialmente nostálgico, principalmente para quem realmente foi pré-adolescente ou adolescente nos anos 2000, as referências estão lá e vão aparecendo aos poucos, já que Steph se recusa a crescer. E é natural que o longa seja voltado para a faixa etária que hoje está nos seus trinta e poucos anos, uma vez que uma década volta a se tornar popular quando as pessoas que eram crianças e adolescentes naquela década se tornam adultas e, na teoria, tem poder de consumo para comprar os produtos que lhes causam nostalgia, como aconteceu com os anos 1980 e 1990 há algum tempo atrás. De Volta ao Baile parece ser uma das primeiras obras que fazem referência à década de 2000.
O típico filme adolescente
Outro aceno bem clássico à geração dos anos 2000 é justamente o subgênero do filme, De Volta ao Baile é uma espécie de filme adolescente americano, com garotas populares, atletas bonitões, nerds, chefes de torcida e muito bullying, que na realidade existem desde a década de 1980, mas que foram consumidos à exaustão por boa parte das gerações posteriores. Qualquer pessoa nessa faixa etária consegue reconhecer o tanto de clichê que aparece em cena nesse filme.
No entanto, De Volta ao Baile traz algumas mudanças. A primeira parte do filme, que se passa nos anos 2000, é inundada de clichês: Steph costumava ser uma garota tímida e com poucos amigos, que resolve que vai ser popular e, então, melhora a sua aparência, vira chefe de torcida, deixa os antigos amigos de lado, arruma um namorado popular e, claro, se transforma na rainha da escola, prestes a ganhar a coroa no baile.
Já a segunda parte do filme, que se passa em 2022, segue outros caminhos. Steph pode estar presa na mentalidade dos anos 2000 e, consequentemente, em um filme americano adolescente, mas o mundo evoluiu e a escola também, a garota mais popular do colégio hoje é Bri (Jade Bender), que na realidade tem muitos seguidores no Instagram e que não é nada malvada; o namorado dela, Lance (Michael Cimino), é abertamente bissexual e usa roupas tradicionalmente masculinas e femininas; quase ninguém mais na escola sofre bullying, porque a diretora, Martha (Mary Holland), que costumava ser amiga de Steph, incentiva uma política anti-bullying; as chefes de torcida não usam mais uniformes provocantes, não cantam mais músicas que incentivam a competição e não existe mais seleção para entrar no time, todos podem participar; e claro, não existe mais baile. Steph também tem a chance de reencontrar seu melhor amigo de adolescência, Seth (Sam Richardson), que como manda a regra dos filmes adolescentes, sempre foi apaixonado por ela.
Através dessa mudança na escola e no comportamento dos alunos, o filme faz um aceno tanto para a geração dos anos 2000, que espera um filme adolescente clichê, quanto para a geração mais jovem, que já se reconhece nos personagens adolescentes. Ao mesmo tempo, o filme fala, de maneira muito cômica claro, sobre o conflito de gerações, já que Steph não é a única pessoa que não consegue superar sua adolescência, Tiff Blanchette (Zoë Chao), arqui-inimiga de Steph e hoje casada com Brandon (nessa fase interpretado por Justin Hartley) e mãe de Bri, quer realizar seus sonhos adolescentes através da filha, que já não liga para as mesmas coisas que ela.
Aspectos técnicos de De Volta ao Baile
De Volta ao Baile é uma comédia sem muitas pretensões, a ideia parece ser fazer um aceno nostálgico para quem foi adolescente nos anos 2000 e assistiu muitos filmes adolescentes. Mas claro que tudo é muito exagerado, desde as roupas, até as gírias. O filme também traz uma série de referências a esse subgênero dos filmes americanos adolescentes, embora quebre alguns desses clichês ao longo da trama.
O roteiro não é um primor, ele tem uma série de elementos um pouco difíceis de acreditar, como por exemplo, os dois melhores amigos rejeitados de Steph trabalharem justamente na escola onde costumavam estudar – Martha é a diretora e Seth é o bibliotecário – ou dela reencontrar Tiff e Brandon porque eles são pais de uma aluna da escola. É óbvio que essa é só uma maneira de trazer de volta personagens com quem Steph precisa acertar as contas, mas De Volta ao Baile é um filme que nem parece se levar tão a sério assim, então não faz sentido exigir tanta veracidade de uma comédia adolescente para adultos.
O filme tem um elenco divertido, que arranca algumas risadas e que não tem medo de parecer ridículo em vários momentos, o que é muito bom. Rebel Wilson se sai muito bem e Michael Cimino também chama a atenção.
Muito provavelmente De Volta ao Baile vai agradar muito mais quem viveu os anos 2000 e consegue compreender pelo menos alguns dos sentimentos de Steph, mas o filme também é uma comédia divertida e sem pretensões, que tenta modernizar o subgênero em que se insere. De Volta ao Baile está disponível na Netflix.