O começo de todo desenvolvedor de jogos
Na qualidade de desenvolvedor quando me deparei com Stanley Parable senti uma pancada na cabeça. Em um mercado de jogos saturado onde é possível encontrar inúmeros produtos seguindo o mesmo segmento, encontrar alguém que consegue sair desses padrões convencionais é sempre surpreendente e Davey Wreden surpreende. Agora, com um novo projeto chamado The Beginner Guide ele está de volta e promete trazer aquela sensação ao jogador novamente, eu tive a oportunidade de jogá-lo até o fim (o que não demora muito) e vamos falar um pouco sobre o jogo ou a interpretação que obtive da experiência.
O jogo se desenvolve com Wreden como narrador do estudo de um desenvolvedor de jogos chamado Coda, ao longo da narrativa Wreden vai apresentando ao jogador a personalidade e os jogos que seu amigo criou. É possível observar enquanto se interage com os games a evolução mental que Coda aplicou a cada um deles e as dificuldades e sentimentos que usou ao desenvolver cada uma das salas dessa experiência e o narrador vai te falar sobre isso, ele vai dizer sobre a sinergia que o jogador cria em certo ponto com o criador do jogo, o momento onde é possível entender os sentimentos usados ao criar aquela caixa no canto da sala.
Para quem espera ação, desafios, puzzles…esse não é o jogo! Se o seu inglês não estiver funcionando você também não vai entender muita coisa. Mas se você estiver saturado da mesmice ou tiver o sonho de trabalhar com jogos então essa é definitivamente uma boa pedida, é navegar por uma aula de experiência por um preço muito baixo. Essa experiência que vos falo é justamente o que dá o TCHAN do game, eu acredito que se duas pessoas jogarem e depois se encontrarem para compartilhar a experiência o conhecimento não será o mesmo, parte do jogo é o jogador e é essa a imersão que eu senti ao viver a experiência do game e passar pelas dificuldades de Coda, que inclusive, já foram (são?) as minhas.
A primeira tela é o exemplo disso, quando comecei a trabalhar com códigos e sprites lá estava eu brincando de modificar coisas e Counter Strike era uma boa pedida na época, já era um mod e minha diversão acontecia entre skins de personagens, armas e mapas. Coda parece que também gostava e o primeira fase do jogo é justamente um mapa de CS criado por ele. Aqui o jogador começa a ser apresentado a narrativa e ao relacionamento da voz com o criador do jogo, porém, para quem já tentou fazer um joguinho vai reparar alguns elementos curiosos no pequeno mapa, vamos ver:
Um mapa relativamente pequeno e com características bacanas como a tenda, o container e o andar elevado, a marcação de bases com um sprite personalizado e a elevação de terreno…mas então:
Você percebe caixas com a física exposta, caixas entrando nas paredes e caixas inalcançáveis e onde geralmente eu diria que tem algo errado pensei comigo: ele está começando a entender a parada e o jogo que vêm na sequência mostra exatamente isso, mas antes, enquanto andamos por esse mapa modificado e fazemos nossas análises Wreden faz um convite para que apoiemos Coda, que parou de desenvolver jogos e ainda oferece seu e-mail, caso você tenha uma interpretação diferente do jogo. Esse convite de interagir com o elemento externo, participar, incentivar fora do jogo é fantástico, é compreender que por trás de tudo aquilo há um indivíduo, uma equipe. Mimimi, bla bla bla, segundo mapa:
Esse é o primeiro jogo do rapaz e ele não teve dó: você está no espaço, trilha sonora eletrizante, cartazes nas paredes que deu ruim e depois de alguns passos blam, arma na mão, uma bifurcação simples, salão grande, beleza lá vem os monstros, só que não. O narrador surge dizendo que aquele é um jogo que não foi terminado e além de não ter monstros sua arma também não recarrega. Apesar da frustração inicial o mesmo narrador que acabou com a diversão nos convida a seguir adiante e faz menção a beleza do espaço construída por Coda, aqui o jogador começa a perceber a sensação do estar no jogo, de ser capaz de ter a sensação de espaço por trás da janela, até que chegamos de frente ao desafio final. A máquina diz que se você se sacrificar vai poder salvar a porra toda e lá vamos nós.
Coda nos insere nesse momento em um diálogo existencial, apesar de não oferecer outro caminho considerar o final do jogo dessa maneira, sacrificar-se para salvar o mundo, é um pouco bruto para o jogador (que supostamente se esforçou para chegar lá), em um laser ainda? Blaah. Mas aí você entra no raio e algo acontece, ao invés do jogo acabar historinha, historinha, historinha o que temos é um bug que faz você flutuar, observar do espaço a grandiosidade do mapa ou a beleza do background.
Juntando a narrativa com os elementos apresentados você já deve imaginar a loucura que seja essa experiência, que se expande e se torna ainda mais complexa ao longo da história. Convido você caro leitor a experimentar esse game e compartilhar comigo a sua opinião. Divirta-se!