Marvin, novo filme da premiada diretora Anne Fontaine

Martin Clement, nascido Marvin Bijou, escapou. Ele escapou de uma pequena aldeia no campo. Escapou de sua família, da tirania de seu pai e da renúncia de sua mãe. Também da intolerância, da rejeição e do bullying que sofreu por ser apontado como “diferente”. Assim, contra todas as probabilidades, ele encontrou aliados.

Marvin (Jules Porier) é um garoto lindo, de rosto angelical, que vive com uma família bruta, com pai e irmão ogros, mãe que nem queria ser mãe, num ambiente de gritos de reprimenda, álcool abundante e muitos cigarros. Além dessa família horrorosa, Marvin sofre bullying na escola, é mal tratado por garotos que o chamam de bichinha, cometem atos de violência gratuita e nojenta.

Marvin

A história é contada do ponto de vista do próprio Marvin, que, ao perder uma aula de natação é levado pela diretora Madeleine Clément (Catherine Mouchet) a experimentar aulas de teatro. Ali então ele se vê diante da oportunidade de retratar sua família em representações que dão cada vez mais certo e lhe trazem mais confiança em si mesmo.

O filme vai e volta no tempo, nos mostrando Marvin como a criança que está se descobrindo talentosa num ambiente nada favorável e Marvin já adulto (Finnegan Oldfield), em Paris, conhecendo pessoas de influência no meio teatral, se relacionando com mais liberdade e fazendo sucesso com sua peça.

Filme francês

Devemos levar em consideração que Marvin e sua família vivem no interior da França, onde seus pais foram educados de forma antiquada e conservadora considerando o homossexualismo uma “coisa de retardado”. Dessa forma, parece que ninguém enxerga o garoto no meio de suas vidas conturbadas. O lar fica longe da escola e o menino sente vergonha, não deixando sua diretora o levar até em casa de carona.

Marvin sofre na escola, mas ao mesmo tempo tem fantasias com seu abusador. Ele está sempre tristonho, vive raros momentos de alegria, nem parece uma criança de verdade. De acordo com seu pai, Marvin teria uma doença mental se fosse gay, mas ele não se sente doente e percebe que somente fugindo desse universo de censura é que ele poderá se tornar outra pessoa, ou ele mesmo.

A arte

Então Marvin se inscreve na escola de teatro e é aprovado. Nesse mundo teatral ele conhece Abel (Vincent Macaigne), seu professor no conservatório. Eles cultivam uma amizade pois compartilham de experiências ruins na infância. Isabelle Huppert também está presente, fazendo papel dela mesma, ajudando Marvin a realizar sua tão polêmica peça, onde ele revisita momentos de sua infância que certamente o moldaram como ele é.

De acordo com a diretora Anne Fontaine, “Todo aquele vai-e-vem entre diferentes épocas da vida de Marvin parecia ser o método ideal de mostrar o duplo processo que o leva a construir sua identidade e criar uma obra de arte baseada em sua própria existência. Cria uma dinâmica que os espectadores podem brincar e isso dá um brilho para o filme”, que entra em cartaz dia 6 de setembro.