Castlevania – 2ª Temporada (2018)
Castlevania é a adaptação do terceiro game da famosa grife de jogos. A animação ganha o dobro de episódios e expande mitologia e universo de maneira sensacional.
Depois de uma primeira temporada tímida e limitada, que dizia a que veio, mas servindo mais como um prólogo, esta continuação equilibra o jogo do embate, mostrando os dois lados do combate. Enriquece seus icônicos personagens com mais background, motivações e diálogos certeiros. A medida que dá os detalhes da história, engrandecendo a experiência de maratonar esses ágeis e viscerais 8 episódios. Só meia hora cada.
Castlevania e seus personagens
Agora revelando as maquinações e elenco de dentro do castelo de Drácula, o roteiro sagaz do quadrinista Warren Ellis acerta ao quebrar o maniqueísmo proposto, revelando que os objetivos do “lado do mal” são tão bem fundamentados quanto dos mocinhos. Entre os destaques, temos os dois únicos humanos, Isaac e Hector. Dois forjadores de demônios que foram resgatados e procurados por Vlad Tepes no passado. Ambos nutrem um ódio autêntico pela humanidade. Isso favorece seu empenho pela limpeza na Terra, ainda que com gatilhos diferentes.
Do lado dos vampiros, temos a sedutora e ardilosa Carmilla. Ela chega intencionada a usurpar o trono do senhor dos monstros, enquanto que Godbrand faz o papel de um viking vampírico todo chucro. Mas honesto em suas intenções sanguinárias. O bacana também, é finalmente conhecer outras figuras da corte, quando nos é revelado o quão multiétnico podem ser os vampiros, com representações hindus, japonesas, entre outras.
A evolução de Castlevania
E enquanto a temporada anterior tinha um tom mais urgente e de terror vindo de todos os cantos, pelo ponto de vista humano, aqui melancolia é a palavra da vez. E também maturidade. Mais de uma vez, inúmeros personagens são comparados a “crianças”. Assim, a maior parte deles carrega um desalento na expressão, na linguagem corporal e na alma.
A começar pelo próprio Drácula. Longe da figura monstruosa pela qual é retratado na primeira temporada, ele é só uma criatura que, mais do que a vingança pela morte da esposa (que foi queimada como bruxa, por praticar ciência e medicina), suas verdadeiras intenções residem em um tipo de suicídio… coletivo. Ele só quer o silêncio. E essa canseira, vai facilitar a quebra de confiança de seu exército, mas não vai fragilizá-lo diante das ameaças. Seu filho, o meio-vampiro Alucard, é outro retrato da prostração. Um poço sem fundo de tristeza pelo passado trágico familiar, que não aponta para boas resoluções no futuro. É nas mãos dele onde reside o destino do enredo.
Trevor Belmont, como inspecionado pela amiga, evidencia mais seu desprazer e, usa da força e da batalha para continuar respirando. Resta assim, somente às mulheres um pouco mais de energia positiva. Tal qual Carmilla e ainda que oposta em motivações, Sypha Belnades é sempre otimista e serve não só como apoio moral dos dois colegas guerreiros, como também uma poderosa e crucial aliada, em sua figura de clériga maga controladora dos elementos.
Aspectos técnicos
As cenas de batalha também ganharam mais nessa continuação, com sequências impressionantes de batalha, que emulam por vezes os games, tanto no uso das armas (do chicote, da corrente encantada, da espada que é controlada pela mente etc), como das magias (as cenas de teleporte do Castelo são de encher os olhos, por exemplo). A medida que o já rico design de personagens (claramente inspirado no trabalho de Ayami Kojima) se enriquece nessas cenas poderosas de batalhas e violência explícita. Os cenários seguem deslumbrantes e imersivos, principalmente nas sequências internas do castelo do Drácula e da mansão dos Belmont, que logo depois tem um vínculo curioso e muito bem sacado.
O desenvolvimento de tramas paralelas e novos personagens também justifica o aumento de episódios nessa temporada. Através de diálogos afiados e reveladores, a interação e as motivações de cada personagem soam legítimas, assim como do lado dos mocinhos, que mesmo com menos destaque, precisam confiar um no outro para cumprir uma missão e garantir a sobrevivência da humanidade.
Com uma terceira temporada já confirmada, Castlevania se prova não só uma das melhores adaptações de game já realizadas, como também fornece um entretenimento coeso e visceral cheio de instigantes promessas para o amanhã mais escuro.