Ilha dos Cachorros – Stop-motion de Wes Anderson
Ilha dos Cachorros é, de fato, uma fábula moderna que trata de abandono de animais, preconceito e corrupção de maneira singular.
O genial Wes Anderson retorna então ao stop-motion depois de sua ótima experiência com O Fantástico Sr. Raposo. Narra assim a trama de uma capital japonesa fictícia que aplica uma lei que proíbe cães no continente e passa a enviá-los para uma ilha lixão. No entanto, um garoto aparece por lá para resgatar seu mascote de estimação.
As marcas registradas do diretor
Em Ilha dos Cachorros, o diretor volta a imprimir suas marcas registradas afinal. Podemos então notar a simetria nos enquadramentos; muito movimento vertical; bem como o preenchimento cirúrgico dos espaços da tela; a narrativa irreverente; o humor caprichoso e inteligente; e certamente personagens com bastante personalidade. Sim, me refiro aos cachorros, já que aos humanos é relegada uma figuração mais propositalmente pontual.
A construção de mundo impressiona, assim como o uso da técnica do stop-motion, a qual Anderson domina com tranquilidade. Existe uma bela atenção às texturas e outros detalhes mínimos (bem como a movimentação dos pelos) e uma competente representação da iconografia japonesa. Muito do que é dito pelos humanos, não se traduz, mas o contexto se encarrega de passar a ideia geral, em uma história que toma decisões ousadas como essa.
Portanto, Ilha dos Cachorros é um filme equilibrado
Sobretudo, o filme também não é embalado em fortes emoções. Ou seja, existem sequências ótimas, de ação e diálogos, visualmente acachapantes. Mas elas não se focam exatamente em emocionar o público, mas levá-lo à reflexão. Assim, dosando humor (sem descambar pro cartunesco), o roteiro mira nas várias camadas que pretende abordar. Realiza alegorias com racismo e corrupção corporativa, ao passo que sabe homenagear as produções japonesas de uma maneira apaixonada.
Além disso, o elenco de vozes é ótimo e trás caras como Bill Murray, Bryan Cranston, Jeff Goldblum, Edward Norton, entre outros. O que fornece principalmente muita vivacidade aos caninos. Esta é uma aventura honesta e bem feita, com um desfecho ainda que previsível, mas sincero nas recompensas da jornada.
Ilha dos Cachorros certamente deixa o coração de lado para focar na racionalidade e no brilhantismo técnico, em um filme que pede novas sessões. Dessa forma, está esperando o que pra assistir?