Não Olhe, conflitos internos de uma jovem garota
O suspense/terror Não Olhe conta a história de uma jovem que foi possuída pelo seu próprio reflexo. Maria (India Eisley) é uma garota insatisfeita com seu ambiente e que não se encaixa em lugar nenhum. Assim, tanto em casa, quanto no colégio, ela é vista como alienada e sofre humilhações. Com a família, há pouco ou nenhum diálogo. A mãe passa o dia em casa e tem pesadelos à noite. O pai é cirurgião e um infiel esposo. No colégio, Maria só tem uma amiga de lealdade duvidosa que tem um namorado que Maria ama em segredo. E há, claro, um valentão que insiste em atrapalhar a vida da moça, sem que ela lhe dê nenhum motivo.
Seja como for, logo no começo ficamos sabendo que o reflexo da jovem Maria no espelho possui vida própria. E esse reflexo sedutor que parece saber tudo sobre a garota lhe faz uma proposta. Trocar de lugar com Maria para que assim sua vida possa ser resolvida.
Não Olhe é cheio de clichês. Maria é a típica estudante tímida que se sente renegada por seus pais e marginalizada por seus colegas. Sua mãe vive dopada e é submissa ao marido. O pai reprime a filha sempre que tem uma oportunidade. Além disso, é um homem superficial e que mantém casos extraconjugais. A amiga de Maria é linda e loira e namora o cara que Maria gostaria de namorar. Ah, e ainda sabe patinar no gelo, coisa que Maria não sabe. Aparentemente, somente a protagonista não sabe patinar em todo o colégio, afinal, a direção da escola resolve realizar o baile de formatura num rinque de patinação!
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Solitária e insegura, Maria então se abre para seu reflexo no espelho, descobrindo que sua representante tem uma mente própria. À medida que o isolamento de Maria piora, seu relacionamento com o alter ego no espelho se intensifica. Então ela troca de lugar com a gêmea refletida e experimenta liberdade e confiança pela primeira vez. E qual é o primeiro sinal de liberdade para o roteiro de Não Olhe? Cigarro! Sempre o maldito cigarro representando o que ele não deveria representar. Mais um clichê.
Enfim, essa nova “liberdade” desencadeia sentimentos reprimidos e a violência irrompe. Maria será capaz de retornar ao seu verdadeiro eu? Ou ela acabou de descobrir quem ela realmente é? Presa no espelho, Maria só sabe chorar enquanto a maligna Airam faz tudo o que bem entende. Vingança, planos, mortes e sangue.
Não Olhe, um roteiro um tanto mal aproveitado
Se a trama tivesse sido elaborada com um pé na psicologia e na psicanálise, talvez o longa rendesse bons frutos. Daria para se analisar de forma mais interessante o que é o alter ego de uma pessoa, personalidades distintas, traumas, etc. Mas a história de Não Olhe parte mais para o lado sobrenatural da coisa.
Claro que cabe a cada um de nós digerir e interpretar o filme. Posso afirmar que não há sustos, nem tanto sangue assim. Mas o final pode deixar o público um tanto intrigado. India Eisley, a atriz que interpreta Maria, cumpre bem seu papel. Consegue nos apresentar duas versões completamente distintas de uma mesma garota. Ora triste e apagada, ora sedutora e barulhenta. Tirando os diálogos forçados com ela mesma através do espelho.
Já o restante do elenco tem pouquíssimo brilho. Mira Sorvino é uma mãe tão apagada quanto a filha. E Jason Isaacs não parece ter ensaiado muito bem suas falas. Os outros estudantes também são fracos, utilizando-se de falas automáticas e quase nada naturais. Dirigido e roteirizado por Assaf Bernstein, de A Grande Mentira, Não Olhe entrou em cartaz dia 28 de fevereiro.