A Maldição de Sharon Tate – Explorando a morte
Sharon Tate (Hilary Duff) está grávida de seu primeiro filho com o cineasta Roman Polanski e, enquanto o marido termina o roteiro de seu próximo filme em Londres, ela e alguns amigos passam um tempo na casa de Cielo Drive, em Los Angeles.
Sharon, então, começa a ter pesadelos com um grupo de assassinos que entram na casa e matam ela e seus amigos de maneira brutal. Cada vez mais assustada, ela passa a achar que os sonhos, na verdade, são premonições.
A Maldição de Sharon Tate é um filme de ficção inspirado no caso real do assassinato de Sharon Tate, Abigail Folger, Wojciech Frykowski, Jay Sebring e Steven Parent.
O caso real
O filme usa como inspiração alguns dos assassinatos da família Manson acontecidos no ano de 1969. No dia 9 de agosto, Tex Watson, Susan Atkins, Linda Kasabian e Patricia Krenwinkel entraram na casa de Cielo Drive, onde Sharon, Abigail, Wojciech e Jay estavam passando um tempo e mataram os quatro e mais o jovem Steven Parent, que era amigo do caseiro e só estava de passagem. Sharon estava grávida de oito meses e foi esfaqueada dezesseis vezes.
Na noite seguinte, Tex, Susan, Linda, Patricia, Leslie Van Houten e Steve Grogan, comandados por Manson, entraram na casa de Leno e Rosemary LaBianca, onde mataram o casal. Os crimes ganharam notoriedade rapidamente, principalmente em função da violência, mas também porque eles trouxeram, simbolicamente, um fim à era hippie. Mas eles só foram desvendados quando Susan Atkins, presa por outro crime, começou a se vangloriar para uma colega de cela sobre a sua participação nos assassinatos do caso Tate – LaBianca.
Os assassinatos da família Manson ganharam uma aura de mistério que os relacionava a uma suposta seita que acreditava em uma guerra entre brancos e negros, mas existem teorias que acreditam que ele queria apenas vingança contra o proprietário da casa, Terry Melcher, produtor musical que tinha recusado as composições de Manson e que tinha alugado sua casa para Polanski e Tate, ou que ele queria desviar a atenção da polícia de outros crimes relacionados a drogas que ele tinha cometido.
O que interessa é que o caso Tate – LaBianca se tornou um dos mais famosos do mundo e é até hoje comentado, tanto que já foi tema de livros, séries e filmes, como Era uma Vez em… Hollywood, As Discípulas de Charles Manson e Helter Skelter. A Maldição de Sharon Tate é mais uma tentativa de explorar ainda mais o caso.
Um filme de terror
Se os outros filmes sobre a família Manson e seus crimes tem a intenção de retratar o que de fato aconteceu, A Maldição de Sharon Tate segue outros caminhos. O longa é um filme de terror que recorre ao sobrenatural para fazer um reconto bem ficcionalizado do caso.
Aqui, Sharon, grávida de oito meses, espera o retorno de Roman Polanski com seu ex-namorado, Jay Sebring (Jonathan Bennett), o amigo de infância de Polanski, Wojciech Frykowski (Pawel Szajda) e sua namorada, a herdeira do café, Abigail Folger (Lydia Hearst), quando começa a ter sonhos estranhos e cada vez mais assustadores, onde ela e os amigos são assassinatos de maneira brutal dentro de Cielo Drive.
Sharon até conta isso para seus amigos, que não a levam a sério e acreditam que é só paranoia e estresse em função da gravidez já em estado avançado. Não demora para que a realidade comece a se misturar com a fantasia e que nem Sharon e nem o telespectador saiba exatamente o que está acontecendo.
Os sonhos de Sharon retratam os assassinatos reais de maneira relativamente fiel, mas não existe nenhum registro de que ela tenha tido sonhos premonitórios, uma vez que todas as pessoas envolvidas nessa história estão mortas. Quando o filme mergulha nas suas alucinações e deixa de retratar aspectos reais, ele vai ficando cada vez mais confuso. Talvez a ideia seja que o telespectador se sinta tão confuso quanto a própria Sharon, mas as alucinações não são nada assustadoras.
A intenção é ser um filme assustador e, para isso, usa de vários aspectos comuns em filmes de terror, mas esquece do que é realmente assustador em toda essa história: o caso real.
Exploração
A Maldição de Sharon Tate, no entanto, soa como uma exploração de um evento bárbaro e terrível. Em maior ou menor medida, pode-se dizer que todos os filmes que retratam – e muitas vezes, glamourizam – serial killers e crimes reais são explorações de momentos terríveis, mas quando o filme tem como intenção retratar a história real, ele tem um ar um pouco menos apelativo.
Não é o que acontece em A Maldição de Sharon Tate, que prefere transformar em terror uma história que já é mais assustadora do que qualquer filme de terror. A ideia não passa muito longe do aclamado Era uma Vez em… Hollywood mas, como o segundo é bem melhor executado, ele desce melhor.
O filme poderia facilmente ter abordado os crimes reais, mas como isso soaria repetitivo, uma vez que existem várias obras que já o fazem, ele prefere seguir outros caminhos, que não fazem o menor sentido e tiram a potência da história real. O longa também nos faz questionar o quanto é justo e razoável explorar um crime como este da família Manson, com o único intuito de divertir e assustar o público, sem passar nenhuma informação. De maneira geral, o filme só soa de mau gosto.
Aspectos técnicos de A Maldição de Sharon Tate
A ideia é usar fatos reais para contar uma história ficcional e, para isso, o longa propõe e especula alguns sonhos premonitórios que Sharon Tate estaria tendo dias antes de seu assassinato. Ao longo da trama, que mistura sonho e vida real, ficção e realidade, o roteiro também imagina outros acontecimentos diferentes.
A Maldição de Sharon Tate é, de forma geral, um filme simples, que não emplaca. Sua trama é fraca, ele quase não tem momentos assustadores e soa, para dizer o mínimo, desrespeitoso com as vítimas e seus familiares. Existem muitos filmes sobre os crimes da família Manson e é natural que exista curiosidade sobre o assunto. Essa, no entanto, é uma tentativa de fazer um filme de terror em cima de um acontecimento brutal e terrível, que tirou a vida de cinco pessoas e do bebê não nascido de Tate e Polanski.
Hilary Duff até está bem caracterizada como Tate e seus figurinos são praticamente iguais às roupas que vemos Sharon usando em fotos, mas ela não é uma grande atriz e, assim como acontece com Margot Robbie em Era uma Vez em… Hollywood, ela cai na saída fácil de supor que a personalidade de Tate era igual à das personagens ingênuas e bobinhas que ela costumava interpretar.
A Maldição de Sharon Tate não assusta e ainda faz o telespectador se perguntar: precisamos mesmo de mais um filme sobre o caso Tate – LaBianca e, mais ainda, precisamos de um que banaliza assassinatos brutais e terríveis?