A Possessão de Mary, a derrocada de uma família
Em A Possessão de Mary, David (Gary Oldman) é um capitão que deseja melhorar a situação de sua família. Em um momento de impulso ele compra um barco abandonado em um leilão, simplesmente porque sente uma forte atração pelo objeto. Sua esposa, Sarah (Emily Mortimer) não fica nada feliz com a compra, mas resolve ajudar David na primeira viagem do barco, batizado de Mary.
David, Sarah, as duas filhas (Stefanie Scott e Chloe Perrin), Mike (Manuel García-Rulfo), um amigo da família e Tommy (Owen Teague), o ajudante de David, resolvem participar da viagem. Mas tudo muda quando coisas sinistras começam a acontecer no barco. Primeiro Tommy começa a se comportar de maneira violenta, e depois Mary, a filha mais nova do casal se torna silenciosa e soturna, embora ainda converse, aparentemente, sozinha.
A Possessão de Mary, o barco
O filme tem uma premissa, pelo menos a principal, relativamente original e que o diferencia de outros filmes de terror. Primeiro de tudo, o filme se passa em um barco, o que soa como um bom cenário para uma trama que exige que o espectador se sinta tenso, aterrorizado e claro, claustrofóbico, afinal, não tem como escapar de um barco que está em alto mar sem se jogar na água e então, enfrentar outros perigos. Além disso, o que está assombrado em A Possessão de Mary é justamente o barco.
Mas, óbvio que essa inovação não se segura até o final, já que o filme logo apela para diversos clichês do gênero, como jump scares, portas que se fecham sozinhas, pessoas que passam a se comportar de maneira estranha e claro, a criança que consegue se comunicar e não se assustar, com o personagem sobrenatural do filme.
Os clichês por si só, não são um problema, mas sim sua execução. Naturalmente que eles são óbvios, especialmente para quem assiste filmes do gênero com frequência, então, não é realmente surpreendente ou assustador quando vultos começam a aparecer no fundo da tela ou quando as portas do barco começam a bater. O fato dos efeitos também não serem muito bem-feitos também não ajuda em nada o filme.
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O fantasma que assombra o navio é claramente uma moça maquiada e despenteada, e não tem nada de incrivelmente assustador nisso. Claro que A Possessão de Mary ganha pontos com o seu cenário. O fato da família estar presa em um barco em alto mar é assustador, até mais assustador que o próprio fantasma. As acomodações dentro do barco são pequenas e escuras, o que aumenta ainda mais a sensação de claustrofobia.
A família
O tema de pano de fundo é a família de David. Embora eles pareçam muito unidos, vamos descobrindo com o tempo que não é bem assim. David e Sarah não estão nos melhores termos e o casamento já não é mais como antes. Lindsey, a filha mais velha, está apaixonada por Tommy, o que não agrada totalmente seus pais.
Todas essas situações, que são comuns e até naturais dentro do núcleo de qualquer família, ganham dimensões maiores quando essas pessoas se encontram dentro de um barco e são obrigadas a conviverem e se esbarrarem diariamente.
Claro que a assombração que ronda Mary também tem influência sobre a família e todos esses pequenos conflitos vão se alastrando. Como na tradição dos filmes de terror, como O Iluminado e O Juízo, os personagens começam a ser afetados pela energia do local. Essa é uma predisposição que se faz notar primeiro na filha mais nova, Mary, que consegue conversar com a mulher fantasma e que não tem medo dela. A partir daí, o publico já sabe o que esperar. Essa família está fadada ao fracasso, assim como a viagem que eles tentam fazer.
Aspectos técnicos de A Possessão de Mary
Este é um filme de terror que não tem muita ousadia, não sai da mesmice do gênero e nem parece propor uma ideia mais abrangente ou mais subjetiva para o que acontece na tela. Isso não é exatamente um problema, uma vez que essa parece mesmo ser a ideia por trás do filme e que ele poderia ser um terror clichê com bons momentos.
Entretanto, o filme abusa das fórmulas, já batidas, dos filmes de terror e por isso, é previsível, seja nos seus sustos, seja na sua trama, seja até nas suas revelações. Os efeitos também não são muito bem trabalhados, o que prejudica o filme, porque se ele nos apresentasse cenas de fato assustadoras, o longa funcionaria de certa maneira, mesmo sendo um filme óbvio.
O elenco também não parece se esforçar muito, como se fizesse tudo no modo automático. Não há nenhuma atuação terrivelmente ruim, mas nada que salte aos olhos também.
A grande questão é que não é exatamente um filme assustador. Existem algumas cenas sinistras e um ar claustrofóbico, mas nada que assuste de fato. E nem os jump scares fazem a plateia pular na cadeira. A impressão que se tem quando se assiste ao longa é que ele foi pensado para levar os fãs de terror ao cinema, no entanto, uma vez que ele é um tanto óbvio e que os fãs do gênero estão mais do que acostumados com as artimanhas do terror, a tendência é que o filme não agrade nem esse público.
A Possessão de Mary é um filme de terror que tem uma premissa interessante, mas que não se dá ao trabalho de inovar ou de sair da zona de conforto. O filme entra em cartaz hoje, dia 23 de janeiro.